Home sweet home

30.3.15
A minha mãe está na fase em que se quer suicidar. É tão bom voltar a casa.

Há trabalhos muito duros

26.3.15
Estão a ver aquela foto, dois posts abaixo, com o Nicolau deitado numa rede? Pois bem, estávamos num hotel em Odiáxere e eu conto tudo aqui.

Sorriso amarelo deve ser isto

26.3.15
Uma pessoa sabe que os anúncios publicitários com mamãs e crianças não são assim tão parvos quando o nosso filho mais novo nos diz que está a pintar as pétalas de uma flor da cor dos nossos dentes e lábios, isto é, amarelo e rosa, respectivamente.

A casa transforma-se

25.3.15
Pusemos a estante de prateleiras na cozinha. Acondicionámos massas, sementes e cafés em frascos. Guardámos bolachas em caixas de metal. Arrumámos garrafas de azeite e embalagens de chás. Colámos um daqueles papeis de prateleira dos anos 50, na prateleira de cima. 
Ficou bonita. 
Depois transformou-se. Um prego que caiu de algum sítio pousado ali no canto. Uma lanterna esquecida. Três quadrados de chocolate embrulhados em alumínio. É assim, a casa transforma-se sempre. 
É muito melhor filosofar sobre as transformações da casa do que ir arrumá-la. É assim.

Como nos filmes

23.3.15

Eu pensava: um dia vamos estar num restaurante, os cinco, a comer ameijoas e a conversar descontraidamente e depois vamos terminar o vinho na esplanada, enquanto eles brincam num pátio. Vamos dormir a noite toda, sem termos de nos levantar para ir buscar leite para um, procurar a chupeta do outro, ou acalmar pesadelos. Vamos tomar o pequeno almoço juntos com calma, e silêncio qb, e depois planear o que se segue.
Pois esse dia chegou, com banda sonora e tudo.

Uma merda

20.3.15
Nos dias em que estou mesmo, mesmo irritada, sem qualquer razão aparente, a não ser a TPM, o eclipse do sol, ou algum factor meteorológico, acho que tudo é uma merda. 
O céu cor da barriga de uma baleia, como o de Lima, no livro do Bryce Echenique, é uma merda. Os meus filhos estarem em casa a espalhar os papeis do IRS de 2009 para trás é uma merda. Ter pão a cozer que se chama "pão saúde" mas leva E491 e E170 é uma merda. Preparar as malas para amanhã irmos passar a noite a Lagos é uma merda. Ter um bolo de iogurte, aromatizado com canela e cardomomo, que ninguém está interessado em comer, é uma merda. As flores do google são uma merda. Este blog é uma merda. Ter como companheiro um executivo, que não se parece nada com um executivo mas é bastante executivo, mais do que bastante, aliás, é uma merda. Até este cheiro a pão espalhado pela casa é uma merda.

Coisas importantes

18.3.15
pelo Isaac (aquela figura no desenho sou eu de totós!)

Estávamos à mesa e o Nicolau rabiscava num papel "coisas importantes". Fiquei muito curiosa sobre que coisas seriam essas e pedi-lhes que as identificassem.
Então, fiquei a saber que para o Nicolau coisas importantes são:
- O que o pai faz no trabalho
- Comprar legumes
- Alguém magoar-se no jardim.

Para o Isaac:
- Fazer listas de compras
- Cuidar de crianças
- Comprar frutas
- Fazer o que os pais dizem
- Não ir sozinho para a rua
- Olhar sempre para as estrelas

Perguntas que eu gostava mesmo de saber a resposta

18.3.15
Digam lá, depois de ler a última resposta*, neste entrevista, acham a Ana Cássia convencida, realista, ou as duas coisas?


*O livro tem recebido alguma atenção por parte da comunicação social. Está surpreendida?
Não. Eu sei que o livro tem alguma força. Está bem escrito, e isso não é muito normal. A maior parte dos livros que se publicam estão mal escritos. Por isso, tem essa vantagem. Além disso, eu abordo assuntos que as pessoas geralmente não abordam na primeira pessoa, por isso é um livro corajoso. Escrevo sobre a sexualidade feminina, o erotismo, a maternidade, o desejo feminino, assuntos sobre os quais não se fala. Portanto, nesse aspeto, não estou surpreendida.

As nossas crianças

16.3.15
Acho que já deixei algumas pessoas chocados por dizer que não gosto particularmente de crianças. Acho-as interessantes do ponto de vista psicossociológico mas não retiro grande prazer da sua companhia.
Quer dizer, eu gosto de comer, beber e conversar e toda a gente sabe que as crianças são um empecilho, neste particular.
O que não significa que não goste da companhia dos meus filhos. Gosto, quase sempre (e em relação ao que sinto por eles, creio não precisar de explicar).
Acontece que tenho de fazer com eles aquilo que outras pessoas fazem com os cães, que é levá-los a passear para que possam correr em liberdade e, muitas das vezes, cagar no meio do chão. Ora, em muitos dos sítios para onde vamos correr e brincar costumam estar outras crianças e cães também, óbvio. Nem sempre é fácil. 
Por isso, foi com grande alegria que conheci o rapazinho vestido de Jake (do "Jake e os Piratas da Terra do Nunca"), que desferiu uns quantos golpes no Nicolau, com a sua espada de madeira, enquanto o Isaac varria um chão de terra com um ramo de palmeira. 
Ah, finalmente uma criança com quem os meus filhos podiam brincar. A certa altura a espada desapareceu (suponho que mãe a tenha tirado) e lá tive eu de arranjar mais uma vassoura. 
Aquele jardim ficou um mimo, é só o que vos digo. 

Descendo de uma família de mulheres

16.3.15
A minha bisavó Laurinda, mãe da minha avó que já viram por aqui, era uma espécie de fitoterapeuta. Conhecia muito bem as plantas e com elas curava várias mazelas às pessoas da aldeia.
Acho incrível que nenhuma das filhas, ou netas e neto, tenham aprendido alguma coisa com ela. Tentei que se lembrassem, perguntei à minha mãe, que foi criada pela avó, mas a única coisa de que se lembra é de a ver curar a febre com um copo de água em cima da cabeça (ela diz que viu várias vezes a água ferver dentro do copo, enquanto a febre desaparecia) e de umas mistelas com urtigas.
A minha avó também não tem memória das plantas que a mãe usava. Lembra-se de ela ter mau feitio, de se ter revoltado contra o padre e a igreja, por ele se ter negado a entrar com o compasso em casa dela no dia de Páscoa.
-Mas ele fez isso por causa dela curar pessoas?
-ah?
-ELE FEZ ISSO POR CAUSA DELA CURAR PESSOAS? (é tão difícil falar com moucos...)
-Não, não. Foi porque ela albergou em casa a Ermelinda, que tinha um amante. A pobreza era muita. O meu pai antes de morrer em França (II Guerra Mundial) passou uma procuração a um amigo, que lhe roubou tudo. A minha mãe vivia com nós a três mais o pai dela, o meu avô Joana (chamavam-lhe assim, por causa da mãe dele). Eu gostava muito do meu avô.
Depois desse dia da Páscoa, em que a minha mãe saiu de casa a chamar nomes ao padre e a todos os que iam no compasso, o meu avô morreu de desgosto. Era muito religioso. A minha mãe nunca mais entrou na igreja, até esse padre morrer.

Em suma, todo o conhecimento da minha bisavó Laurinda morreu com ela mas fiquei a saber que houve um homem na vida da minha avó de quem ela gostou, o meu trisavô Joana.
É certo que ela teve um marido, durante uns anos, antes de ele desaparecer no Brasil, mas nunca a ouvi falar dele com o mínimo de afecto. Costuma referir-se a ele como o "Jerico".

Há sensações universais 11

13.3.15
"Não é todo o dia que se quer ver um pastoso Van Gogh ou ouvir uma crocante fuga de Bach, ou amar uma suculenta mulher, mas todos os dias se quer comer, a fome é o desejo reincidente, é o único desejo reincidente, pois a visão acaba, a audição acaba, o sexo acaba, o poder acaba mas a fome continua, e se um fastio de Ravel é para sempre, um fastio de pastel não dura um dia."

Luis Fernando Verissimo, O Clube dos Anjos, Publicações Dom Quixote, 2001

Vazia

12.3.15
Os rapazes têm vindo a acordar cada vez mais tarde. Tem sido uma mudança muito gradual mas os tempos em que esta casa fervilhava às 6h30 da manhã terminaram.
Hoje, acordaram ainda mais tarde do que o costume, quase às 9h00, e por isso a ida para a escola foi apressada. 
Suponho que a pressa matinal seja o dominador comum de todos os pais de crianças pequenas mas não costuma ser o nosso. 
Se calhar foi por isso que os deixei tão contrariada, mesmo sabendo que já aconteceu mais vezes ir levá-los igualmente apressada para não chegarmos atrasados. 
A diferença foi a expressão que vi no Nicolau. Uma expressão que nunca tinha visto. Foi isso.
Regressei a casa vazia de filhos, eu, não a casa. É precisamente para ficar vazia de filhos que os deixo ali, entregues aos cuidados de outros e às vezes é um vazio bom, às vezes é um vazio mau. Hoje é um vazio mau.

Horas

11.3.15
Perguntaram-me, hoje, ali para os lados da Graça: "Tem horas que me diga, se faz favor". Não tinha. Segui o meu caminho mas não conseguia deixar de pensar na pergunta. "Tem horas que me diga, se faz favor". A imagem do rosto, onde se destacavam o cabelo comprido preto da tinta e o diastema nos dentes de cima, ia-se diluindo mas a pergunta insistia em continuar comigo.
"Tem horas que me diga, se faz favor".
Pode não parecer mas a pergunta é estranha. Primeiro, já pouquíssimas pessoas perguntam pelas horas, porque toda a gente tem telemóveis e depois, se eu de facto tivesse horas, porque raio não lhe diria?

Resumo de uma vida

10.3.15
"Umas vezes fome, outras barriga cheia", Emília Correia
"Foi guardar gado, roçar mato e tratar da terra", Benvinda Marques
"(...) ir à escola aprender a ler e a escrever com o professor Oliveira, contra quem a turma se virou um dia por ele querer bater num; o trabalho nas terras do pai; as raparigas que 'só queriam namoro'; aquela altura em que foi para o Entroncamento fazer serviços de carpintaria para a CP", Manuel Rafael dos Santos

Resumidamente, são estas as memórias que três centenários, entrevistados pelo Público, guardam de uma vida inteira.
Ou seja, andamos todos aqui a ocupar gigabytes com assuntos que não interessam para absoluta e rigorosamente nada.
Por outro lado, daqui a 60 anos posso dizer: "Tive um blog, está lá a minha vida", mas o mais provável é sair-me: "Ter 100 anos é uma merda!".

Bêbeda desmazelada

9.3.15

Acho que devo referir que este fim-de-semana fui a uma vernissage de calças pretas, isto para que não pensem que sou uma bêbeda desmazelada.
Bem, no evento havia álcool, devo dizer, e horas antes tinha permitido que os meu filhos entrassem mar dentro num dia bastante primaveril para um início de Março, é certo, mas para todos os efeito num dia de inverno.
Talvez bêbeda desmazelada me assente bem, ao fim e ao cabo.

Quando digo fato de treino

9.3.15
Não me refiro ao tipo de vestimenta usada por estes Tenenbaums, apesar de já nos ter ocorrido andarmos todos vestidos assim durante um dia, não necessariamente no Carnaval.

Missão cumprida

6.3.15
Tinha de ir ao El Corte Inglés usar um talão de desconto que terminava hoje e por isso aproveitei a distância para fazer a minha caminhada até lá. Quando entrei, pus-me a imaginar o que pensariam as pessoas ao ver uma gaja de fato de treino, naquele supermercado, com três garrafas de vinho nas mãos.
Obviamente, as pessoas que lá estavam tinham mais em que pensar e eu regressei a casa treinada e abastecida. 
Pronto, não resisto, se calhar pensaram que eu vinha de um ginásio qualquer ali da zona e aproveitei para ir comprar o risotto e o vinho para o jantar que ia dar mais logo. Não lhes deve ter ocorrido que faço caminhadas como as pessoas idosas e que bebo quantidades consideráveis de vinho tinto.
Atenção, se virem pessoas de fato de treino a comprar vinho num supermercado, ou garrafeira, não partam do princípio que sou eu, pode ser o Manuel João Vieira, por exemplo.

Não percebo

5.3.15
Depois de avisar que ia jantar fora com uma amiga ouço-o dizer em tom de euforia:
- Bea, vamos poder comer comida processada, no Sábado! E depois correram um para o outro e abraçaram-se emocionados.
Juro que não percebo, esta semana até fritei bolinhos de bacalhau e tudo, daqueles comprados congelados. 

Até parece que me estou a exibir

2.3.15
Ele é listas de peças de teatro, listas de escritores, até parece que me estou a exibir. E estou, na verdade, mas o mais estranho é que nem sequer acho que tenha razões para o fazer.

As gajas devem estar loucas

1.3.15
Recebi uma mensagem sobre o projecto da Aida e pensei: "Outra vez as mulheres. Queres ver que o feminismo vai virar moda e vamos ter barbearias para feministas; colecções Primavera/Verão para mulheres que lutam pela igualdade de direitos; promoções para conseguir o look Frida khalo (estou tão à frente, com as minhas sobrancelhas e farto buço!); capas de jornais de referência com mamas descaídas ou, melhor ainda, lábios de pipis descaídos; mães a invadir restaurantes finos com as crias a mamarem das suas tetas, ao lado de mães que não amamentam por variadíssimas razões, etc. etc."
Isto tudo em milésimos de segundos, porque a cena da livraria de mulheres começou como que a explodir fogo de artifício na minha cabeça. Assim de repente, uma livraria de mulheres seria o local privilegiado para, finalmente, elaborar a minha lista de escritoras que tiveram filhos e tentar perceber qual o papel da maternidade na sua escrita. Ou, simplesmente, ter acesso a livros escritos por mulheres que nas livrarias generalistas normalmente não se tem.
Também há livros escritos por homens que não se encontram nas livrarias generalista, pois claro, mas não se vai abrir uma livraria de homens, por causa disso, pois não? Talvez, daqui a uma centena de anos, quando estiverem em minoria entre os clássicos da literatura.
Voltando à livraria, li tudo o que havia para ler sobre a Confraria Vermelha e fui ouvir a Aida na apresentação do projecto, aqui em Lisboa. E que marabilha foi ouvir a parte que ouvi (tive de sair a meio). É impossível não ficar grudada na Aida, não só pela forma como fala, e juro que não tem nada a ver com a pronúncia, apesar de assumir que, desde que vivo na capital, quase tenho orgasmos quando me falam em portuense, ou como conta histórias mas, sobretudo, pela notória paixão que nutre pelo sonho que persegue há alguns anos.
Se puderem, contribuam na campanha de crowdfunding, porque eu queria muito ter uma livraria destas em Portugal (há cerca de 50 espalhadas pelo mundo). Não que o vosso dinheiro deva ser aplicado na concretização dos meus desejos, obviamente, mas ao fim e ao cabo é uma razão como outra qualquer para gastarem cinco euros bem gastos.

Mas há uma razão ainda mais egocêntrica para falar sobre isto. É que a Aida costuma exemplificar a necessidade de uma livraria deste género com um jogo que consiste em dar uma lista de mais de uma centena de escritoras e propõe que indiquemos dez que conhecemos bem, mesmo que não tenhamos lido nada delas. Depois, dessas dez devemos identificar cinco, cuja obra conhecemos, ou que tenhamos lido alguma coisa.
Primeiro, fiquei em estado de choque com o número de escritoras que não conheço. Depois, ao identificar as que conheço e as que já li (a negrito) fiquei a sentir-me menos mal: