Cheguei ao futuro

27.7.18
Fiquei fascinada com a ideia da  Biblioteca Brautigan quando li sobre ela no "Bartleby & Companhia", de Vila-Matas. Trata-se de uma biblioteca que reúne manuscritos que nunca foram publicados, depois de terem sido recusados pelas editoras.
Saber que há um sítio onde se guardam "livros abortados", deu-me vontade de criar um sítio idêntico para os meus artigos abortados.
Na verdade, ao longo destes anos coleccionei mais ideias que nunca chegaram a ser artigos, do que artigos já escritos mas, por qualquer razão, apetece-me inverter o paradigma. A acreditar neste artigo do El País (de 2014), no futuro escrever-se-ão brautigans como agora se escrevem novelas, por isso acho que já estou no futuro.
Os meus brautigans vão estar ali na página com o mesmo nome.

Ah, as férias!

17.7.18

Nota-se muito que começaram as férias? As férias das crianças, claro, porque eu estou há imenso tempo de férias, como se sabe. A novidade é que agora estamos todos, sendo que os únicos com obrigações de horários nos últimos tempos foram as crianças. Portanto, elas estão de férias e nós estamos a tentar não lhes chatear muito o descanso. Ou seja, é birras todos os dias! É que nunca fazem o que queremos. Nunca. Esperneamos, argumentamos e até choramos e elas: nada. Não se comovem nem um bocado. Até nos disseram no outro dia "tu não pareces um pai" e "tu não pareces uma mãe" em diferentes ocasiões. Temos lá culpa de precisar de levá-las ao pediatra e ao dentista, ou de ter de lhes dar legumes. Dizem que comem sopa todos os dias, DUAS vezes por dia, o ano todo e que têm de se deitar cedo por causa da escola e que agora se não há escola podem ir dormir mais tarde e que se estão de férias não percebem porque têm de comer sopa. Nós batemos o pé, esbracejamos, damos murros na mesa e gritamos mas elas sempre impávidas e serenas. A mais velha, naquele limbo entre a empatia pela situação dos irmãos e o desespero dos pais, mais parece o Dwayne.
Um dia destes levámos com o famoso (i.e. merdoso) nevoeiro da Póvoa (não tão "famoso" como o vento, claro) e achámos que seria interessante ir ver a exposição da Frida kahlo em vez de ir à praia. É claro que as crianças tinham outros planos. Não passaram o ano todo a trabalhar para agora se meterem num carro durante 20 minutos para ir ver uma exposição. "Uma exposição?!? a sério que viemos até aqui para ver uma exposição quando eu estou cheio de fome?", grunhiu o mais novo, que dentro do CPF ainda achou que devia referir que conhecia perfeitamente"aquela senhora", das aulas de artes, e que continuava com vontade de ir embora, porque tinha fome.
Começou-me a tremer o lábio e os olhos a saírem das órbitas mas eles sempre naquela espécie de calma, tanto a recusarem perceber do que tratava o documentário da sala quatro, como a mostrarem as incríveis habilidades no parque infantil da Cordoaria, enquanto o pai foi a correr à procura de um multibanco. Eles tinham fome, ou o mais novo tinha fome (lembram-se?) e nós demorámos muito tempo a chegar à esplanada das Virtudes.
Felizmente bebemos vinho suficiente para aguentar até à festa de apresentação dos novos equipamentos do Futebol Clube o Porto, que ficava a caminho da Conga, onde comemos as bifanas necessárias para subir à Torre dos Clérigos e a seguir ficámos cansados o suficiente para não querer saber das reclamações deles.
Fazemos sempre tudo o que eles querem, não percebo porque se queixam tanto.