Ponto da situação

9.3.21

Faço parte do grupo de pessoas que viveram bem com o primeiro confinamento e que no segundo se está a passar. Não assim ao ponto de querer bater em pessoas (em muitas pessoas, pronto), ou rasgar todas as fitas autocolantes dos bancos dos jardins e marginais, mas, ainda assim, com vontade de tomar inibidores selectivos da recaptação da serotonina para ver se lavo o cabelo mais vezes e troco de roupa de vez em quando.

No mesmo dia vi os filmes Os Amantes e Histórias das Mulheres do Meu País. Curiosamente, tinha lido no dia anterior sobre o documentário da Rosanna Arquette Searching for Debra Winger e fiquei com vontade de saber mais acerca da actriz que nos pôs a chorar baba e ranho no Laços de Ternura. Porque,  como dizia Clara Queiroz no filme da Raquel Freire, as mulheres não são diferentes dos homens, mas têm uma história diferente. 

Encontrámos a Catrina abandonada e trouxemo-la para casa no dia 20 de Novembro de 2019 (acabei de confirmar com o Nicolau, que tem a data na ponta da língua), sobretudo por não termos conseguido dizer não a tantas súplicas, lágrimas e promessas. Escusado será dizer que é raro serem eles a levar a cadela à rua. Normalmente vai o Jaime de manhã e eu ao final do dia. Com o Jaime ela vai sem trela, comigo não. A ideia de ela se distrair e ser apanhada por um carro na estrada, deixa-me em pânico. O Jaime diz que ela não é parva e que obedece, mas já aconteceu estar num jardim sem trela e ela desaparecer a correr atrás de um cão e ignonar os meus chamados. Não vale a pena, não consigo evitar pensar em tudo o que pode correr mal. Com os miúdos é a mesma coisa. Ninguém imagina o que sofro cada vez que vou andar de bicicleta com eles e ainda hoje não sei como sobrevivi aos parques infantis, quando ia sozinha com os dois, ainda muito pequenos. A diferença é que com eles eu sei como é importante dar-lhes autonomia e disfarço. Suo muito e fico com vontade de vomitar, mas deixo andar, porque é preciso. Bom, menos quando me parece que estão quase a cair de precipícios e aí guincho que nem uma louca. Aconteceu nas Fisgas do Ermelo, no Caramulinho e no Miradouro do Cervo, só para dar alguns exemplos. Com a cadela não vejo necessidade de stressar, vai de trela, não tenho nada para lhe ensinar. 

Estamos todos em contagem decrescente para saber se as aulas presenciais recomeçam para a semana. Há uma vaga hipótese de as escolas abrirem para o ensino básico, além das creches e pré-escolar. Continuo admirada com a resilência de professores e alunos, mas não deixa de ser óbvio que isto é muito mau para todos.

Todos os meus planos de tentar ter uma alimentação saudável e organizar cenas foram por água abaixo.

Às vezes sonho que estou no estrangeiro, no meio de pessoas sem máscara. Um dia estava numa rua de Dehli com milhares de pessoas a respirarem umas para cima das outras, no outro a beber copos em Tóquio (nunca estive em nenhuma destas cidades).

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