O mais importante

24.9.20

Respondi a uma mensagem do Jaime que tinha almoçado bacalhau, mais especificamente ''uma badana desenxabida'', porque não tinha a consistência certa, nem o sal necessário. Enquanto a mensagem seguia o seu destino eu seguia em direcção à minha infância, ao sítio onde os termos badana e desenxabida eram proferidos frequentemente. 

Muitos de nós cresceram em casas onde a cozinha era o centro de tudo, mesmo nas casas, como a minha, em que não se cozinhava nada de especial. Ainda assim, enterneci-me e espantei-me com a proximidade da minha infância. Mas, a alimentação, essa eterna prioridade dos seres humanos, continua a governar a minha existência daí, talvez, não ser tão estranha a rapidez com que chego às cozinhas de outros tempos. 

E se é na cozinha que procuro alguma ordem na minha vida, ao ponto de ficar desorientada se não jantar sempre à mesma hora, é noutras pequenas coisas que me concentro para controlar a ansiedade (quando não bebo): na camisola que estou a tricotar, nos vasos, no silêncio.

Algumas pessoas dirão que isso é valorizar o que é mais importante. Não é. As plantas crescem sem mim, a camisola é só mais uma camisola e o silêncio, bom, o silêncio é uma preciosidade fácil de encontrar para quem o procura.

O mais importante é que gostem de mim e isso tenho valorizado muito pouco.

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