Falta de ambição

30.4.12
Estava a ler sobre alguém com objectivos muito concretos e o trabalho que isso exige e pus-me a pensar que provavelmente é isso mesmo que me falta. Eu tenho sonhos, vontades mas nenhum objectivo. Não sei sei se sou preguiçosa, ou muito sábia.
Eu nunca escolhi os caminhos mais fáceis, tudo o que seja desbravar terreno, partir pedra, etc. contem comigo, mas depois manter a máquina a funcionar parece-me demasiado aborrecido. Por isso acho que a verdadeira capacidade de trabalho é essa: continuar, fazer a mesma coisa dia após dia, semana após semana, ano após ano (até estremeço) e essa capacidade eu não tenho. Sou, portanto, preguiçosa.
Por outro lado, sempre que é preciso arregaçar as mangas, pagar contas, trabalhar para comer, o que for, sou pau para toda a obra, menos servir às mesas, que a coisa não correu mal, mas eu odiei. Também não  sei ser account de uma agência de comunicação. Mas dei-me bem como assistente de estomatologia e, dentro do género, como operária fabril. Portanto, não sei se é justo considerar-me preguiçosa.
O que sei é que decidir fazer uma coisa e ir à luta é muito nobre, mas ingénuo também, porque o mais provável é irem-se perdendo coisas pelo caminho, que nos poderiam fazer tão ou mais felizes do que essa coisa que se quer alcançar.
Resumindo e concluindo o que interessa mesmo é o que fazemos e não o onde queremos chegar, ou, dito de outra forma, não interessa o destino, mas sim a viagem. É claro que esta é uma conclusão a que ninguém tinha chegado, mas já deviam saber que apesar do que ele disse, eu não sou assim tão inteligente, convivemos é com pouquíssima gente, o que nos torna, aos olhos um do outro, pessoas fora de série.

6 comentários:

  1. Não sei muito bem o que quererás dizer com isso da prossecução de objectivos concretos, e se não estarás a sobrevalorizar esse aspecto, devido ao teu contexto existencial deste momento (provavelmente pensarás que nas tuas actividades diárias não te dás ao trabalho de persistir em objectivos concretos - ainda que dificilmente haja algo mais concreto do que alimentar dois bebés e vê-los crescer dia a dia na proporção directa do alimento dado - a propósito, o teu filho mais novo está bem gordinho... se não gosta de comer, o que é que "toma" para ter aquele ar robusto e apetecível?).
    Eu acho que o acaso, a sucessão de circunstâncias e a forma como estas se organizam correlativamente têm um papel bem mais determinante do que se possa pensar, associado, claro, àquilo que eu chamaria a "pulsão interna" de cada um - a pulsão pode ser criar objectos, frases ou poemas; não falhar dê lá por onde der; ter as coisas certas em cada dia, semana e fim de mês; manter o corpo revestido e aprumado desta ou daquela maneira; sobreviver com a dignidade possível; etc.
    Talvez fosse mais prático deixares de pensar que alguma coisa funciona menos bem em ti, porque efectivamente em todas as pessoas algumas coisas funcionam menos bem, e a esmagadora maioria delas, simplesmente, faz de conta que não é bem assim.
    Desculpe a longa carta sim?...

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  2. Quando digo que ele não gosta de comer quero dizer que não retira daí prazer, como acontecia com o irmão, que devorava os pratos de comida que lhe punha à frente, mas come. Come sopa, fruta e iogurtes de soja por causa da alergia ao leite.

    Quanto ao resto, começo a perceber porque tens consultório sentimental aberto...e se não tens, devias ter :)

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  3. Eu gosto de objectivos, mas acho que só fazem sentido se o processo nos tornar pessoas melhores. E todos somos preguiçosos, somos é todos diferentes na sua gestão. Há pessoas para quem o simples facto de gostar de conforto é sinal de preguiça.
    Criar filhos e questionar o mundo não são preguiça, não te armes.
    Que mania de querer forçar aquilo que não és.

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  4. Desculpa meter o bedelho, mas para mim és sábia. Porque raio é que temos de ter objectivos? Sonhos e vontades, chegam perfeitamente. Irrita-me esta mania agora de termos de ser CEO's no trabalho e na família também.
    safa.

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  5. ele realmente há manias para tudo, valhamedeus.

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  6. Entendo-te perfeitamente, ocorreu-me o mesmo, em adolescente tinha TANTOS objectivos, depois fui para o mundo real lutar, trabalhar e estudar, sair de casa para a independencia a meio do curso, muitas casas, muitos trabalhos (também detestei servir às mesas!), inicei projetos que não terminaram e depois...não sei, agora estou em casa a cuidar dos gémeos e também sem ideias de que fazer em Setembro quando entrarem para o colégio, sim, aqui a partir dos 3 anos é gratuito o colégio! pois, estou sem objectivos! Acho que não somos preguiçosas, mas já lutamos tanto para ter o básico que outros têm como garantido que viver o dia a dia é por si só um objectivo, e também é um objectivo ter filhos, certo? Aproveitar a viagem... Mãe dos gémeos.

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