Uma vida simples

9.12.15
 Alguns dos envelopes que já saíram do calendário do advento, pendurado na parede da sala



Casas típicas timorenses, a caminho de Same, depois de Laclúber

Fizemos o calendário. Optei por uma coisa simples mas entre recortar e colar 24 envelopes e depois fazer uns quantos de novo, porque se enganavam a escrever os números, a coisa revelou-se bastante trabalhosa.
Além disso, nem sempre sei o que pôr lá dentro. Supostamente estaria um papelinho com a prenda do dia (um passeio, um chocolate, uma história sobre o Natal, etc.), mas já houve dias em que foram corridos a uma nota de um dólar, moedas de 25 cêntimos e figuras recortadas.
No fim de semana que passou (que só terminou ontem, porque na segunda-feira também foi feriado aqui) estivemos fora e, portanto, hoje foi preciso inventar uns quantos papelinhos para encher os envelopes, e também foi preciso inventar uma desculpa esfarrapada para o facto de alguns deles estarem vazios.
Resumindo, o calendário do advento só não é um flop, porque eles ficam todos satisfeitos com coisas tão simples como um coração de papel.

As coisas simples, ou uma vida mais simples foi o que mais nos motivou a vir viver para aqui, mas a verdade é que temos esta tendência incrível em complicar, com calendários de advento, por exemplo.
Depois das viagens que fizemos por Timor*, disse aqui em casa que gostava de saber, na pele, como é viver numa daquelas casas típicas timorenses que vimos um pouco por todo o país. Gostava de saber como é viver sem quase nada. Suspeito que desistiria assim que estivesse com o período. Parecendo que não, a casa de banho moderna é uma belíssima invenção. Deveríamos saber quem se lembrou disso.

Seja como for, olho para aquelas casas e imagino que poderia arranjar uma forma de viver confortavelmente. Talvez com uns paneis solares para ter electricidade e uma casa de banho aceitável. O amor e uma cabana é isto, certo?
Enfim, depois desta conversa fiquei a saber que a minha família acha muito bem desde que eu vá sozinha. Talvez vá. Temporariamente.

*Os meus passeios por Timor deram um artigo na FUGAS.

4 comentários:

  1. Experimentei com a familia toda, varios dias e varias vezes, o ano passado. Nas primeiras vezes foi duro, porque o conforto entranha-se e é dificil acreditarmos que somos apenas seres-humanos. Mas depois, com o tempo, as coisas tornam-se simples, não percebemos porque gastamos tanta agua e sabão, porque é que os cheiros humanos nos causam tanta impressão. Qual é o problema de se fazer o que se tem a fazer num buraco, que cheira ao que naturalmente deitamos fora, com animais e insectos a... (não vou entrar em detalhes). E a electricidade serve para quê mesmo ?
    Andamos presos (uns a trabalhar, outros a pensar nem sei em quê) a necessidades vitais, que são muitissimo superficiais.
    A unica coisa que realmente precisamos é de um sistema de saude que funcione, isso sim. Vi coisas que não são bonitas de se ver e que eram perfeitamente evitaveis. E ai sim, percebi como temos sorte.
    E escolas, claro.

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    1. É exactamente isso. O conforto a que nos habituamos é muito bom, claro, e deveria ser acessível a toda a humanidade, mas parece-me que não precisamos de metade do conforto que achamos que precisamos.

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  2. (desde que possa beber vinho, de vez em quando)

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    1. Também te podes habituar a beber outras coisas mais locais.
      O ser-humano é um poço de adaptação inesgotavel. Eu não bebi vinho durante todo o tempo que estive na Asia. Sobrevivi. (Nem sequer me apetecia, para dizer a verdade).

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