Fugir

5.12.18
Aqui na Póvoa de Varzim (a cidade mais próxima da aldeia onde cresci, e onde frequentei a escola do 7.º ao 12.º ano, e onde estive internada duas vezes no hospital com pneumonia, e onde frequentei durante anos o dispensário juntamente com velhinhos tuberculosos, e onde quase me afoguei no mar) existe uma espécie de fascínio pela morte, que me faz lembrar Timor- Leste.
Quando nos mudámos, a minha filha não se cansava de perguntar porque raio viemos para um sítio parecido com Díli e eu achei que ela estava louca, tirando talvez a relação da cidade com o mar, só que sou obrigada a dar-lhe alguma razão. 
Mas falava do fascínio pela morte, que deve ser qualquer coisa parecida com a atracção pelo abismo.  Por todo o lado vêem-se afixados anúncios de necrologia. Deve haver poucas ruas por aqui sem um café, uma loja, ou tapumes de obras com um destes avisos colados. E isso até poderia passar mais ou menos despercebido a quem anda na rua metido nos seus pensamentos não se desse o caso de muita gente parar a ler e comentar com quem está ao lado. 
É claro que uma pessoa acaba por se habituar a conviver com a morte todos os dias e, às vezes, ocorre-me que sempre quis viver em cidades grandes para fugir desta convivência. E fugir tem as suas vantagens mas parece que não se foge para sempre. 

Sem comentários:

Enviar um comentário