Farta

17.7.12
Estou farta do implante anticoncepcional. Estou farta do calor. Estou farta de adormecer o Nicolau ao colo. Estou farta de querer acreditar que há hobbies que se podem transformar em profissões. Estou farta de mandar currículos e cartas de motivação, sem obter respostas. Estou farta de fazer sopa. Estou farta de não saber o que quero. Estou farta de pão com manteiga. Estou farta do tapete do quarto de banho. Estou farta das formigas que insistem em partilhar a casa connosco. Estou farta das minhas sobrancelhas (o cabelo já consigo prender). Estou farta de estar sempre com fome. Estou farta de me sentir presa em casa. Estou farta de matar plantas. Estou farta do computador. Estou farta da comida dos gatos espalhada no chão. Estou farta do chão...
Ou, resumidamente, estou como ele.

Adenda 1 (depois de pôr o estrugido ao lume para o arroz de tamboril): E o que é isso interessa?
Adenda 2: O arroz estava muito bom.

14 comentários:

  1. Há dias assim...em que tudo cansa. Depois há os outros, em que todas essas coisas fazem menos confusão e não acredito que haja alguém que não sinta nunca o " cansaço" próprio da vida. O importante é fazer algo para que se sinta melhor.

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  2. E quando estiveres farta de estar farta? :p

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  3. Eu começava por tirar o implante. Pode ser que alguma das restantes chatices melhore. Acho que já deu para perceberes que tenho uma teoria sobre os anticoncepcionais que implicam condicionamento hormonal (se teoricamente libertam a mulher da reprodução, quimicamente oprimem-na). É uma teoria decorrente da minha própria prática, nada mais. Viva os métodos barreira!

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    1. Viva! (o único problema é que passo a vida anémica derivado à grande quantidade de fluxo que perco durante sete dias por mês...)

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    2. Estou com a verao... Talvez mais valha sete dias a comer muito chocolate ou, sei lá, ferro em comprimido do que a "opressao química" constante... Tb é a minha experiencia.

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  4. tenho que falar contigo sobre essa coisa do implante.

    tenho tantos dias em que me sinto a cantarolar essa lengalenga do estou farta na cabeça, às vezes até o faço em voz alta.

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  5. Eu assinava por baixo, só tirava a parte do implante anticoncepcional e dos filhos!

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  6. afinal, só acrescentava que estou farta dos posts no facebook sobre o Miguel Relvas.

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  7. Escrevi com tantos erros que vou re-escrever (tou cansada!) Eu até ia fazer um blog em que cada dia referia uma coisa de que estava farta, mas escrevi o primeiro dia e fiquei farta... http://julho-2012.blogspot.com/

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    1. Eh pá, retoma lá isso, olha que é um blog cheio de potencial!

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    2. LOL
      Mas hoje só para ti (nao é uma declaração de amor!):
      Estou farta de ter o balde e a esfregona na casa de banho.
      Não é o facto de estar sempre a limpar as pingas de urina que os miudos deixam pela casa de banho, esse facto alegra-me, já sao capazes de fazer sozinhos, mas o facto de me sentar na sanita e olhar aquele balde e aquela esfregona e de me lembrar doutro balde e doutra esfregona. Houve uma vida anterior a esta em que eu tinha uma cadela e tinha um balde e uma esfregona sempre a postos para limpar a varanda, tinha uma vizinha picuinhas que nao tolerava que houvesse urina e eu nem sempre podía leva-la à rua. E lembro-me dessa vida, lembro-me daquele fim de tarde de início de Verão em que cheguei a casa cansada e feliz de ter pasado todo o dia no campo a arrancar linho, com a terra colada a mim, lembro-me de beijar o meu amor de toda a vida, de brincar com a cadela que saltava e me cheirava curiosa, de estender a roupa ao sol, de regar a minha adorável coleção de cactos, de afagar os libros com os olhos, de ficar na varanda com o olhar perdido no horizonte a pensar como gostava daquela pacatez de fim de tarde e de como era feliz. Depois, feita parva, pensei que podía ser ainda mais feliz, e tive outras vidas e outras casas depois disso. Os livros ficaram anos encaixotados, para serem desencaixotados numa casa que nao é a minha e aí estao esperando o meu regresso, acumulando pó por falta de uso, os cactos morreram em casas húmidas, a cadela está com os meus país faz anos e agora tem tumores, está a morrer e provavelmente nao vou voltar a vê-la. E penso nela. E penso nas minhas coisas, doadas, vendidas, emprestadas, encaixotadas algures. E penso nas minhas vidas. E penso nesta casa onde vivo que parece um hotel porque não me decido a torná-la minha porque se calhar vamos embora outra vez, nós 4. E fico ali a olhar a esfregona.
      -‘tás triste, mamã?
      - A mamã tá a chorar? Dou beijinho.
      -Não, filhos! A mamã só vai limpar e vamos brincar com os legos!
      Recebo um beijinho em cada bochecha, um de cada um.
      Estou farta de ter o balde e a esfregona na casa de banho.

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  8. A teoria da opressão quimica faz muito sentido. Eu deixei-me disso e só utilizo barreira. É uma questão de hábito. Corta o momento? às vezes, mas é preferível a andar sempre mal humorada, com enxaquecas horríveis e sem desejo de qualquer espécie, que era como eu estava quando tomava a pílula.

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  9. E farta de parecer não teres legitimidade para estares farta e reclamares, porque no fundo sabes que quem escolheu esta vida foste tu? E que o governo e sociedade em geral te diga que a culpa é tua porque não és empreendedora nem emigras? E que se não tens respostas aos CVs é porque não fazes a diferença e não vais de porta em porta fazer malabariasmos? É que eu estou.

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  10. (nota: quanto aos métodos, cada um terá as suas vantagens e desvantagens, o ideal era nenhum!!! e andavamos por aí a povoar o mundo ;) Julgo que cada um (um e uma mesmo) deve adequar à sua situação. Embora sinta na pele alguns efeitos dos químicos, quem não os usa também sofre de TPMs e alterações de humor duras, ciclo é ciclo, hormonas são hormonas!)

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