Juro que até ter começado a escrever este texto (sim, é habitual começar a escrever sem pensar muito e só depois ir à procura das ideias que quero desenvolver e que nunca desenvolvo, porque tenho o dom, ou defeito de economizar nas palavras) não fazia ideia da quantidade de quiosques que fazem parte da minha vida.
Há o quiosque onde tomo café aos domingos de manhã, na Estrela; o quiosque dos hambúrgueres e da sangria, no jardim da Parada e o quiosque com os cachecóis do FCP, onde o Jaime comprava o jornal "O Jogo", quase sem sair do carro, na Buenos Aires.
Havia também o quiosque no Largo da Luz, onde comprava o "Público" à sexta-feira e ouvia a história das patas gangrenadas das pombas.
Agora que penso nisso é bem capaz de não haver um único sítio em Lisboa sem, pelo menos, um quiosque.
Deve ser essa a razão para a maioria deles me passarem despercebidos, como foi o caso do quiosque S. Roque até ao dia em que estive no Largo Trindade Coelho com a minha avó (algumas pessoas estarão lembradas da estadia da minha avó aqui em casa).
Ora, deu-se, então, o caso de nos termos sentado no tal largo, depois de sair do concerto de música clássica que decorria na igreja de S. Roque, porque ela "tinha de ir mijar" (sic).
Apesar do frio, estava sol, que reflectido no calcário todo, me obrigava a semicerrar os olhos e a entrar naquele estado de semi-inconsciência, muito bem descrito na passagem de um livro (de Kafka?), em que um homem mata uma pessoa na praia nesse mesmo estado.
Fiquei a olhar para o quiosque, a pensar se já estaria ali antes de ter entrado na igreja, e que era obviamente um pensamento absurdo, e que só podia ser provocado pelo excesso de estímulos à minha volta: a luz, a minha avó surda que não se calava, as perguntas de uma pessoa sobre a Santa Casa da Misericórdia, os dois rapazes com sono, ou com fome, já nem sei...tanto ruído!
Fiquei a olhar para o quiosque, dizia, e pareceu-me um sítio perfeito, assim uma espécie de árvore, com um tronco oco, onde nos podemos esconder.
Voltei lá depois, sozinha, com vontade de perceber melhor aquele quiosque centenário e senti-me tentada a beber um brandy. Não bebi, dessa vez.
Há o quiosque onde tomo café aos domingos de manhã, na Estrela; o quiosque dos hambúrgueres e da sangria, no jardim da Parada e o quiosque com os cachecóis do FCP, onde o Jaime comprava o jornal "O Jogo", quase sem sair do carro, na Buenos Aires.
Havia também o quiosque no Largo da Luz, onde comprava o "Público" à sexta-feira e ouvia a história das patas gangrenadas das pombas.
Agora que penso nisso é bem capaz de não haver um único sítio em Lisboa sem, pelo menos, um quiosque.
Deve ser essa a razão para a maioria deles me passarem despercebidos, como foi o caso do quiosque S. Roque até ao dia em que estive no Largo Trindade Coelho com a minha avó (algumas pessoas estarão lembradas da estadia da minha avó aqui em casa).
Ora, deu-se, então, o caso de nos termos sentado no tal largo, depois de sair do concerto de música clássica que decorria na igreja de S. Roque, porque ela "tinha de ir mijar" (sic).
Apesar do frio, estava sol, que reflectido no calcário todo, me obrigava a semicerrar os olhos e a entrar naquele estado de semi-inconsciência, muito bem descrito na passagem de um livro (de Kafka?), em que um homem mata uma pessoa na praia nesse mesmo estado.
Fiquei a olhar para o quiosque, a pensar se já estaria ali antes de ter entrado na igreja, e que era obviamente um pensamento absurdo, e que só podia ser provocado pelo excesso de estímulos à minha volta: a luz, a minha avó surda que não se calava, as perguntas de uma pessoa sobre a Santa Casa da Misericórdia, os dois rapazes com sono, ou com fome, já nem sei...tanto ruído!
Fiquei a olhar para o quiosque, dizia, e pareceu-me um sítio perfeito, assim uma espécie de árvore, com um tronco oco, onde nos podemos esconder.
Voltei lá depois, sozinha, com vontade de perceber melhor aquele quiosque centenário e senti-me tentada a beber um brandy. Não bebi, dessa vez.
*É a semana do quiosque na Lifecooler e convidaram-me para falar sobre o assunto. E saiu assim.
Esse sol não será o de Camus "o estangeiro"?
ResponderEliminarAh, só pode ser! Muito obrigada, queria tanto não estar a perder a memória...
EliminarÉ mesmo, confirmo, acabado de ler, ainda me "assalta". raio de livro...
EliminarJá pensei no assunto algumas vezes, as suficientes para ter a certeza de que se ficar desempregada abro um quiosque na minha terra. Há-de ser o meu plano B, arriscando-me a arrastar-me eternamente no plano A...
ResponderEliminarAdoro que escrevas sem pensar, é mais genuíno, és mais tu, é bom ler-te assim!
Beijos
Oh pá, gostei tanto.
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