Não há famílias perfeitas

1.4.14

Foi ela que disse, a minha filha de quase treze anos. "Não há famílias perfeitas". Não? 
Não há filhos perfeitos, ou sempre perfeitos, não há mães e pais perfeitos, mas não haverá essa coisa de todos juntos formarem um conjunto perfeito? Em abstracto, essa coisa existe, obviamente, caso contrário a ideia de perfeição não figuraria no nosso pensamento, mas estou a divagar.
Eu, tirando ocasiões excepcionais, vejo-me(nos) cheios de imperfeições. Imperfeições que deviam ser vistas como a nossa parede: riscos + sujidade + Resende = combinação única. Mas a nossa combinação única nem sempre é fácil de gerir.
Por exemplo, no jardim, a caminho de casa, os meus rapazes cavam buracos com as mãos, enquanto um pai pede ao filho, que entretanto se aproximou dos meus, para não sujar as mãos na terra. Apetece-me logo agarrar nos meus meninos e fugir para casa, onde não são julgados, mas lá fico a olhar para eles, a vê-los imundos e felizes. O outro menino também está feliz, apesar de brincar com um pau e não com as mãos e conseguir manter-se impecavelmente limpo. 
Depois, o pai diz vamos embora e o menino vai. Eu digo vamos embora 345 vezes e vem um deles, o outro fica para trás. Tenho de o chamar mais 227 vezes. Portanto, são mais de 500 vezes a dizer vamos embora até que eles venham. 
Sim, a minha família é uma combinação única, como todas as famílias, podia era combinar-se mais discretamente. 

6 comentários:

  1. Acho mesmo que há imensas famílias perfeitas, filhos perfeitos, pais perfeitos. O meu conceito de perfeição é que é capaz de ser pouco exigente.

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  2. Muito melhor assim. Faz-me lembrar uma conversa que ouvi há dias, de uma mãe que se andava a passar e que ia falar lá má escola porque a miúda de 4 anos vinha sempre suja para casa, com terra nas calças e mais não sei quê.
    Eu preocupava-me era se o meu filho viesse sempre imaculado. Mas isso sou eu. E é por isso que a perfeição depende da maneira como cada um de nós a vê.

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  3. Lol. A tua família é do melhor!

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  4. Aqui do alto dos meus 48 anos (aprox. 1,68m) digo-te que ainda bem que não existem, as famílias perfeitas, pois que nos proporcionam a oportunidade tanto para a porrada verbal tão desejada quanto par as mais belas declarações de amor e ainda o mirar do alto a suposta limpidez dos perfeitos, esta vontade de descer até eles e, quanto mais não seja, servir-lhes um batido (já mencionado) saudável e um abraço acolhedor :)

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  5. Mas tu importas-te que eles mexam na terra?... É que se importasses de certeza que já tinhas conseguido transmitir essa mensagem. É que é dificil impor aquelas coisas que não nos incomodam realmente mas que achamos que temos que impor pq é a "norma" e somos, de alguma forma, julgados. Eu tive uma experiência semelhante, no parque, um dia de calor imenso, em que ao final de um bocado de tempo os meus filhos já andavam de cuecas a passar por baixo dos aspersores para se refrescarem (estamos a falar de miudos de 3 ou 4 anos, na altura) e eu não me consegui importar, só sentir inveja. Mas senti os olhares de soslaio e recriminadores e pensei se estaria a ser uma desleixada, malcriada, sei lá... Depois lá houve uma miúda que se juntou aos meus (mas os pais eram estrangeiros) e eu lá passei de me sentir embaraçada a sentir-me cosmopolita. Mas quase nunca há estes "pares" para nos validarem. E isso custa.

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  6. Eu também tenho de chamar os meus 457 vezes até eles de facto virem embora/entrarem na banheira/virem lavar os dentes. E porquê? Pois não sei, o mal deve ser nosso talvez. E eu grito e enervo-me e invejo as mães que falam calmamente aos filhos e os acalmam com voz doce. Eu juro que tento.
    Mas depois é isso, é vê-los mexer na terra, ou sentar-se a ler um livro por iniciativa própria, ou a dizerem "Yeahhh!" quando vamos a um museu, ou a partirem a última bolacha em dois metade para cada um e penso "caramba, que perfeitos que eles são, alguma coisa andamos a fazer bem." E pronto, fico tranquila até ao próximo berro. E quem nos vir naquele momento se calhar pensa que somos mesmo-mesmo perfeitos. E somos. Só que não sempre.

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