Creche

3.1.12
O Isaac vai para a creche. Poupo-vos a lengalenga do drama da decisão (que se resume ao facto de eu não me sentir capaz de estar todo o dia em casa, sozinha, com os dois pequenos), mas há alguns detalhes que não consigo deixar de partilhar, para vossa imensa alegria, eu sei.
E não vou falar, por enquanto, desta forma que a sociedade encontrou de encaixar os filhos nas nossas atarefadas vidas; ou de como me sinto uma total falhada por não conseguir cumprir com aquilo que me parece básico para qualquer criança, que é estar ao cuidado da mãe, ou do pai, ou dos avós, até aos três anos, e afinal parece que não vos vou poupar aos meus dramas...não, vou, vou poupar-vos, porque há outras coisas mais importantes, digo eu.
Então é assim, tenho a impressão, ainda que intuitiva, porque não falei com muita gente sobre o assunto, que há dois tipos de creches conceituadas em Lisboa: as religiosas e as da "esquerda caviar". Pessoalmente identifico-me mais com as últimas, mas vivo numa zona em que as primeiras são a maioria, se não as únicas, e para mim o factor proximidade é importante. Naturalmente estas creches (e pré-escolares) são IPSS, porque tanto os católicos como os liberais defendem que todos têm os mesmo direitos, mas nisto, como em tudo, há sempre uns com mais direitos do que outros e por isso as creches seleccionam quem lhes convém para manterem o seu estatuto de conceituadas.
Por isso é que, por exemplo, numa creche da Rua do Patrocínio estava uma fila interminável para pré-inscrição dos meninos que vão entrar em Setembro, e uns metros à frente, noutra rua, uma creche com vagas. Com vagas, com boas instalações, com pessoas simpáticas e uma educadora que me inspirou confiança.
E, pronto, vou ali chorar baba e ranho e fazer-lhe uma manta para se cobrir nas sestas (que podem ser feitas comigo ao lado dele nos primeiros dias) e um saco de pano para guardar os lençóis.

12 comentários:

  1. ai, calita, sem querer menosprezar as dores de coração de mãe, com que me solidarizo, como sabes... caramba, sejamos frontais: VAI TE SABER PELA VIDA! pela tua vida! e vais "gozar" o pequerrucho de toda uma outra forma...
    era muito bom que deixasses de olhar para esta mudança como uma falha. vão todos ganhar com a nova dinâmica, mesmo com as adaptações que aí vêm!

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  2. Sim, Pal, tens toda a razão. Vai-me saber muito bem, mas que queres? custa-me mandá-lo para a creche, por ser o melhor para mim...

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  3. O que é melhor para ti também é, mais directamente do que parece, o melhor para ele e toda a família! ;)

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  4. Olá Calita! Pois não sei bem que idade tem o Isaac, mas tenho vindo a ler-te e já me apeteceu dizer-te que, se calhar, o melhor seria ires pensando numa creche para as tuas crianças. Só não disse porque não tenho nada a ver com o assunto e isto de ler blogs propicia uma pseudo-familiaridade às vezes um pouco pegajosa, mas enfim...
    A grande dificuldade não são as crianças, É A CASA. A forma como as crianças e as tarefas domésticas se entrelaçam é que dão cabo de qualquer um/a!Por isso sempre soube que teria que trabalhar, para manter a minha saúde mental e tratar o melhor possível dos meus três filhos.
    É provável, como julgo que saberás, que comece a apanhar uma série de viroses, o que também não é pêra-doce, mas tudo passa, e oxalá o teu seja dos resistentes.
    Desejo-te o melhor e que aproveites este tempo para ti própria o melhor possível.
    Ter vida individual e autónoma dos seres amados (e neste caso, dependentes) não é pecado, é NECESSÁRIO. Depois cada um encontra o seu equilíbrio à sua maneira...
    Não leves a mal, mas porque não pões os dois? Tipo quatro horas por dia...? Já viste as creches da Santa Casa da Misericórdia das tuas redondezas? Aqui no Porto/Matosinhos são boas, comparticipadas e têm meninos de todas as proveniências (bem, há mais pobres que ricos, mas isso é em toda a parte).

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  5. Olá, o Isaac tem 27 meses e o Nicolau 8.
    Sim, tens toda a razão, a CASA é um assunto com pano para mangas e aquilo da vida autónoma dos seres amados é uma realidade incontestável.
    Quanto a pôr os dois, e tendo em conta que não tenho (AINDA, vá) uma actividade profissional digna desse nome, acho que prefiro esperar pelo menos até o mais novo completar um ano. Depois disso já está decidido que vai fazer companhia ao irmão, mas até lá deixo-o estar mais um bocadinho em casa.
    Quanto à Santa Casa da Misericórdia tenho ouvido as melhores referências aí do Norte, mas sobre as daqui não ouço o mesmo, mas a verdade é que não fui a nenhuma delas bater à porta. Seja como for, esta da paróquia da Estrela parece-me bem. Vamos ver como corre.

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  6. (ATENÇÃO: Por Norte, não quero dizer Porto, tenho uma sobrinha na Santa Casa da Póvoa de Varzim, por exemplo. Portanto, quero dizer Porto e arredores, o que não deixa de ser redutor e portanto batam-me e chamem-me nomes que eu mereço)

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  7. Boa sorte! Sugeri pôr os dois só porque tratar de um bebé de 8 meses a tempo inteiro também não é propriamnete ter tempo livre, mas se se calhar no teu lugar também esperava até que fizesse um ano... Há uma GRANDE diferença entre ter retaguarda familiar e não ter: se queres que te diga acho que já fizeste MUITO.

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  8. Estou completamente solidária com o problema dos filhos sairem de casa para enfrentarem o "duro" ambiente das escolas. Eu também trabalho em casa (turismo rural e arquitectura) e tentei que os meus dois filhos ficassem o máximo de tempo em casa. Ficaram ambos até aos 21 meses, porque embora no subconsciente ache que sou um pouco má mãe, as minhas capacidades e sanidade mental estavam completamente afectadas por ter de gerir o meu trabalho pelas horas da comida e do sono dos meus filhos.
    Com o coração a doer e muitos sentimentos de culpa, no dia 2 de Janeiro, levei o mais novo à escola, esperando que fosse o drama que tive com o mais velho. Até agora, tudo foi muito mais tranquilo, o que demonstra em definitivo, que as crianças são mesmo todas diferentes.
    Moral da história: Estou menos stressada e a dinâmica familiar melhorou. Passava os dias a gritar com os miúdos e agora parece que tenho mais tempo para os ouvir e brincar com eles.
    Quanto à escolha da creche, para quem tem a sorte de poder escolher, esta escolha teve ser bastante analisada. O importante não é o espaço, mas sim a empatia que se cria entre educadora e criança. Não tenho essa sorte, pois temos apenas duas creches onde vivemos e uma delas é bastante fora de mão para nós. A creche onde os meus filhos estão, não a solução perfeita, mas com muito complemento de nós em casa, serve para a interacção entre crianças, que penso que é primordial para o seu desenvolvimento. Penso até que o principal problema nas crianças que ficam até tarde em casa, é a falta de ligação com as outras crianças. Parece que ficam demasiado ligadas aos adultos e não conseguem brincar com os seus pares.
    Espero que este desabafo de mãe tenha ajudado a que não se sinta tão culpada.

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  9. O melhor para ti?? Achas que lhe vai custar horrores passar algumas horas por dia a brincar com outros meninos, a fazer jogos e pinturas, a ter alguma vida própria e a divertir-se? Tu vais pô-lo a fazer algo que é bom para todos, não vais abandoná-lo durante o dia inteiro para andar na boavaiela.

    Dora

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  10. Acho que depende dos objectivos que te propuseste: Ser mãe a tempo inteiro era um projecto? Pois se era, é natural que seja difícil, pois queres fazê-lo a sério, e, como diz o outro, se é difícil é porque vale a pena, logo, deixam de ser penosos.
    Se não era um projecto, mas uma experiência/curiosidade tomas a decisão mais correcta e, assim, poderás dedicar-te a outros projectos, igulamente difíceis, mas que consideras que valem a pena.

    p

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  11. Obrigada, Sara, pela partilha, é sempre bom saber, ou melhor confirmar, que estas questões são mesmo universais.

    p, quanto a ser um projecto ficar em casa com os miúdos, não sei, nunca tinha pensado nisso nesses moldes. Para mim sempre foi natural que os filhos estivessem comigo, no mínimo, o primeiro ano de vida, nao como experiência/curiosidade mas porque fazem parte de mim e porque os quero ter comigo. Depois, o ideal seria conjugar a maternidade com outros projectos, sendo que para isso precisaria da tal aldeia que dizem ser necessário para educar uma criança, mas suponho que as creches possam fazer esse papel. Ou seja, na prática estou a fazer aquilo a que me propus, mas como todas as mães estou a questionar se será o melhor.

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  12. Vais-me desculpar, mas essa suposta missão facílima e básica de estar com os filhos até aos três anos era fácil de levar a cabo quando os casais viviam perto da família, e estar em casa com os filhos não era só estar em casa com os filhos sem nenhum adulto com quem conversar durante a maior parte do dia. Era estar em casa com os filhos e ter o apoio da avó, da tia, das vizinhas... E isso, minha amiga, faz toda a diferença. Se tudo isto não for mais do que uma desculpa esfarrapada para ficar em paz comigo mesma, então digo, abertamente: eu também não seria capaz de cumprir essa missão.

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