Eu gosto de acompanhar as tendências e arriscar mudanças, mas não há mal nenhum em ficar onde nos sentimos mais confortáveis, pois não? Por isso, aqui me tens.
No outro dia, trouxe da biblioteca uns livro de Camilo Castelo Branco, um com as memórias do cárcere e outro com cartas dispersas, e fiquei com a sensação de estar perante um grande escritor demasiado enredado nos seus dramas pessoais, que são os mesmos que ele projecta nas suas histórias. Quer dizer, é até ridículo eu estar com estas considerações quando conheço tão pouco da obra cameliana, mas é este o pão nosso de cada dia, toda a gente a opinar sobre tudo como se fosse especialista em vários assuntos. Isto para dizer que se o Camilo regressasse do mundo dos mortos¹ ele escreveria num blogue e não no substack. Acho eu.
Na verdade, decidi (re)ler Camilo, porque precisava de saber mais sobre a sua passagem pela Póvoa de Varzim, depois de ver uma exposição que lhe é dedicada no Museu Municipal. Precisar é capaz de ser uma hipérbole, uma vez que não sei quando vou dar utilidade a estas recolhas de informação, mas se sinto que tenho de fazer uma coisa faço.
Outra coisa que sinto que preciso de fazer é definir a classe trabalhadora. Quem são os trabalhadores que Raquel Varela quer, e bem, defender? Somos todos os que trabalham por conta de outrém? São os que estão no fim da cadeia? O operariado? Eu realmente gostava de ver estas pessoas revoltarem-se, mas a grande maioria está demasiado cansada, desinformada e amargurada para isso. Pode até acontecer de se revoltarem (quem me dera poder assistir a isso), mas não será pelas causas mais nobres. Nunca é. Só nas histórias que contamos.
¹ O que não é uma coisa que Camilo desconsiderasse, como se pode ler no prefácio da 5.ª edição do Amor de Perdição, em 1879: ''Se, por virtude da metempsicose, eu reaparecer na sociedade do século XXI, talvez me regozije de ver outra vez as lágrimas em moda nos braços da retórica, e esta 5.ª edição do Amor de perdição quasi esgotada.''