Saber o que somos

16.4.19

Numa pequena road trip que fizemos na semana passada pude constatar aquilo que já sabia: são as pessoas que fazem os sítios. Pode parecer cruel dizer isto quando vimos, ontem, a Notre-Dame a desmoronar no meio de chamas, mas sem pessoas não teríamos a catedral e o nosso choque, na verdade, foi ver mais de 800 anos da história da humanidade a ser destruída à vista de todos.
Os monumentos são obras assombrosas e eu, como toda a gente, não fico indiferente quando os visito. Em muitos deles, Notre-Dame incluída, fico emocionada. Mas é quando estou numa pequena povoação de Bobonaro, sentada no chão a ouvir o Liurai falar sobre tais, ou em Pitões das Júnias, no café, a ouvir a mulher falar sobre as vacas que não vai levar a pastar, não sei se por causa da neve, porque tem muito feno para lhes dar, que as viagens se enchem de significado para mim.
E não, não vou à procura de pessoas quando ando na estrada. Prefiro estar sozinha, mas gosto muito de observar os outros e, se se proporcionar, conversar com eles.
Também pude constatar que continua a custar-me fazer xixi atrás das moitas, mas em caso de necessidade extrema faz-se o que tem de ser feito.
Não é sempre linear o caminho para nos conhecermos melhor, mas quando se começa não há como voltar atrás.
Li recentemente uma entrevista a Steve Paxton, 80 anos, em que lhe era pedido que revelasse uma ou duas coisas entre as mais importantes que aprendeu nos últimos 60 anos. Ele disse que uma das coisas foi que ''na vida trata-se de não nos sentirmos derrotados quando perdemos''. E de chegar ao fim e conhecermo-nos, de sabermos o que somos, o que queremos. ''Acho que isso é possível'', dizia ele, e explicou que conseguiu fazê-lo com disciplina (artes marciais), através da arte (dança) e da técnica (meditação).

2 comentários:

  1. Tão bonito e tão verdade! Obrigada

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  2. Olha, eu agora, aqui no novo atelierzinho, como não tenho casa-de-banho, passo a vida a ir a casa (já aqui atrás) fazer xixi; subo escadas, desço escadas, 3 andares, várias vezes ao dia. Pareço maluca.

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