Provavelmente o meu cérebro está a morrer*

16.11.15
A Bea a boiar no mar, em Jaco

Fui ao paraíso e voltei. No paraíso, no ilhéu de Jaco, vi um mar que nunca tinha visto; vi golfinhos ao longe; vi os meus filhos de mãos dadas, no pequeno barco dos pescadores, a tremer de emoção e apeteceu-me chorar; vi corais de muitas cores; nadei com um cardume e, suponho, com o peixe que comi ao jantar. No paraíso também se morre e também se caga atrás dos arbustos (depois de pedir muitas desculpas aos espíritos).
Depois, voltei e vi-me num documentário da vida selvagem, entre Loré e Iliomar. Foram quilómetros a atravessar a selva por uma estrada, que deve ter existido em alguma altura difícil de descortinar, em que as únicas aldeias com que nos cruzámos pareciam da pré-história.
Até a bela da cobra amarela (pronto, arrepiei-me toda outra vez) fez questão de me aparecer pela frente! Só a mim, obviamente, a pessoa com mais medo de cobras do grupo.
E a seguir, já no hotel cheio de tokés gigantes, lá dentro, assim tipo, na sala (a sério, nunca me vou habituar a viver com lagartos, por muito que digam que não fazem mal e que dão sorte e blábáblá. Esta gente nunca viu a série "V a batalha final"?) fico a saber do atentado em Paris e acho que é mentira. Acho mesmo que não me diz respeito, até o Jaime me lembrar que estão lá a Carla e a Helena. Fico tão desconcertada que lhe pergunto o que é que a Helena, que vive em Berlim, está a fazer em Paris?
Ele fica agarrado ao telefone a tentar perceber o que aconteceu e eu fico sem saber o que pensar, apesar de me questionar como é que ele sabia que a Helena estava em Paris e eu não.
Pareceu-me tudo demasiado bizarro. Eu tinha acabado de me cruzar com uma população fantasma que vive no meio da selva. Tinha ido ao paraíso e voltado e a Europa pareceu-me uma coisa do passado, ou do futuro. Não do presente. Esta Europa não é a nossa.

* Usei esta frase, numa conversa, por causa da rapidez com que a minha memória está a desaparecer e pareceu-me um bom título. E os bons títulos nunca fizeram mal a ninguém, acho eu.

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