Coração lavado

7.3.25

Tal como dizia num comentário, eu costumo pensar sobre o que me apetece escrever e depois vejo como encaixar o tema. Obviamente, desta vez vi-me sem saber muito bem o que dizer. Já tinha decidido escrever sobre a senhora idosa que vive na rua mais íngreme do morro, onde várias pessoas escorregam por dia, sobretudo com o piso molhado, enquanto ela caminha naturalmente, em chinelos de quarto, com as dificuldades normais da idade e a dar os bons dias a quem lhe é familiar. Um dia destes, a caminho do emprego, disse-lhe que com este frio está-se bem é na cama e ela, pois mas a gente tem de fazer as tarefas. 

Entretanto, hoje, a descer a Rua das Flores uma senhora sentada numa cadeira de rodas pediu-me para lhe pôr um cobertor pelas costas e depois de agradecer desejou-me bom dia de trabalho. Não faço ideia como sabia que eu ia trabalhar numa rua cheia de turistas. 

Duas idosas que se cruzam comigo, ou com quem eu me cruzo a caminho do trabalho tem de dar um post, pensei eu. Só que olhei para o telemóvel e verifiquei que ele assumiu que eu estava em Sampyeog-dong, que fica na Coreia do Sul. É verdade que todos os dias falo com sul coreanos, mas o telemóvel não ia situar-me num bairro da província de Gyeonggi, por causa disso, pois não?

Também me ocorreu que devia escrever sobre esta nova realidade que é ver grande parte das pessoas que me rodeiam, sobretudo da minha geração, a sofrer de alguma doença mental. Ele é depressões, distúrbios de personalidade, stress pós traumático, sei lá que mais. O Coração, lavado ou por lavar, está a perder importância. Esta tudo na mente, agora. E nos intestinos.

Depois fui interrompida pelo meu filho que estava a ouvir Valter Lobo e começamos os dois a cantar, no metro, "Só de te abraçar sinto que a música altera-me em tudo mais/A música altera o meu corpo, altera o mundo, altera-se/ Ai meu amor".

Entretanto, escrevi sobre carimbos, porque me tinha enganado no tema e achava que este estava pronto até me cruzar com um post da Cláudia Lucas Chéu que diz, a certa altura: "Nada me comove mais do que um coração lavado". Fiquei de boca aberta, até porque nem sigo a escritora nem nada, mas agora sinto-me na obrigação de ler um livro dela, ou ver a peça que está a dirigir.

Os outros corações lavados:

 Boas Intenções

A Curva

A Gata Christie

Gralha Dixit

2 Dedos de Conversa

O Blog Azul Turquesa

Carimbo

28.2.25

Carimbo é uma daquelas palavras que se torna mais agradável no plural do que no singular. Carimbos remete-nos para brincadeiras, trabalhos manuais, objectos bonitos. Há toda uma estética à volta dos carimbos. Carimbo é uma coisa burocrática, é sempre preciso um carimbo em documentos supostamente importantes. No singular somos remetidos para a parte aborrecida da vida. Em qualquer dos casos trata-se de deixar uma marca, que é o que significa kirimbu, a origem de carimbo (estou muito curiosa para saber se alguém vai abordar a escravatura, apostaria na Maria João).

Eu nasci com uma marca, um sinal no lado esquerdo da testa. Tal como a fantástica Phoebe Waller-Bridge e a maravilhosa Greta Gerwig, de quem já tinha falado aqui. Portanto, não será descabido assumir que quem nasceu carimbado tem fortes probabilidades de ter sucesso na sétima arte (continuo infantil q.b, como se pode ver).

Tenho ido muito pouco ao cinema, infelizmente, mas decidi ir ver o filme da Bridget Jones (é o meu Guilty Pleasure, não me consumam). É claro que gostei e fartei-me de chorar. Vai-se lá perceber!

Também ia chorando quando percebi que tinha trocado o tema desta semana, mas decidi praguejar e acabei por ver vantagens em ter o próximo tema arrumado.

Para ver os restantes carimbos é só seguir os links, onde poderão confirmar que apostei mal:

A Gata Christie 

Gralha Dixit

A curva

Boa Intenções

O Blog Azul Turquesa

Teias de aranha

20.2.25





Tinha acabado de decidir recomeçar a escrever no blog quando fui convidada para me juntar ao grupo que todas as semanas escreve sobre um mesmo tema. Pareceu-me uma sincronicidade daquelas e aqui estou. Gostava de escrever mais, sem pensar em temas, mas escrever é escrever, não vamos complicar. Além disso, todos os assuntos cabem numa vida, ou a vida cabe em todos os assuntos.

Incluindo as teias de aranha, ou sobretudo as teias de aranha. A imagem que me surgiu, não sei se é só a mim que acontece ver o que estou a pensar, foi a de uma teia de aranha linda, que fotografei num dos passeios pelo Minho, e que desapareceu do meu instagram, mas depois fui alertada para a que tinha aparecido no tecto, por cima da lareira (outra sincronicidade?), aquela ali em cima.

Não sei como aconteceu. Não sei se foi crescendo, ou se apareceu de um dia para o outro, sei é que aquele emaranhado de fios enegrecidos pelo fumo da lareira (suponho) deixou-me de boca aberta. Durante uns dias, sim deixámos ficar ali a teia, assistíamos às andanças da aranha e à não vida dos mosquitos que ficavam presos, completamente fascinados. Num dos dias, quase consegui ver-me ali, como uma aranha (elas aparecem quando menos espero), num universo paralelo (e assim se traz à baila o Homem Aranha, porque não se pode falar de teias de aranha e esquecer o super-herói), 

Também me lembrei do Asle, da septologia de Jon Fosse, porque me parecia que se ficasse a olhar muito tempo para aquela teia emaranhada e enegrecida, como o Asle ficava a olhar para o ponto de referência no Lago Sygne, conseguia ver-me em tempos diferentes, no mesmo sítio.

Talvez as teias de aranha escondam uma mensagem secreta, um caminho para o que há de mais sagrado. Talvez estes antrópodes andem a aprimorar as teias há milhares de anos e nós continuemos sem saber o que querem dizer. Sempre à procura de respostas quando estão à nossa frente.

A Rita,  Maria João e a Carla já publicaram as teias de aranha lá de casa. A Mariana e a Joana, também.

Atraso de vida

14.2.25

Atraso de vida parece uma coisa negativa, não parece? Ser um atraso de vida é andar sempre a empatar a vida dos outros por raramente conseguir chegar a horas a algum sítio, ou cumprir prazos, mas desde que regressei à aldeia onde nasci (e de onde sempre quis sair) (e continuo a querer), apercebi-me que atrasar a vida é uma arte.

Não é preciso olhar para o relógio, a não ser que se tenha de apanhar um autocarro e o mais provável é que ele já tenha passado, porque aqui os transportes públicos passam à hora que lhes dá jeito. Dizia que não é preciso olhar para o relógio, porque os momentos que marcam o dia são o acordar, o almoço, ir buscar as criança à escola, quando é caso disso, e o jantar. Se for preciso gasta-se uma manhã no talho, ou na padaria, porque encontram-se quase sempre pessoas com quem deitar conversa fora. Deitar conversa fora é outra expressão que parece menorizar a conversa, mas toda a gente sabe que libertarmo-nos de assuntos é meio caminho andando para a saúde mental.

Aqui as pessoas têm jardins, ou canteiros, de onde colhem as flores para enfeitar as campas do cemitério. E demora-se o tempo que tiver de demorar. Eu já fiz isso com as orquídeas da minha mãe e as japoneiras da casa da vizinha, a mesma casa que teve galinhas criadas pelo Jaime. Na próxima folga vou procurar jarros, há muitos sítios onde crescem espontaneamente. 

Ninguém chega atrasado a lado nenhum. Ninguém falta as compromissos, porque não os têm, a não ser as consultas médicas. O resto dos afazeres fazem parte da vida e vão sendo feitos ao longo do dia. Enquanto não chega a noite vai-se atrasando a vida para durar mais. 

Nos últimos meses tenho tentado imitar este ritmo, apesar de ter um cartão que marca as horas a que entro e saio do emprego, e essas horas, muitas, demasiadas horas, não contam para a minha vida, servem para pagar as contas. As outras horas, sim, são minhas e não quero fazer nada com elas. Quero ser um atraso de vida. 

Há mais atrasos de vida na rede:

A curva

Boas Intenções

A Gata Christie

O Blog Azul Turquesa

Gralha Dixit

Espelho meu

7.2.25

Eu: Espelho meu, espelho meu …

Espelho: Sim, existe

Eu: Nem sequer sabes o que ia perguntar

Espelho: Quantas pessoas achas que há no mundo? Não vale ir ao google

Eu: Oito bilhões

Espelho: Eu sei que foste ao google. Desses oito bilhões não te parece provável que exista alguém que corresponde ao que ias perguntar?

Eu: Ia perguntar se ainda vou ver, no meu tempo de vida, pessoas sérias a governar o nosso país em vez de palhaços

Espelho: Ninguém vem perguntar ao espelho esse tipo de coisas. Já perguntaste ao ChatGpt?

Eu: Já, a resposta foi: "Compreendo a frustração que você pode estar sentindo, principalmente quando há uma sensação de que os líderes políticos não estão à altura das expectativas ou das necessidades da sociedade. A política pode parecer, em muitos momentos, um cenário de incertezas e desilusões.

Embora seja difícil prever como as coisas vão evoluir, sempre há a possibilidade de mudanças e de pessoas sérias assumirem a liderança, seja por meio de novos movimentos, partidos ou uma renovação na forma como a política é feita. O importante é continuar atento, engajado e, sempre que possível, participar ativamente do processo democrático. Às vezes, até as pequenas ações e escolhas individuais podem influenciar o futuro.

Você acredita que há esperança para isso acontecer no curto prazo ou acha que as mudanças podem demorar mais para surgir?" 

Espelho: Olha, o ChatGpt responde com perguntas, ao contrário de mim

Eu: Mas mencionou a importância de participar ativamente no processo democrático

Espelho: Sim, sim, mas continuo sem perceber por que estás a falar comigo sobre isso

Eu: Quando dizes comigo referes-te a quem?

Espelho: A ti

Eu: Não, nada disso. A pessoa no espelho é...não sei bem quem é

Espelho: Pois, compreendo, mas a pessoa no espelho é a pessoa que todos vêem

Eu: E eu posso ser a pessoa que quero que vejam?

Espelho: Pergunta ao ChatGpt

Não gosto de espelhos. Nem gosto que me 'mentem', como diz o artista gaiense, David Bruno. 


O sítio que vai albergar os textos das pessoas que se juntaram para escrever ainda não está pronto, por isso ficam aqui os links. De nada. 

Boas Intenções

A Gata Christie

O Blog Azul Turquesa



Espalhar-se ao comprido

31.1.25

Ora bem, parece que vamos começar um desafio como deve ser e a Joana Valente explica-o aqui muito bem.

Quando vi que o tema proposto era Espalhar-se ao Comprido pensei: ''Aqui está um tema que resume a minha vida". E num relance vi os meus espalhanços a passarem à frente dos olhos: Eu a estudar para ser jornalista e a não conseguir ser mais do que jornaleira; eu a desejar ser mãe e a sair da maternidade com uma bebé chorona, que ainda assim chorava menos do que eu; eu a casar-me depois de viver sete anos com o pai da minha filha e a divorciar-me um ano depois; eu a comprar uma casa em Lisboa e passado dois anos ter de a vender, porque não tinha rendimentos suficientes para a pagar; eu a abrir uma garrafeira e a fechá-la passados cinco anos, e esse foi um negócio bem sucedido, comparativamente ao anterior; eu  aos 50 anos a voltar para casa da minha mãe. Vamos fazer uma pausa. 

...


Porque este último é o melhor, na espectacularidade, ou então é por ser o mais recente. É o equivalente àquelas quedas na passerelle, ou nas escadas para o palco a caminho de receber um Óscar, só que sem essa recompensa. Mas, convenhamos, depois de cada um destes espalhanços houve que levantar e seguir e, ainda, tudo o que ficou para contar, porque como diz Ariano Suassuna ''Tudo o que é ruim de passar é bom de contar''. 

E nós preferimos ter o que contar, não preferimos? Além disso, de que outra forma eu teria viajado, e bebido champanhe, na primeira classe da Air France? Teria insistido em ser a melhor mãe que conseguisse; teria acreditado que melhor é possível; teria passado temporadas em Santa Apolónia, recebido a Mnemónica na Vinharia, no âmbito do Correntes D' Escrita (que está quase de regresso à Póvoa de Varzim); estado com o JP Simões no Aduela, no lançamento d' As Crónicas do Autocarro, do Jorge Manuel Marmelo e, finalmente, como chegaria a Profissional do Turismo (é o que diz o meu contrato de trabalho), se não tivesse obrigatoriamente de arranjar um emprego? Ah? Como?

É claro que eu comecei a escrever essa história, do último espallhanço, a falar sobre o mesmo ponto de partida, em dois tempos diferentes, mas não terminei-a, como todas as outras. Talvez esteja na altura de arranjar um Fim para as minhas histórias.

Enquanto não temos um espaço comum podem seguir os links para ver como se espalharam ao comprido as outras pessoas do coletivo:

O Blog Azul Turquesa

Kaputt 2.0

Gralha Dixit

A Gata Christie

2 Dedos de Conversa

O terceiro paraíso

26.1.25


Pronto, acabei de me reconcliar com o jornalismo, por causa de um artigo no Público de hoje. Não vamos discorrer sobre o facto de o artigo em questão ter sido escrito por um ensaísta e professor universitário, ok? Até porque esse detalhe está muito de acordo com aquilo que o artista Michelangelo Pistoletto defende, acho eu, que é juntar pensadores e artistas de diferentes áreas, além de representantes do sector industrial, para que todos possam contribuir para "uma transformação social responsável".

Bom, também tenho de mencionar a reportagem sobre o ensino profissional, esta, sim, escrita por uma jornalista e bastante bem feita, e poderia destacar outros artigos, mas ainda não os li. 

O que me fez pegar numa caneta para sublinhar e destacar ideias que subscrevo, como por exemplo: "o projecto Love Difference, um movimento que 'combina a universalidade da arte com a ideia de transnacionalidade política' centrada nas políticas para o Mediterrâneo, região que 'reflecte os problemas da sociedade global'.", foi o mesmo que me fez vir aqui escrever, quando já tinha decidido, antes de comprar o jornal e depois de ler a newsletter (não há um termo em português, pois não?), que ia escrever sobre cabines telefónicas  (ainda há 8000), porque já me aconteceu de precisar de uma e andar uns quantos quilómetros à procura e acabar por desistir e pedir o telemóvel a uma pessoa desconhecida. Sim, eu sou essa pessoa que sai de casa sem telemóvel.

Há mais, muito mais, ideias que vale a pena destacar, desde logo a ''demopraxis'' em oposição à democracia - ''Se a democracia é o sistema do poder do povo, a demopraxis equivale à prática do povo. 'É inevitável cada indivíduo ocupar o poder. Os partidos são parte da governança; delegamos o nosso poder a uma ideologia; e cada partido tem as suas ditaduras. Não é uma prática.' A aspiração é agora 'cada um fazer a sua parte.'''

Resumindo, e como sempre defendi: A arte salva. Quando fui à procura do(s) post(s) onde escrevi isto, e li uns quantos que me deixaram espantada com as coisas que já fiz e a forma como escrevi sobre elas (sobre a arte salvar é que não encontrei nada, apesar de ter a certeza que me referi a isso numa das #Cartas  à Bea) não pude deixar de pensar em todas as coisas incríveis da vida das pessoas que desconhecemos. Que os artistas continueam a mostrar-nos as vidas reais, as vidas possíveis e as alternativas, porque não tenho dúvidas de que é isso que salvará a humanidade. A humanidade que restar. 

As coisas

16.1.25

Quando escrevi no post anterior ''Não consigo deixar de ver um certo sentido para as coisas'', fiquei a pensar o que quereria dizer exactamente com coisas. Parece-me que quando nos referimos às coisas, num determinado contexto, queremos dizer tudo, abranger tudo o que conhecemos. O dicionário dá-me razão: ''tudo o que existe ou pode existir real ou abstratamente'' (Infopedia).

Seja como for, fiquei com a palavra às voltas na cabeça, com a sensação que escondia algum mistério, maior do que ''tudo o que existe, ou pode existir''. Pode ser que ande a ler demasiada filosofia para os tempos que correm, mas os tempos que correm exigem isso mesmo, que não nos deixemos ficar pela superfície daquilo que achamos que existe. É preciso ir um bocadinho mais fundo. As contas por pagar, as más notas dos miúdos, a vida transformada em ''métro, boulot, dodo'' não pode ser desculpa para não querer saber.

E decidir que o jantar de hoje é salmão e o de amanhã costeletas, com tudo o que isso implica - compras, cozinhar, ouvir reclamações, não me impede de ler Séneca, ou Santo Agostinho. Nem de querer melhor para os tempos que correm. 

Ver a beleza

12.1.25
Estava sentada no banco, à espera da minha vez - no banco instituição financeira e não no objecto onde nos podemos sentar, e vi uma aranha, não muito grande nem muito pequena, a atravessar a sala. A delicadeza do bicho a patinhar o chão de mármore e o contraste entre a pequenez daquele e a grandeza deste deixou-me comovida. 
Não consigo deixar de ver um certo sentido para as coisas, quando me detenho em detalhes como este. Era como dizia numa conversa, no outro dia: parece-me que a espiritualidade está directamente relacionada com a capacidade de ver a beleza. E a certa altura da vida já não temos como virar-lhe as costas.

Dia de Reis

7.1.25
Para termos um Natal todos juntos, todos os anos, decidimos usar o Dia de Reis para juntarmo-nos - ou seja, comer e beber, e trocar prendas. É claro que é uma pena não ser feriado neste dia, mas vamos ajustando disponibilidades para escolher o dia mais conveniente e mais próximo do dia 6. 
Gosto desta nova tradição na nossa família e quero acreditar que daqui a uns anos, quando todos eles já estiverem nas suas vidas, vamos continuar a ter um almoço, ou jantar de Reis. Por enquanto, somos seis, depois veremos a família crescer, espero eu. 
Virão tempestades, crises económicas, pandemias, novas descobertas, novos líderes, outras guerras, ou a mesmas, mas nós teremos o nosso Dia de Reis. O nosso dia contra as asperezas do mundo. Um dia para nos lembrarmos quem somos
E eu terei sempre um presente perfeito. Sei que sim. O deste ano foi um livro. Foram dois na verdade, mas um deles deixou-me muito emocionada. Foi a minha filha que o comprou e me o ofereceu (tanto sentimentalismo nesta frase!). 
Também poderei, ou não, continuar a escrever, todos os anos, sobre o Dia de Reis, ou sobre o que me apetecer, porque esta forma de comunicar é, como se sabe, muito atrativa, mas quero tentar não perder de vista, o que Marco Aurélio disse, citado pela Irene Vallejo no livro Alguém Falou Sobre Nós: "O que vemos é uma perspectiva, não é a verdade; o que ouvimos são opiniões, não factos. Não devemos esbanjar a parte que nos resta da vida em representações sobre o próximo, se não for pelo bem comum."

Vamos lá

1.1.25

Se eu quero escrever mais em 2025, talvez deva começar já, certo? 

Quando abri os olhos, hoje de manhã, não, ainda não tinha aberto os olhos, só tinha ligado o cérebro, ou a parte dele que pensa, lembrei-me de duas coisas: a partir de certa altura da minha vida, todos os primeiros dias do ano começam com ressaca; e esta foi a primeira passagem de ano em que não senti medo, entusiasmo, esperança, nada, ou nada demasiado avassalador, como é meu apanágio. Subimos o monte com os miúdos, levámos vinho e copos, claro, estavam lá centenas de pessoas, ao contrário do que esperava, vimos os vários fogos de artíficio, no horizonte, desejei Bom Ano às pessoas à minha volta, brindei com o Jaime e atendi o telefonema da Bea, com as habituais inabilidades digitais.

Estava frio, muito frio. Isso senti.

Depois acordei, levantei-me, comi pão com queijo e ovo mexido, bebi café e fui caminhar.

Vamos lá, então, começar 2025!