Da maternidade 2

14.1.11
Aqui há dias cruzei-me com uma amiga de uma amiga que ao ver-me grávida outra vez exclamava meia incrédula: "Incrível, mas tu nasceste para isto!" E eu a olhar para ela e a dizer "vê lá tu que eu pensei que vinha para Lisboa catapultar a minha carreira e afinal não faço mais nada a não ser parir" (não deve ter sido bem com estas palavras, porque eu nunca digo catapultar) e ao mesmo tempo a pensar "nasci? eu não acho grande piada a isto, eu nem sei bem o que é isto".
E depois, claro, fiquei a matutar nisso, como já não o fazia desde os tempos em que gritava à minha mãe "EU NÃO PEDI PARA NASCER" e batia com as portas e apanhava no focinho.
Ora, segundo ela, a minha mãe, eu nasci, como toda a gente, para sofrer e depois ser feliz na outra vida, na que é eterna. Eu tenho sérias dúvidas que algum dia venha a descobrir para que nasci, ou a conseguir explicar porque sempre quis ter filhos, mas quando penso nisso mais profundamente chego a algumas conclusões que, altruisticamente, passo a partilhar:

1) Ter filhos com alguém é uma prova de amor.
2) São a única coisa de definitivo que tenho na vida. Serei para sempre mãe deles, mesmo depois de morta.
3) São a melhor parte de mim.
4) Não sou melhor pessoa por ser mãe.
5) E, então, enquanto cuidadora deles a tempo inteiro sou mesmo uma pessoa fastidiosa, intratável, mesquinha, aborrecida, deprimida e chata.
6) Posso até ser boa mãe, que me parece que sou, mas não posso dizer o mesmo sobre ser uma boa educadora.

E é isso.

8 comentários:

  1. 1.Não sou mãe ainda mas quero muito ser, e não posso fazer - nem que me esforçasse - a mais pequena ideia do que é estar no teu lugar. 2.As melhores pessoas que conheço têm algumas senão todas as características que te atribuiste, não necessariamente pela mesma ordem. 3. Não te conheço pessoalmente mas este blog é um dos meus preferidos, mesmo sem fotos dos rebentos, dos passeios, das tartes, dos animais de estimação e dos crafts, o que me deixa descansar o olhar e ter um pouco menos de pena de não ser a super-mulher. 4.Podes ter muitas características mas conheço pouca gente menos chata, aborrecida e fastidiosa do que a tua pessoa. 5.Ora aí está.

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  2. Ter filhos com alguém é A prova de amor. Além disso, depois de os termos, ficamos descansados porque se não fizermos mais nada de jeito na vida, pelo menos fizemos uma pessoa e isso é estrondosamente brutal e fantástico, de tal maneira que ficamos sempre atordoados e um pouco incrédulos connosco mesmos. Também não sou uma pessoa melhor por ser mãe, mas sou mais consciente de mim, das minhas falhas e das minhas capacidades, por isso sou mais lúcida e um pouco mais angustiada por isso. Concordo totalmente com o ponto 5), mesmo sem ser cuidadora a tempo inteiro. E quanto a ser boa educadora, a minha selvagem fala pelo meu total falhanço em incutir hábitos. Consigo que coma coisas saudáveis e que vá dormindo mais ou menos. Parece-me uma menina muito feliz e com isso dou por encerrada a questão.

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  3. Interrompo o meu habitual silêncio para te atirar à cara que és uma GRANDESSÍSSIMA educadora. Ou isso ou a B. é uma fora de série. Todas as outras crianças num raio de milhares e milhares de quilómetros fazem birras, cenas e outras coisas próximas do cinema de terror, enquanto da B., confesso, só tenho memórias maravilhosas.
    Ou seja: quando não desistes, podes ser mesmo muito boa a fazer coisas. Ou filhos, vá.
    *** violinos ***

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  4. ora, pois. de modos que nao tenho mais nada a dizer... mais uma vez. a doce ilusão da maternidade é essa - é maravilhoso como outra coisa não há, mas é um maravilhoso que nos arrasa todos os dias.

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  5. (é com muita tristeza que digo que as minhas filhas conseguiram já várias vezes fazer cenas de bradar aos céus, em público. ***violinos estridentemente chorosos***)

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  6. "5) E, então, enquanto cuidadora deles a tempo inteiro sou mesmo uma pessoa fastidiosa, intratável, mesquinha, aborrecida, deprimida e chata." - a sério, moça, mais nada???

    (és uma auto-cubista)

    Beijos, anda para aqui. O que eu precisava mesmo agora era de ter um ombro intratável e, principalmente, mesquinho para me encostar, pode ser?

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  7. Caríssimas, muito obrigada pelas vossas palavras, ia ficando comovida a sério :). Ouvi os violinos e tudo, Inês.

    As birras não são o melhor indicador da boa/má educação das crianças. A Bea nunca fez muitas, mais por mérito dela do que meu.

    E, querida Xana, por acaso esqueci-me de "paranóica" :) Eu sei que gostas muito de mim, mas não estás comigo todos os dias. Ainda te deves lembrar deste meu lado intratável, não?

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  8. Adorei o auto-cubista. Xana, és grande. É provavelmente a melhor definição da Calita de sempre, eu já a tentei descrever muitas vezes, sempre profusamente e nunca sequer rocei a ponta da túnica de toda a amplitude encapsulada nesse "és uma auto-cubista", entre parêntesis. Tremendamente bem, estou toda arrepiada.

    Calita, de tudo isso que dizes de ti, pronto, está bem, é um resumo muito concentrado e denso daquilo que és um bocadinho todos os dias. Mas não és mesquinha, que isso é muito feio. se tu és mesquinha, eu mereço levar chicotadas todos os dias. Com um chicote com ponta de espinhos.

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