As gajas devem estar loucas

1.3.15
Recebi uma mensagem sobre o projecto da Aida e pensei: "Outra vez as mulheres. Queres ver que o feminismo vai virar moda e vamos ter barbearias para feministas; colecções Primavera/Verão para mulheres que lutam pela igualdade de direitos; promoções para conseguir o look Frida khalo (estou tão à frente, com as minhas sobrancelhas e farto buço!); capas de jornais de referência com mamas descaídas ou, melhor ainda, lábios de pipis descaídos; mães a invadir restaurantes finos com as crias a mamarem das suas tetas, ao lado de mães que não amamentam por variadíssimas razões, etc. etc."
Isto tudo em milésimos de segundos, porque a cena da livraria de mulheres começou como que a explodir fogo de artifício na minha cabeça. Assim de repente, uma livraria de mulheres seria o local privilegiado para, finalmente, elaborar a minha lista de escritoras que tiveram filhos e tentar perceber qual o papel da maternidade na sua escrita. Ou, simplesmente, ter acesso a livros escritos por mulheres que nas livrarias generalistas normalmente não se tem.
Também há livros escritos por homens que não se encontram nas livrarias generalista, pois claro, mas não se vai abrir uma livraria de homens, por causa disso, pois não? Talvez, daqui a uma centena de anos, quando estiverem em minoria entre os clássicos da literatura.
Voltando à livraria, li tudo o que havia para ler sobre a Confraria Vermelha e fui ouvir a Aida na apresentação do projecto, aqui em Lisboa. E que marabilha foi ouvir a parte que ouvi (tive de sair a meio). É impossível não ficar grudada na Aida, não só pela forma como fala, e juro que não tem nada a ver com a pronúncia, apesar de assumir que, desde que vivo na capital, quase tenho orgasmos quando me falam em portuense, ou como conta histórias mas, sobretudo, pela notória paixão que nutre pelo sonho que persegue há alguns anos.
Se puderem, contribuam na campanha de crowdfunding, porque eu queria muito ter uma livraria destas em Portugal (há cerca de 50 espalhadas pelo mundo). Não que o vosso dinheiro deva ser aplicado na concretização dos meus desejos, obviamente, mas ao fim e ao cabo é uma razão como outra qualquer para gastarem cinco euros bem gastos.

Mas há uma razão ainda mais egocêntrica para falar sobre isto. É que a Aida costuma exemplificar a necessidade de uma livraria deste género com um jogo que consiste em dar uma lista de mais de uma centena de escritoras e propõe que indiquemos dez que conhecemos bem, mesmo que não tenhamos lido nada delas. Depois, dessas dez devemos identificar cinco, cuja obra conhecemos, ou que tenhamos lido alguma coisa.
Primeiro, fiquei em estado de choque com o número de escritoras que não conheço. Depois, ao identificar as que conheço e as que já li (a negrito) fiquei a sentir-me menos mal:


Amos Oz
Anaïs Nin
Annemarie Schwarzenbach
Clarice Lispector
Elisabeth Badinter
Hilda Hilst
Jane Austen
Judith Butler
Lena Dunham
Lucía Etxebarría
Lygia Fagundes Teles
Malala Yousafzai
Marguerite Duras
Maria Teresa Horta
Marguerite Yourcenar
Marie Darrieussecq
Mary Shelley
Nadine Gordimer
Natália Correia
Sylvia Plath
Tina Fey
Virginia Woolf

Entretanto contactei a Aida e perguntei-lhe porque é que a Doris Lessing não estava na lista e ela respondeu-me assim:

«Porque é uma pequena e breve lista... hihhihih e vão sempre faltar nomes!

A ideia é que que cada uma vá acrescentando nomes e mais nomes e essa pequena lista cresça até ao infinito.

É uma pequena lista para...:
1. ...que algumas pessoas se apercebam de que conhecem poucas escritoras,
2. ...que algumas pessoas se apercebam que leram poucas escritoras
3. ... que algumas pessoas (como tu) se apercebam que faltam nomes e sintam vontade de os acrescentar.

Essa lista é como o aperitivo antes do prato principal... é só o começo dos muitos nomes que podemos encontrar numa livraria de mulheres, por exemplo.

Um dos meus livros favoritos é dela "Gatos e mais gatos"  Recomendo a leitura principalmente se para além de ler também adoras gatos.»


11 comentários:

  1. Amos Oz é mulher?
    (por acaso agora fiquei a pensar: Jan Morris também falta nessa lista) (e Merce Rodoreda e Isabel Allende e Amelie Nothomb) (para não falar na Condessa de Ségur e na Enid Blyton e - imperdoável! - a Astrid Lindgren) (e a Laura Restrepo e a Laura Esquivel) (hiii, e a Sophia, e a Agustina?)
    Assim não dá: se as que eu leio faltam na lista, não posso marcar a negrito e fico com fama de ignorante e, vá, bem sei que só li uma gota de água no oceano, mas mesmo assim... :)

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    1. O Amos Oz que conheço é homem.
      A Agustina está, não sei como passei-a à frente...

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  2. Já tinha lido sobre este projeto mas depois deste relato fiquei ainda mais apaixonada. Quero ajudar. (e falta aí a JK Rowling também, ora!)

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  3. As irmãs Brontë, P. D. James e Anne Desclos. Disponíveis em livrarias abertas.

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  4. A questão não é porque é que não está a Doris Lessing, é porque é que está o Amos Oz...
    (de quem de resto gosto muito)

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  5. Ah, já se tinha adiantado a Helena!

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  6. Vejam se conseguem abrir aqui a lista: http://panadosearrozdetomate.blogspot.pt/p/lista-escritoras.html

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  7. Sophia de Mello Breyner, Maria Judite de Carvalho, Ana de Castro Osório, Virgínia Vitorino, Ana Cássia Rebelo... Toni Morrison, Pearl S. Buck, Karen Blixen, Françoise Sagan, Marie Cardinal, Irène Némirovsky, Simone de Beauvoir, tantas mais, mas nunca Amoz Oz, que é homem!

    Raquel

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  8. Olá Helena,

    Foste a primeira a detectar (pelo menos a verbalizar) a rasteira do Amos Oz. Amos Oz é um escritor.
    Não sei bem porque é que ninguém tinha levantado a questão, e isso assusta-me.
    Por um lado porque talvez mostre o quanto pouco conhecemos escritoras o que pode levar as pessoas a considerar a possibilidade de que exista uma Amos Oz escritora.
    Por outro lado assusta-me porque pode ser que pouca gente conheça o Amos Oz escritor. O que é uma pena.
    Contudo há um livro escrito a 4 mãos pelo escritor Amos Oz e pela escritora Fania Oz-Salzberger que é bem possível encontrarmos nas estantes da Livraria Confraria Vermelha.

    Espero contar contigo para que isso possa acontecer.
    Um abraço
    Aida

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