Às três e tal da manhã, do dia 23 de Fevereiro (sim, apontei a data), durante uma insónia que teimava em não deixar-me em paz, decidi que ia escrever um post sobre isto de fazer 50 anos. Afinal, é meio século de vida! E é muito estranho! Parece que não está a acontecer comigo, apesar de tudo indicar que sim: as insónias, as dores nas articulações, os cabelos brancos, a duração das ressacas. Ao mesmo tempo sinto muito intensamente que sim, está a acontecer comigo.
É como se o tempo ganhasse outra dimensão, tal como explica a narradora do livro de Mercè Rodereda: ''E senti muito intensamente a passagem do tempo. Não o tempo das nuvens, do sol, da chuva e da passagem das estrelas, enfeite da noite, não o tempo das primaveras dentro do tempo das primaveras, não o tempo dos outonos dentro do tempo dos outonos, não o que deposita as folhas nos ramos ou o que as arranca, não o que frisa e desfrisa e dá cor às flores, mas sim o tempo dentro de mim, o tempo que não se vê e nos amassa. O que gira e gira dentro do coração e faz girar com ele e nos vai mudando por dentro e por fora e com paciência vai-nos fazendo tal como seremos no último dia.''
Estava, então, a debater-me com a insónia, a dizer a mim própria que é óbvio que não sou velha, mas definitivamente também não sou nova, apesar de ainda ter filhos para criar, e lembrei-me daquela outra insónia. Fiquei uma eternidade a pensar no que me aconteceu aos 49 anos (que na realidade é o quinquagésimo ano de vida) sem me ocorrer nada de relevante, até me arregalar com a realidade escarrapachada ali à minha frente, nas frinchas do estore projectadas no tecto da minha infância. Sim, aos 49 anos voltei para onde tudo começou. ''Sete vezes sete quarenta e nove e voltas ao princípio a ver se aprendes o que deixaste por aprender'', ouvi-me pensar.
O que aconteceu ao 48 anos e que levou a esta reviravolta, um ano depois, foi precisarmos de vender o apartamento do Porto e decidirmos comprar uma casa na Poça da Barca. Depois, como as obras necessárias nunca mais avançavam - uma das muitas consequências da guerra da Ucrânia -, demos por nós a fazer mais uma mudança, desta vez para a minha aldeia da infância.
E aqui estou, aos 50 anos, na casa onde fui concebida (no dia 11 de Julho, como me lembra sempre a minha mãe) a pensar se haverá um propósito qualquer na série de eventos que me trouxeram até aqui, ou se a vida é só muito engraçada.
Assumindo que isto não são só casualidades da vida, é até provável que tenha vindo parar a Láundos para ver alguma coisa que me tenha escapado, mas, sinceramente, seja o que for que me empurrou tem-me em demasiada conta, está visto que eu sou péssima a ver o que está escarrapachado à minha frente.
P.S Mas a festa foi linda!
No dia 11 de Julho, dia do meu aniversário. Outra casualidade 😁
ResponderEliminarParabéns 😘
Obrigada. Adoro casualidades 😊
EliminarÉs mesmo um ser humano bonito Calita. Parabéns pelas tuas 7 vezes 7 voltas ao sol, mais uma. Que vivas esta idade bonita com muita leveza e sabedoria. Que encontres nos sincronismos da vida as resposta para viveres a magia que te está reservada. Um brinde à vida.
ResponderEliminarObrigada, Ana! 🥂
EliminarQue grandes SAUDADES de ler-te, mulher. Prepara-nos lá a casa dos cinquenta que já aí vamos ter (levo kombucha, como sabes já não dou para as ressacas). Beijinhos
ResponderEliminarOh, pá! Acabaram de me bater umas saudades daquelas (emoji emocionado que as pessoas já não sabem escrever/ler sem bonecos). Beijinhos
Eliminar