Férias

31.8.10
Daqui a poucos dias vou mudar de sítio por uma semana, vou para o Alentejo. Há quem lhe chame férias, mas no meu caso não posso dizer que sejam. Sim, vou mudar de cenário e vou partilhar os dias com outro adulto (yiupi!!!!!!), de resto não muda muito mais a minha rotina.
É claro que me vai saber bem, muitíssimo bem, mas férias, férias, senhores, era eu sair de casa de manhã toda aprumadinha, ou mais ou menos, pronto, que eu não sou gaja de me aprumar por aí além, passar o santo dia em frente a um computador a receber, ou a dar, ordens, chegar a casa ao fim do dia e dar banho ao bebé e enchê-lo de beijos, mimar a pequena e enchê-la de beijos e dar beijos ao grande. Depois cozinhava, estendia roupa, mudava a areia dos gatos e essas merdas todas que passo o dia a fazer, só que durante essas férias demorava muito menos tempo, porque estava feliz e cheia de energia. E já agora podiam ser umas férias grandes, daquelas de três meses, como quando andávamos na escola.

Ai, a mobilidade

30.8.10
Eu tinha coisas para contar, e parece que das boas, mas o rapaz (que já não é fanado, nasceu-lhe o primeiro dente, ontem) deu em desaparecer da minha vista em segundos. Ele costuma estar aqui agarrado à cadeira a gritar MA MA MA MA MA MA MA, mas, ou porque o ignoro, ou porque descobriu que há coisas bem melhores para fazer, pigas-se num abrir e fechar de olhos e lá se vai a minha concentração. Agora, por exemplo, gatinha agarrado ao capacete da irmã, como se fosse um volante. Anda assim pela casa a grande velocidade até encontrar algum obstáculo, como a pequena soleira da porta do WC. Quando a Bea está em casa corre atrás dele, como não está corro eu. Olha, aí vem ele a mastigar papel. Espero que seja papel...

Domingo

29.8.10
Não sei em que dia da semana morreu o meu pai. Fez 24 anos, no dia 22 de Agosto, no domingo passado, que morreu. A cerimónia fúnebre foi uma segunda-feira e o enterro a uma terça-feira. Eu tenho mais dois anos do que ele tinha quando morreu. Já não sonho com ele tantas vezes como sonhava. Já não me acontece ficar chocada porque, afinal, ele está morto. Acontece-me pensar que tudo aconteceu há muito pouco tempo. Ontem, antes de dormir (lá está, à noite, sempre à noite), lembrei-me dele agarrado à minha avó materna, que vivia connosco, e ainda vive com a minha mãe, em cuecas a chorar baba e ranho, porque os pais dele estavam velhinhos e qualquer dia morriam...

De noite 2

25.8.10
Estou num sítio indefinido, a uma hora indefinida a fazer as coisas que se costumam fazer nos sonhos - correr feita louca; conversar com amigos em casa estranhíssimas, sempre com corredores infinitos; à procura de alguma coisa que nunca se sabe o que é, no meio de florestas verdes mais verdes que o verde; ou com os pés metidos na neve branca a olhar para um infinito negro, sem luz. Enfim, esse tipo de coisas - e de repente apareço eu a gritar a mim própria: TRIGO, TRIGO, TRIGO e começo a pensar: mas que raio quer esta agora? sempre com a sensação de que aquilo é uma palavra chave para alguma coisa, mas também pode ser para ir em direcção àquele campo de trigo em frente. Depois, com muito esforço, lá percebo que é para acordar. Abro os olhos e fico à espera. Trinta segundos depois ele chora. É assim quase todas as noites. A palavra chave não é sempre a mesma e raramente me lembro dela. Parece-me que durante o sono tenho uma vida mais interessante.

Escrever um romance, ou assim

24.8.10
Eu faço quilts e tricot. Cozinho pequenos-almoços, almoços e jantares. Ponho roupa na máquina, tiro da máquina, ponho no estendal. Mato melgas e formigas. Limpo a areia dos gatos, às vezes escovo-os e apanho as bolas de pêlos que vomitam. De vez em quando aspiro. Trato da loiça. Dou banho aos pequenos e corto-lhes as unhas e o cabelo. Faço os possíveis com os vasos. Distribuo mimos, beijos e colo. Esfrego o quarto de banho com cif. Passo a esfregona com sonasol no chão da cozinha e outro líquido qualquer na madeira. Limpo cocós e lavo fraldas à mão. Vou todos os dias às compras para ter sempre produtos frescos e evitar embalagens desnecessárias. Às vezes faço bolachas e bolos. Vou passear para o jardim. Arrumo a roupa nas gavetas. Às vezes faço as camas. Canto. E não percebo porque caralho acho que devia fazer mais alguma coisa.

Coisas más de Lisboa 1

19.8.10
Estar demasiado longe de toda a gente.

O patchwork é kitsch 5'

19.8.10
Esta semana consegui finalmente terminá-lo. Optei por fazer o avesso em tons monocromáticos, preto, branco e cinzento, para quando não me apetecer cor. Enquanto quiltava, à máquina (actividade imprópria para o Verão), apercebi-me que o resultado final diz muito de mim: Gosto de começar os quilts, pensar nas cores, nas formas, juntar os tecidos, etc. Depois, quero vê-lo terminado o mais depressa possível, mesmo que não fique tão perfeito como gostava, para pensar no que vou fazer a seguir.

A crise dos 10 meses e meio

17.8.10
Eu sei que quando voltar a trabalhar (sabe-se lá quando e a fazer o quê) vou sentir falta disto: dele a gatinhar pela casa, a agarrar-se aos meus pés e a trepar pelas minhas pernas. Dela: "e, então, que achas que podemos fazer hoje?", das brincadeiras ao faz de conta, das bolachas no forno. Do barulho, sei que até desta barulheira infernal vou ter saudades. Dos jardins durante a tarde. Do cinema ao fim do dia. De cozinhar para a prol (ou talvez não). De ter um blog onde mostro as crianças para que não haja enganos e toda a gente saiba que sou uma mulher muito preenchida e que ser mãe é do mais cool que existe. De não ter que levar com a imbecilidade de muitos dos nossos melhores profissionais, que passam horas no emprego, não necessariamente a trabalhar.
Sei disso tudo, mas agora o que eu queria era a merda de um trabalho.

Havemos de trocar umas ideias sobre o assunto

17.8.10
Olha, eu também já estive para o comprar, mas depois sou arrepanhada por uma sensação de não-é-ainda-altura-de-Bolaño.

Agosto 2

13.8.10
Ficava-me pelo Post de baixo e Agosto seria um mês com gelados, bricadeiras e alegrias várias derivadas de sermos uma família feliz e bonita. Acontece que sofro de uma miopia cerebral que me faz sentir tudo desfocado. Preciso de semicerrar o sistema nervoso central para tentar focar a realidade. Às vezes, claro, acontece vermo-nos muito felizes, e assim, sem estar a semicerrar os nervos e fico um bocado baralhada, mas admito que não acontece tantas vezes quantas seria de esperar.
Ontem, por exemplo, fomos passear para a baixa. Estava um fim de tarde ameno, o JP Simões actuava no jardim do museu do Chiado, muita gente assistia e Lisboa fazia-se sentir. Tivemos de vir embora mais cedo do que o previsto, porque o gajo bebé gosta muito de dormir na cama dele e, portanto, não descansou enquanto não o viemos deitar.
Naturalmente ainda não tínhamos chegado à baixa já eu tinha percebido que ele não ia adormecer. Já ia com pouca vontade. Já ia com as trombas com que voltei para casa.
Talvez dez meses seja muito tempo para estar em casa a cuidar de um bebé sem família por perto (ontem apercebemo-nos que o Isaac nunca ficou mais do que 15 minutos afastado de um de nós), talvez seja mais difícil para umas pessoas do que outras. Não sei. Sei que dois dias inteiros em silêncio absoluto me iam saber muito bem.

Agosto 1

13.8.10
Isaac a provar a bolacha do cone na Santini

Bea a brincar às modelos

Que tipo de mãe sou eu?

11.8.10
Não faço ideia que tipo de mãe pareço (eu acho sempre que, em muitos aspectos, sou a pior de todas as que conheço), mas tenho a certeza que sou boa mãe, porque:

i) Passo a vida a questionar as minhas opções - não seria melhor para mim ser uma gaja independente, com muito vinho na garrafeira, SG Ventil na carteira e sexo ocasional?

ii) Tento perceber as diferentes fases das crianças - o bebé está a incomodar a sua refeição? lamento, mas ele precisa de flexibilizar as cordas vocais. A menina podia estar mas era caladinha antes que lhe fodesse as trombas? Não, não porque está a entrar na pré-adolescência.

iii) Decido ser eu a criá-los durante os primeiros anos de vida (ou pelo menos o primeiro) - Como, estás atrasado, mas já passa das 18h, estás à espera que seja eu a dar-lhe a sopa, banho e adormecê-lo, não é? Estou farta disto, recuso-me a continuar a viver desta forma, bláblábláblá...Ah, estás a trabalhar? e eu, estou de férias?

O deserto na chuva

10.8.10











A sardinheira e a buganvília ali estão, carregadas de areia do deserto trazida pela chuva. E, hoje, nada me parece mais poético do que isso.

*suspiro*

10.8.10
Ainda bem que já comecei O Elefante Evapora-se, porque aparece logo no início um rapaz de trinta anos que se despediu do emprego e que a certa altura diz: "Falta-me a capacidade para levar as coisas a bom porto. A meio caminho, perco-me por estradas e travessas e fico a ver navios."
Ora, isto soou-me tremendamente familiar e como tal estou ansiosa por saber o que vem a seguir. E se isso não é a melhor coisa que um romance pode oferecer - também não sei ao certo qual é, não sou nenhuma crítica literária, mas quando leio não estou à espera de uma trama, estou à espera de me descobrir dentro do livro -, pelo menos ajuda-me a não pensar neste lindo mês de Agosto.

Se ao menos me apetecesse fazer alguma coisa...

P.S Não acontece nada na vida do rapaz.

A igreja estava cheia (e toda iluminada como na música d' O Trio Odemira)

6.8.10
Eu gosto de ir ao cinema. Muitas vezes decido que vou ao cinema e só depois vejo o que está em cartaz. Não é difícil encontrar alguma coisa, porque o número de salas em Lisboa é considerável, apesar de estarem, praticamente, todas tomadas pelos suspeitos do costume. Depois há a cinemateca, claro, que tenho frequentado muito pouco, infelizmente.
Isto tudo para dizer que de tão habituada a ver filmes com mais duas ou três pessoas além de mim, ia morrendo quando me apercebi que o Inception (A Origem) ia encher a sala. Ora, o cinema também é isso: gente a ver o filme e a comer pipocas e a sussurrar mas, caramba, não podiam ir fazer isso para outro filme qualquer? Eu também gosto de ver filmes com amigos, de conversar e fazer intervalos para comer alguma coisa, mas ir ao cinema é diferente. Para mim, é quase como ir a um santuário para alimentar o espírito e ficar longe dos assuntos terrenos. E neste filme Nolan até consegue levar-nos para o mundo dos sonhos e tudo, por isso estão todos perdoados. Deixem ficar uma esmolinha.

Outra vez?

5.8.10
O chão da cozinha está sujo, a precisar de ser lavado. Outra vez. Chuto os brinquedos do pequeno para os lados, porque não me apetece baixar, outra vez. Adormeceu, outra vez, no colo. Não gostou nada do peixe com batatas. Logo experimento frango com massa. Cozinha, outra vez. E a mais velha ainda não almoçou. A cadeira dele está cheia de comida, outra vez. E eu chateada, aborrecida, quase desesperada com isto tudo. Outra vez.

Um bom branco

1.8.10
a acompanhar um excelente almoço de domingo, em boa companhia, também ajuda.

Sem título

1.8.10
Uma salva de palmas para a Carla Fonseca que perdeu um centímetro na cintura e 0,3 por cento de massa gorda (aumentou um quilograma ao peso que já era excessivo, mas isso não interessa nada) é uma daquelas coisas que se ouve a uma sexta-feira de manhã, pouco depois das 8h30, o que poderá justificar a sensação procedente: o "que é esta merda?", e que fica registada no cérebro sem que se perceba porquê.
Um pouco como o gesto infantil de recortar fotografias, que aparecem nas revistas, de raparigas com olhos cinzentos, porque o rapaz por quem estamos apaixonadas nos diz que a cor de olhos mais bonita é o cinzento. Ora, nós (reparem como uso magistralmente o nós majestático) temos olhos castanhos e em vez de mandarmos o apaixonado lamber a quinta pata do cavalo, não, recortamos fotografias de raparigas que ele acha mais lindas do que nós. Se a psicoterapia juntamente com uma boa dose de ciprofloxacina, ou uns bons copos de tinto à maneira, ou tudo misturado, não é a melhor coisa para se viver em paz, não sei o que será.