Cartas da Póvoa #2

18.6.18
Querida Bea,

Terminou o ano lectivo. O mais desafiante e estranho ano lectivo de todos até ao momento. Cometeste erros, divertiste-te, superaste dificuldades, desiludiste-te e aprendeste muito (espero). Estás cada vez mais autónoma, sem dúvida, mas não vem nenhum mal ao mundo se tiveres em consideração alguns conselhos meus, pois não? Se pensares bem eu até sou uma pessoa com bom senso (espero).
Nunca duvides que tenho, temos, muito orgulho em ti e não é por seres mais ou menos arrumada que isso vai mudar.
A sério, não precisas de arrumar se isso vai contra a tua religião, ou filosofia de vida, mas como já te dissemos algumas vezes há certas práticas que ajudam a preservar os utensílios que fazem parte do dia-a-dia. Por exemplo, se o forno nunca, ou muito raramente, for limpo provavelmente terá de ir para o lixo daqui a uns tempos. Em muito menos tempo do que se for limpo de vez em quando, quero eu dizer.
E tentar que tudo aquilo que usamos dure mais tempo é uma das atitudes mais ecológicas que podemos ter. Sim, eu sei que não comes carne mais por questões éticas do que ecológicas mas umas e outras cruzam-se.
Depois, quando te digo que há mais vida para além dos amigos e de namorar, eu sei que é difícil acreditar, muito por que não há assim tanto mais, na verdade, sobretudo quando se tem 17 anos, mas há todo um percurso que precisas de trilhar para chegar onde queres, mesmo que não saibas ao certo o que fazer com a tua vida.
E também é sempre bom não esqueceres de onde vens, o que te trouxe até aqui. Mais do que o receio que tomes más decisões, que faças escolhas menos acertadas, custa-me que não escolhas a música seguinte nas nossas viagens de carro, que não sugiras o destino da próxima viagem connosco, que não peças aos teus irmãos para te deixarem em paz, que não tenhas aquelas conversas intermináveis, que eu deixava de ouvir a certa altura. É doloroso isto de deixar que vás à tua vida.
Neste teu percurso é bom que estejas a aproveitar a paisagem, a sorver todos os momentos, mas precisas de estar calçada, agasalhada para o frio e protegida do sol. Precisas de te alimentar e essas coisas que temos de ser nós, enquanto responsáveis pelo teu bem-estar, a providenciar. Mas nós não somos só os teus providenciadores, pois não? (não, pois não?)
Eu quero que tu vás até onde quiseres ir, mesmo não tendo a certeza até onde te levará essa vontade, e temendo que precises mais de mim do que eu e tu achamos que precisas, mas estou aqui para ti. Estarei sempre aqui para ti. Faz o teu caminho e fá-lo de maneira a que sintas orgulho nele.

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