No fundo, eu sou a Paris Hilton

30.7.15
Tenho andado muito ocupada com as arrumações da casa, como se nota, e tenho dado por mim envolta em nostalgias estranhas, do género: "é a última vez que estendo roupa neste estendal (suspiro)", ou, "amanhã é a última vez que os meninos tomam banho nesta casa (suspiro)", e "só vou subir e descer estes três andares, que parecem seis, mais meia dúzia de vezes" (suspiro, ou melhor, yupiiiiiii!).
Enfim, esse tipo de coisas e mais as outras que nos assaltam o pensamento quando estamos a fazer actividades mecânicas e aborrecidas.
A mim, por exemplo, acontece-me pensar que preciso de perder barriga, e que tenho de comprar um dente (o pré-molar que parti na passagem de ano 2013), e que se houvesse uma forma de levantar as mamas é que era. Depois, pergunto-me a que propósito e, por mais que queira culpar a sociedade, os estereótipos, a modernidade, a frivolidade, e sei lá quantas mais coisas acabadas em "dade", a verdade é que uma parte de mim gosta de ser objecto de desejo, de cobiça. É um bocadinho parvo, eu sei, apesar de natural, no sentido em que faz parte do ser humano querer ser desejado - os bebés são adoráveis por uma questão de sobrevivência, ponto.
É um bocadinho parvo, dizia, porque eu não preciso propriamente de "arranjar marido", e não faz parte de mim precisar de atributos físicos para me sentir valorizada como pessoa, mas a verdade é que é para aí que o meu pensamento corre, quando se liberta nas tarefas mecânicas.
Acho que é por isso que os exercícios de escrita automática sempre me aterrorizaram. No fundo, no fundo eu sou a Paris Hilton.

4 comentários:

  1. quando fores lá para longe, por favor não deixes de (nos) escrever

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  2. Mas quem é que não gosta de ver um olhar que não se desvia? isso alimenta o ego e faz-nos ganhar o dia

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