Por motivos que não interessam, ou por não me apetecer partilhar, fui parar à urgência de um hospital, como acompanhante. Lá dentro estavam dezenas e dezenas e dezenas de doentes sozinhos, cada qual a gerir as suas dores, medos e angústias, por isso deduzi que no meu caso devia ser necessário entrar para ir comunicando o que tinha acontecido aos diferentes especialistas que estavam a acompanhar o caso.
Não é fácil estar numa urgência hospitalar carregada de preocupações e ver tantas pessoas deitadas em macas e outras tantas em cadeiras de rodas, umas a gemer, outras a dormitar e quase todas com aquela interrogação - O que Vai Ser de Mim? - nos olhos. É impossível não pensar como será estar na pele daqueles profissionais de saúde a gerir tanta coisa ao mesmo tempo - ''Não temos especialistas de neurologia disponíveis, hoje tivemos imensos casos de AVC''.
Escusado será dizer que a faixa etária daquele grupo de pessoas devia estar acima dos 70 anos, por isso é natural que tenha reparado na Isabel. Não sei se era da minha idade, ou mais nova. Estava deitada numa maca e levantava-se muitas vezes, o que fazia com que a bata descesse pelo ombro e ficasse com uma mama de fora. Havia sempre alguém que se levantava e ia perguntar-lhe o que se passava e compunha-lhe a bata. Parecia-me tão carregado de carinho aquele gesto vindo de outras mulheres mais velhas, a ajeitar a bata para a rapariga não ficar descomposta. Logo eu que não sou dada a composturas! Mas não há situação de maior fragilidade do que aquela, a do doente à mercê dos outros. Ela não respondia a perguntas, quase não falava, só dizia ''Não aguento mais, não aguento mais''.
O Sr. João, deitado na maca com a bata meio vestida e de fralda, também queria levantar-se e sair dali. Tentou algumas vezes. Ninguém lhe compôs a bata. Como se diz sororidade no masculino?
Sem comentários:
Enviar um comentário