Força Maior

18.5.15
A primeira vez que li sobre o filme foi no sítio das Senhoras da nossa idade e fiquei logo em pulgas. Eu perco tempos infindáveis à procura "DO" momento em que tudo mudou na minha vida, muito por causa do meu complexo Walter Mitty, suponho. Deve ser tão confortável conseguir identificar o acontecimento que nos fez seguir determinado caminho, em vez de outro.
O mais certo é inventarmos esse momento, não acredito que seja possível dizer com toda a certeza que foi no dia tal, em tal sítio, a xis horas, que a nossa vida levou uma volta de não sei quantos graus, ou ficou de pernas para o ar. É óbvio que há momentos que nos marcam para sempre mas não temos forma de o precisar, ou temos?
Por exemplo, eu sei que a seguir ao dia em que me vieram dizer "o teu pai está morto", muita coisa mudou. Foi no dia 23 de Agosto, por volta da uma da manhã. Foi horrível, claro. Mas também foi horrível o funeral. Foi horrível ver o meu avô ao lado do caixão do filho. Foi horrível ver a minha mãe na cama semanas a fio. Foi horrível fazerem-me sentir mal por não usar um lenço na cabeça (juro). Foi horrível dizerem-me que tinha de sair da escola para ir trabalhar (eu tinha 13 anos). Foi horrível ter passado um ano numa fábrica em estado catatónico. Foi horrível não ter sabido partilhar a dor.
E assim de  repente parece que estou a contradizer-me, que é óbvio que "O" momento é facilmente identificável, mas não é bem assim. Poderia ter-se dado o caso de a morte do meu pai não ter sido procedida dos acontecimentos que relato e tudo teria sido diferente, certo? Pois, não há forma de saber.
Como não há forma de saber porque é que acho que estou num desses momentos em que tenho de escolher um caminho, mesmo não estando perante qualquer encruzilhada, tipo, "minha menina está na altura de te deixares de merdas e fazeres-te à vida, ou então, toma um chá, lê mais um conto da Dorothy Parker e vai dormir"

2 comentários:

  1. Identifico alguns momentos chave na minha vida, em que tenho absoluta certeza que tudo mudou a partir daquele preciso ponto e sobretudo que tudo teria sido muito diferente, fosse o que fosse, se "aquela coisa" não tivesse acontecido. É certo que os acontecimentos posteriores poderiam contar uma história diferente muito além daquele momento, mas constituíram de tal forma pontos de viragem que não deixo de os considerar como tal.

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  2. Identificamos os momentos de mudança que nos apetecer. A mudança não está no momento em si mas na nossa necessidade de mudar e apanhar ali o barco (mas isto sou eu a falar, que não acredito no destino).
    O filme: o pai era tão totó que me apetecia bater-lhe.
    A Dorothy Parker: mais uma para os A Ler. Não dou vazão, pá, não dou vazão.

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