Nódoas negras

25.1.12
Não sei se são muito evidentes as semelhanças entre mim e uma barata tonta, mas posso garantir que existem. Naturalmente estão excluídas quaisquer comparações físicas, porque, na verdade, o enfoque deve ser dado ao adjectivo "tonta".
Não é preciso passar pela experiência de estar todo o dia metida em casa com a(s) criança(s) para saber que é uma vida solitária  e, portanto, dada a devaneios do pensamento (sim, os passeios ao jardim até podem ajudar a não pensar no assunto, porque a urgência está em saber que braços usar para segurar num enquanto se tira o outro do baloiço, ou em encontrar uma sanita, de preferência sem os rebordos pejados de merda, para poder sentar a criança), mas o que não se imagina é que eles, os devaneios, aparecem de todos os lados e dispersam-se em vários sentidos.
É por isso que num dado momento estou a pensar que não deveria ser tão exigente comigo própria (quer dizer, os miúdos não me deixam dormir o que preciso, nem tão pouco ter a vida que gostava - sim, são a melhor coisa do mundo, não os trocava por nada, mas convenhamos que não facilitam. Não se pode ler um caralho de um livro à vontade, ou beber uma garrafa de vinho sem pensar duas vezes), como no momento a seguir acho que sou uma "meias de seda", com uma vida praticamente luxuosa e que devia era dar muitas graças.
Ou, então, desato a falar em voz alta, para confirmar que ainda consigo dizer o que penso, ou seja que o que está na cabeça é "falável", mas se o telefone toca, e calha de o ouvir, fico aflita por não ter a certeza de ser capaz de ter uma conversa.
Enfim, não me alongo em exemplos, porque além de não me lembrar de mais nenhum creio que já deu para perceber a ideia.
Há, no entanto, uma coisa curiosa que devo (quero?) referir: tenho várias nódoas negras nas pernas, que não sei de onde apareceram, mas tenho para mim que vieram do cérebro para eu poder ver o efeito de tanta tralha a chocalhar por lá.

2 comentários:

  1. ahahahahahaha!

    (é muito curioso, este post podia ter sido escrito por mim há cerca de 5 anos, quando estava com as duas em casa sozinha. todo o post. mas nunca o escrevi. faz a diferença entre mim e ti... :) )

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  2. não me parecem nada anormais esses devaneios, acho que passei por algo muito parecido nos quatro meses que estive em casa com o meu bebé. nessa altura também me senti muitas vezes sufocada pelos pensamentos, por não falar com ninguém, por tentar falar com um bebé, por não conseguir dizer coisa com coisa ao telefone que raramente conseguia atender porque o miúdo não me dava descanso e, quando dava, eu estava sempre a fazer outra coisa (a comer, a dormir, na casa de banho, a tomar banho, a vestir-me, etc). Numa coisa tenho de te louvar: nessa altura não tinha capacidade nenhuma para escrever, muito menos um texto como este em que consegues transmitir exatamente a sensação que eu tive durante muito tempo (mesmo depois de ter "saído" de casa para ir trabalhar).

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