Estou em casa com os miúdos desde que começou o confinamento, ou seja, há dois meses, por isso não sinto que o isolamento profilático tenha alterado a minha vida, apesar de agora ter o Jaime em casa todo o dia, não me limitar a beber ao jantar (qualquer relação causa e efeito há-de ser forçada, quero acreditar) e não sair para caminhar.
Tirando o teste positivo do Nicolau, a restante família testou negativo para o SARS-CoV-2 e não deixa de ser estranho estarmos todos fechados em casa, aparentemente, de boa saúde. Mas não me esqueço dos nervos miúdinhos a abrir o pdf na aplicação do hospital para ver o resultado. Não me esqueço da alegria ao sentir, diariamente, a temperatura normal na testa do Nicolau. Não me esqueço das mortes provocadas pelo vírus. Não me esqueço do alívio que foi enterrar a minha avó sem Covid no caixão.
Entretanto, apesar de me parecer tudo igual aos últimos dois meses, pus-me a abrir caixas guardadas em sítios recônditos. E, além de centenas de cartas manuscritas; cartões de visita de restaurantes, médicos e pessoas de quem não me lembro; bilhetes de avião e contas de cafés de Paris; o bilhete do festival de Vilar de Mouros, de 1996, e do comboio que apanhei para regressar ao Porto, encontrei vários cadernos e agendas com apontamentos.
E estas viagens no tempo são sempre muito curiosas, mas não vou discorrer sobre isso, agora. Das várias coisas que achei piada, retive duas definições da Bea que, na altura, decidi apontar: "cabelo apalpado" e "chão cremeloso".
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