Carrinho de mão

28.11.25
Eu sou do tempo dos babybloggers, daquele tempo em que íamos para a internet dizer o que nos passava pela cabeça sem medo de julgamentos, vá, sem demasiado medo. Agora, de há uns anos para cá, é impossível fazer isso. Não sei exactamente porquê, mas sei que é assim. Às vezes tento justificar esta falta de vontade de vir desabafar, como noutros tempos, com a sabedoria da maturidade, sim porque uma pessoa aprende a estar calada e repara que só lhe traz vantagens, mas não é isso (até porque se eu fosse assim tão madura não tinha saído do substack num momento de raiva por não encontrar os rascunhos). É outra coisa, é termos percebido que para estar aqui a falar da nossa vida temos de, além de ter uma vida digna desse nome, saber como embrulhá-la de acordo com os gostos actuais. Ninguém quer acordar as bestas adormecidas que de repente têm muitos comentários para fazer. E não há sítios seguros nas redes apesar de muitos de nós quererem acreditar nisso (lá tive de me voltar a inscrever), eu sempre acreditei, porque achava que era preciso levar-me demasiado a sério para temer o que quer que fosse e nunca me dei essa importância. Mas já não acredito. Talvez porque o mundo deixou de me parecer um sítio seguro. Bom, sempre houve sítios mais seguros do que outros em várias partes do mundo e na parte que me tocava eu sentia-me segura. Agora, nem tanto. 
Quando me lembrava dos sonhos que tinha a dormir, podia tentar adivinhar o que me preocupava, actualmente faço-o nas longas insónias onde todo o tipo de monstros me ensombram. Esta noite, por exemplo, eram almas penadas, doenças em forma de pessoas, braços inumanos a levarem-me os filhos, gente a chorar de dor. 
Queria voltar a sentir-me leve, sem dores nos ombros e nos joelhos, sem este peso que carrego mas nem me lembro quando foi a última vez que me senti assim. Houve sempre qualquer coisa a pesar. Há sempre, mas também há carrinhos de mão para transportar os pesos. É só arranjar um a bom preço.

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