Do estrugido

25.6.10
Eu sei que isto de estar sempre a trazer à baila referências literárias é muito démodé, muito Carlos Magno (ainda que ele cite toda a gente, não só escritores), mas tenho de transcrever um trecho do livro que ando a ler, porque o Italo Calvino descreveu um estrugido como eu nunca vi, ou li. Ora reparem: "Paira no ar um cheiro a fritos a abrir a página, ou melhor a refogado, refogado de cebola, um pouco esturrado, porque na cebola há uns veios que ficam roxos e depois castanhos, e sobretudo o bordo, a margem de cada pedacinho retalhado de cebola fica preto antes de dourar, é o suco da cebola que se carboniza passando por uma série de cambiantes olfactivas e cromáticas, todas envoltas no cheiro do azeite que mal chega a fritar."

Italo Calvino, Se numa Noite de Inverno Um Viajante, Trad. José Colaço Barreiros, colecção Mil Folhas, 2002

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