Terapia

11.7.25
O que eu queria era estar numa residência artística para escrever. Quer dizer, para criar já que é isso que se faz numa residência artística, cria-se. Ora, eu podia criar galinhas, como a minha mãe faz, ou podia criar filhos, se já não estivessem criados (a que idade consideramos as crias humanas criadas?), também há muita arte nisso, mas eu queria escrever. Isto é, queria ser paga para o fazer, ou melhor, queria ver o que aconteceria se tivesse um ano sem qualquer outra obrigação que não fosse escrever.
Quase aposto que bloquearia. Ou não. Passaria muito tempo a tricotar e a caminhar, isso é certo, para arrumar ideias, que é o que se procura com a terapia, e sairia de lá com umas quantas páginas e algumas camisolas e cobertores. E aceitaria que a conjugação de uma série de factores aleatórios, incluíndo a insuficiência de talento, não me permitiu chegar onde queria.
Aceitação. É na aceitação que se encontra a redenção, não é?  Eu sempre confundi aceitação com acomodação e isso não é para mim. Não quero acomodar-me. Mas o que descobri com o tempo - é, a passagem do tempo tem as suas vantagens -, é que a aceitação pode demorar uma vida inteira, porque não podemos aceitar aquilo que não conhecemos e o auto-conhecimento é das coisas mais incómodas que podemos experienciar.
Dito assim até pareço muito entendida, mas isto é puro senso comum. As terapias que fiz ao longo da vida resumem-se a dois tratamentos para a depressão (sobretudo drogas e pouca análise), algumas experiências mais ou menos esotéricas e muita observação à minha volta.
Ainda não sei quem sou, mas estou a caminho de descobrir, espero, porque saber quem somos, no sentido Junguiano do termo, resolve a maioria dos nossos problemas, reais ou inventados, se não mesmo todos. 

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