Dia #5

17.3.20
Sabem aquela cena de aproveitar a quarentena para ler, escrever, estar com a família e outras coisas assim giras? É uma falácia. Podem fazer isso tudo, é bom que façam (eu estou a planear aprender guitarra em 21 dias, mandar vir um kit da retrosaria, finalmente, e ficar tonificada com exercícios do youtube), mas não esperem fazer tudo o que planeiam, ou sentirem que isto era tudo o que esperavam e/ou precisavam, caso consigam. Quer dizer, pode acontecer, mas vai demorar, provavelmente, até recomeçarem a vida que tinham antes. Como é que sei? Porque eu, e muitas outras pessoas, já estiveram em quarentena em alguns períodos da vida, isto é, em licença de maternidade. É verdade que podemos receber visitas (mesmo que não nos apeteça), sair para um passeio (mesmo que o ar pareça demasiado rarefeito) e estar com amigos (mesmo que nos olhem desconcertados, não sabemos se pelo nosso ar, se pelos gritos da cria), mas não tenham dúvidas, os primeiros dois meses de um bebé (ou dois anos), sobretudo se for o primeiro filho, são uma quarentena. Porque a única coisa que conseguimos ver e ouvir claramente é o bebé, o resto está tudo envolto numa névoa, está como que noutra dimensão. Também pode ser que estejamos com depressão pós-parto, mas isso é outra história.
Além disso, eu sou igual ao Tyrion Lannister, sabem? ''Eu bebo vinho e sei coisas''. Portanto, vai haver muita gente a mostrar as cenas incríveis que está a fazer em casa, com filhos e sem filhos, vai haver quem se queixe (menos, porque essas pessoas estão em tele-trabalho e têm mais o que fazer), mas ninguém vai dizer toda a verdade. Portanto, façam o que vos der na real gana, sem deixar de seguir todas as recomendações, e não se preocupem.
Eu não sei como temos sido convencidos a fazer o que não gostamos para conseguir atingir os nossos objectivos, que nem sequer são os nossos, na maior parte dos casos. Mas é assim que temos vivido.
Por isso façam o que vos apetecer, dentro das vossas possibilidades, e se mesmo assim ficarem com uma depressão pós-crise, tratem-se (eu sei que não estou a ser coerente com aquilo de não estar aqui para ajudar, mas deixem-me ser neurótica, ok?).
Agora vou comer uma tosta mista, beber um copo de vinho (espero que seja só um) e ver um filme.

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