Ocupe-se!

25.9.12
É saudável e desejável sentirmos medo, porque o medo, meus amigos e minhas amigas, pode salvar-nos a vida, mas isso já todos sabemos. E também sabemos que, apesar disso, jamais nos podemos deixar dominar por ele, porque uma vez aí, então, acabou-se. Deixamos de viver. Ponto. No meu caso específico, e não sei porque preciso de especificar que é o meu caso, quando é evidente que é disso que se trata, mas, enfim, continuemos, fico doente. Verídico. Quando sou acometida pelo medo, fico doente. Penso, agora é que vai ser, vou para a piscina, vou gozar uma espécie de férias e depois começar de novo, comprar meias. Mas se calhar o Nicolau não devia ter ido para creche, eu (ainda) não tenho um emprego que o justifique; e se nas duas semanas em que estou sozinha com os três acontece alguma coisa; se calhar temos coisas a mais para a casa mais pequena para onde vamos viver; esta cidade (este país, este mundo?) está cheia de gente desesperada, capaz de uma loucura qualquer, como o rapaz em tronco nu, ao meu lado nas escadas, aos gritos para o oficial da polícia: "EU ESTOU FARTO DESTE PAÍS DE MERDA QUE NÃO ME DÁ ALTERNATIVAS. EU SOU UMA GAJO CALMO, MAS JÁ NÃO DÁ PARA ESTAR CALMO".
Onde é que eu ia agora mesmo? Ah, ao hospital, outra vez, porque a garganta está a apertar e disseram que tinha de voltar se a garganta apertasse. Por favor, depressa senhor taxista que estou sem ar, vou desmaiar aqui se não se despacha (ainda bem que não o disse em voz alta); já no balcão admissão de doentes: são 20€, diz o rapaz giro, e eu faço contas de cabeça, com estes 20 já somei 60 euros à conta de uma estúpida reacção alérgica; E depois, depois o melhor médico de todos o tempos: "Está tudo bem consigo, não lhe vou fazer nada. Ocupe-se, não pense mais nisto".

6 comentários:

  1. Também começo a sentir um certo receio, confesso, não sei se é de se ocupar ou não, mas de facto é preciso fazer alguma coisa - mas tem que se pensar primeiro - afinal de contas temos que saber para onde vamos, senão é deitar a baixo por deitar a baixo e depois de tanto medo, fica tudo na mesma. Ando de um lado para outro à procura da melhor alternativa. Tem que haver. Tem que haver.

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  2. Eu estive aí pouco tempo (3 anos) até que me apercebi como é viver aí (a situação ainda não estava tão grave) e comecei a ficar com medo também, especialmente pelos meus filhos. Felizmente eu tinha outra opção e não me arrependi nem um segundo de ter deixado o país onde nasci. Agora consigo dormir sem acordar a meio da noite com um aperto no peito. Apesar de aqui não ser tudo perfeito, estou mais descansada :o).
    Beijinho grande e as melhoras

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  3. Toda a gente anda angustiada com as suas escolhas e falta de escolhas, deixa lá. Vai lá para a tua natação. O que for, será. E se puder ajudar com alguma coisa, apita!

    (mas não desvalorizes sintomas! deixa lá os médicos chamarem-nos mariquinhas, nunca desvalorizes um mau estar)

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  4. As melhoras!... também andei pelo hospital, os meus filhotes com asma e bronquite, uma noite internados, paguei, reclamei para mim própria que em Portugal as crianças não pagam, mas foi a única vantagem que me ocorreu... tenho saudades, também tenho medo, mas não volto! Esta semana fui comprar lã e comecei a tricotar numa casa vazia e silenciosa, eu, que sempre senti tanta revolta, que sempre protestei, estou calma...

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    1. Talvez não paguem o hospital mas pagam medicamentos e não era pouco por mês :-(

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  5. Daqui a quinze dias isso passsa...

    (é a frase-consolo-sossega-que-a-coisa-melhora do meu pai, desde que eu sou pequena. e resulta(va)...)

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