Quem pensa no que come?

30.6.10

A realidade americana é diferente da nossa. Mas nós sabemos, ou queremos saber, de onde vem a comida que enfardamos todos os dias? O filme é de Ana Sofia Joanes.

A minha marmita

26.6.10

Há um restaurante em Lisboa que serve refeições em marmitas. O dono achou que era um "elemento popular que podia encaixar bem" e eu também acho que sim. É assim, sei lá, rústico e ainda por cima tem um paninho à volta, giro, giro, giro, dizem, que eu ainda não vi.
Enfim, eu que guardei a minha marmita dos tempos em que era operária na fábrica do Sr. Vinhas (e sempre que olho para ela lembro-me daquela vez em que troquei a minha pela da Fátima e comi arroz de frango e ela teve de se contentar com a costeleta), se soubesse que ia estar na moda dali a uns anos tê-la-ia estimado mais.
Bom, pelo menos tenho agora em casa um objecto de culto e não um símbolo da miséria humana que sempre atribuí à minha marmita.

Ainda os filhos

26.6.10
Pois, nem mais, a maternidade tem mesmo corpo de sanguessuga.

Esclarecimento

25.6.10
Eu não gosto de ter como função cuidar dos filhos. Eu sei que é quase criminoso dizer isto porque muitas mães (e alguns pais), ao que parece - eu tenho sérias dúvidas que seja verdade -, adorariam trocar a profissão pela maternidade a tempo inteiro (a maternidade e a paternidade não são sempre a tempo inteiro?).
Eu gosto de ser mãe, claro; gosto dos meus filhos e de cuidar deles, só não gosto é de fazer disso a minha vida, que culpa tenho eu? Mas faço-o. Faço-o porque posso, naturalmente. Faço-o porque quero. Faço-o porque a alternativa (pagar a outras pessoas para adormecer, alimentar e embalar o meu bebé nuns braços que não são os meus) me parece tremendamente pior. Faço-o porque não há nada que gostasse mais de fazer, ou que fizesse mais sentido do que isto. Só isso.

Do estrugido

25.6.10
Eu sei que isto de estar sempre a trazer à baila referências literárias é muito démodé, muito Carlos Magno (ainda que ele cite toda a gente, não só escritores), mas tenho de transcrever um trecho do livro que ando a ler, porque o Italo Calvino descreveu um estrugido como eu nunca vi, ou li. Ora reparem: "Paira no ar um cheiro a fritos a abrir a página, ou melhor a refogado, refogado de cebola, um pouco esturrado, porque na cebola há uns veios que ficam roxos e depois castanhos, e sobretudo o bordo, a margem de cada pedacinho retalhado de cebola fica preto antes de dourar, é o suco da cebola que se carboniza passando por uma série de cambiantes olfactivas e cromáticas, todas envoltas no cheiro do azeite que mal chega a fritar."

Italo Calvino, Se numa Noite de Inverno Um Viajante, Trad. José Colaço Barreiros, colecção Mil Folhas, 2002

Cobiça

24.6.10
É por causa destas e outras coisas que eu gostava de ser a menina limão. Ela, certamente, nunca será doméstica.

A menina

24.6.10
A cada dia que passa é cada vez menos menina.

Continua a não gostar de dormir.

Toca órgão e anda de patins.

Considerou tornar-se vegetariana.

Ao almoço

23.6.10
Uma vez que sou doméstica e que, por isso mesmo, chamei panados e arroz de tomate ao blog, deveria publicar mais vezes refeições. Acontece que, normalmente, os melhores pratos são feitos ao jantar e aí não tenho luz suficiente para fotografar com um mínimo de qualidade, nem paciência para andar em cima das cadeiras a fotografar a mesa. Mas, pronto, deixo aqui o almoço de hoje: folhados de peixe (ontem sobrou garoupa do jantar e já pareço a Maria de Lurdes Modesto) com salada de tomate e pepino.


O bebé

22.6.10

O bebé já não mama.

O bebé só acorda uma vez a meio da noite.

O bebé não tem dentes.

O bebé está grande e precisa menos de mim.


Raridades

20.6.10
Ah, e fui à Trama despedir-me e trouxe Rimbaud de uma livraria rara e ofereci-o a um rapaz raro.

Gays e tricot

20.6.10
Arrumámos restos de lãs e agulhas num saco e fomos até ao Príncipe Real para tricotar (a Bea aprendeu com aquela lã verde alface) mas depois acanhei-me: não conhecia ninguém e toda a gente parecia conhecer-se. Quando chegou a única pessoa que eu conhecia tinha, entretanto, encontrado uma amiga e ficámos na conversa, enquanto os gays se organizavam para começar a marcha.
Às tantas chega a Bea: "Oh mamã, isto não é nada uma manifestação de gays, é uma manifestação do amor"!

Conversa no supermercado ou como começar a gostar muito de brasileiras

18.6.10
- Lindo esse seu rapaz, viu?
- ...
- Vai dar trabalho prá você, vai ter um monte de noras a bater à porta. Muito lindo mesmo.
- É parecido com o pai.
- Ai, isso não sei que não conheço o pai mas a mãe é muito linda!

A mãe, eu, portanto, ficou a olhar para a senhora com uma expressão do género: não sei se sabe mas não é costume dizer-se esse tipo de coisas a desconhecidos mas obrigada, muito obrigada e dava-lhe já aqui um beijo se fosse costume fazer-se isso a pessoas desconhecidas, ai espere aí, por acaso até é, mas eu não costumo fazê-lo, por isso fique só com este olhar de espanto e de eterno agradecimento.

Da maternidade 1

17.6.10
Estar em casa a cuidar das crianças é um privilégio, estar em casa a cuidar das crianças é um privilégio, estar em casa a cuidar das crianças é um privilégio, estar em casa a cuidar das crianças é um privilégio, estar em casa a cuidar das crianças é um privilégio, estar em casa a cuidar das crianças é um privilégio, estar em casa a cuidar das crianças é um privilégio, estar em casa a cuidar das crianças é um privilégio, estar em casa a cuidar das crianças é um privilégio, estar em casa a cuidar das crianças é um privilégio, estar em casa a cuidar das crianças é um privilégio, estar em casa a cuidar das crianças é um privilégio, estar em casa a cuidar das crianças é um privilégio, estar em casa a cuidas das crianças é um privilégio, estar em casa a cuidar das crianças é um privilégio, estar em casa a cuidar das crianças é um privilégio.

Medo

16.6.10
Tenho medo de acidentes de carro; que um avião caia em cima da nossa casa; que um dique rebente quando estivermos a acampar perto de um rio; que uma árvore, ou a grua aqui do lado, caia em cima de nós; tenho medo do cancro. Tenho medo destas coisas muitas vezes, sobretudo à noite, e chego mesmo a ficar com aquele frio na barriga e a sentir que não entra ar suficiente nos pulmões. Mas eu quero que o medo se foda (é, estou a abusar nos palavrões mas isto já passa).

Porcos

15.6.10
Foi mais umas daquelas vezes em que me aconteceu olhar em volta e ver animais, muitos animais. No Pingo Doce, às 10h da manhã, as pessoas acotovelavam-se para chegar primeiro à carne, ao peixe, aos legumes, como se houvesse falta de alimentos no país. Sabemos que há falta de dinheiro mas, caralho, o que não falta é carninha da Irlanda e verduras de Espanha nas prateleiras!
O que é curioso é que quando nos vemos assim, como animais, vemos porcos. Porque será? Já o Miyazaki transformou os pais da Chihiro em porcos e Marie Darrieussecq transformou a protagonista de Estranhos Perfumes numa porca. São os dois exemplos de que me lembro mas deve haver mais.
E depois fico a sentir-me uma filha-da-puta de merda que come vacas bebés abatidos na Irlanda entre os 8 e os 12 meses. E, ainda que não seja eu a comê-la mas o meu bebé da mesma idade que o vitelo, fico furiosa porque devia procurar alternativas, que as há, e fazer alguma coisa para mudar o mundo e tal.
Não trouxe a vitela, trouxe o novilho, porque não sei com que idade é abatido e a ignorância dá-nos muito jeito!
14.6.10
É impressão minha ou toda a gente é desainer? Também quero ser desainer.

Fim-de-semana

13.6.10
Toda a gente gosta de fins-de-semana, claro, mas os meus são particularmente bons (a maior parte, pelo menos), porque, entre outras coisas, o bebé tem o pai a cuidar dele e eu posso divagar nas minhas actividades preferidas. Daí o cinema e o adiantar da costura e o começar um novo livro, depois do último do Mário de Carvalho, e o início do Climas e...
Por isso aqui está o top do quilt que comecei este fim-de-semana. Ainda vou fazer uma cercadura (tecido a toda a volta) lisa, acho eu, para ficar um pouco maior.

E agora sigo para Ópera.

O patchwork é kitsch 5

11.6.10

O início de mais um quilt.

Shrink

10.6.10
Fui ver o Kevin Spacey (um senhor!). Fui pelo actor e porque não me apetecia ir ao El Corte Inglès, pelo Nada Pessoal, nem ao Saldanha, pelo Ervas Daninhas. Gostei do filme mas isso é irrelevante (não vou estar aqui a fazer crítica cinematográfica, afinal de contas já deixei clara a minha superioridade intelectual com as escolhas que referi subtilmente).
Porque estou num daqueles dias connected (em português não tem o mesmo significado) com a humanidade, entristeceu-me o homem do acordeão a tocar no meio da rua, apeteceu-me dar-lhe um abracinho. Condoí-me pelas senhoras que almoçavam sozinhas no Amoreiras, todas tão distintas com as mãos tão encarquilhadas...Mas, pronto, as pataniscas com arroz de feijão estavam boas, o rapaz que se sentou ao meu lado no cinema mudou de sítio quando o filme começou e, como só éramos os dois, a senhora avançou o intervalo.

Estou preocupada

9.6.10
Porque, se calhar, tenho um problema. Ora passo horas agarrada à máquina de costura, ora a ler desenfreadamente, e a morrer de inveja da senhora que edita os rapazes do Prémio Saramago, ora a facebookar e a blogar. Às vezes até me ponho a escrever, ou a achar que poderia fazê-lo. Faço isto, claro, nos intervalos das sopas, das fraldas, do pronto-pronto-pronto-tadinho-meu-amor-lindo-o-que-foi-o-que-foi-diz-à-mamã, etc.etc.etc. Ora, isto não me parece uma forma saudável de viver a vida. Devia estar focada em alguma coisa. Haverá algum medicamento para isso? Até podia ser que deixasse de falar tanto de mim...

O patchwork é kitsch 4

8.6.10
É impossível ficar indiferente a esta preciosidade, mesmo quem nunca se interessou por tecidos e afins:

Rotinas

8.6.10
As rotinas são nossas amigas, as rotinas são nossas amigas, as rotinas são nossas amigas, as rotinas são nossas amigas, as rotinas são nossas amigas, as rotinas são nossas amigas, as rotinas são nossas amigas, as rotinas são nossas amigas, as rotinas são nossas amigas, as rotinas são nossas amigas, as rotinas são nossas amigas, as rotinas são nossas amigas, as rotinas são amigas, as rotinas são nossas amigas, as rotinas são nossas amigas, as rotinas são nossas amigas, as rotinas são nossas amigas, as rotinas são nossas amigas, as rotinas são nossas amigas, as rotinas são nossas amigas, as rotinas são nossas amigas, as rotinas são nossas amigas, as rotinas são nossas amigas, as rotinas são nossas amigas.

É bom ir mas sabe bem regressar

6.6.10
"(...) devia-se estar consciente - de acordo com Magris, no seu prefácio de El infinito viajar - de que, precisamente no espaço doméstico, no lar, é onde o viajante empedernido joga realmente a vida, a capacidade ou a incapacidade de amar e construir, de ter e proporcionar felicidade, de crescer com coragem ou agachar-se no medo." Vila-Matas (ainda).

e acabam-se as citações do "DiárioVolúvel", até ver.

Metáforas

6.6.10
A malta vai de fim-de-semana cheia de mazelas. Apanha sol, dá uns mergulhos, come marisco, bebe um vinho branco no terraço e acaba-se tudo. O pequeno, por exemplo, saiu de casa com o nariz naquele estado, quando chegou estava curado.

Lisboeta

2.6.10
Vou passar o feriado ao Algarve. Volto já.

Ambientalices

1.6.10
(saco do pão feito com resto de uma toalha de mesa que foi preciso cortar)


Já se sabe que sou uma rapariga preocupada com o ambiente. Os três R's são levados a sério cá em casa e mesmo assim é uma tragédia: reduz-se, reutiliza-se e recicla-se (ou leva-se para reciclar) mas o lixo está sempre aqui aos montes. Acontece que a medida de levar o saco de casa para as compras deu resultados, ou seja, os sacos de plástico acabaram. E agora eu pergunto, onde é que ponho o lixo comum? compro sacos de lixo?

De hoje

1.6.10
Ia dizer que o bebé caiu e pisou o nariz e que eu fui ao ginásio e, talvez, fizesse uma referência ao calor e à falta que o café me faz (sim, jotaxis, também não temos café); se calhar até falava da roupa que é preciso dar ou passar a ferro, brunir, engomar e do quanto costumo ficar quilhada, fodida, passada dos cornos com as domestiquices mas, bom, acho que fico calada. Ou então aproveito para dizer que tive um bom serão, desses mesmo.