SMS

27.2.13
Recebo o sms: "não se podia dizer que amava a sua mãe. Sua mãe lhe doía, era isso." Pois é, é mesmo isso, pensei, mas não respondi.
Mais tarde perguntei-lhe onde a leu e ele disse que não me dizia por eu ter ignorado o sms. Perguntei-lhe se era da Clarice Lispector e ele ficou chocado. Até o meu gajo acha estranho eu ser tão "inteligente".

Uma das melhores notícias dos últimos tempos

27.2.13
O grupo mais fabulástico de todos os tempos voltou (para quem não percebe do que se trata, mesmo lendo uns quantos posts, aquilo é um sítio onde se propõe, discute, vota e resume sessões de cinema em casa uns dos outros. Isto para explicar a coisa muito resumidamente, porque há todo um universo paralelo muito difícil de explicar).

Nunca o Homeschooling me pareceu tão urgente

25.2.13
- Oh mamã, o Salazar, afinal, não foi assim tão mau.
- Ah!?!?!?!? (acho que devo ter feito uma expressão assustadora)
- Calma, eu não estou a dizer que ele foi bom, só disse que se calhar não foi assim tão mau, sobretudo se tivermos em conta que o país tinha saído de uma crise financeira e que, ainda assim, durante o Estado Novo foram construídos hospitais, pontes, barragens e vários edifícios públicos, como bibliotecas.
- Pois foi. É claro que metade da população vivia na miséria e cerca de 70 por cento era analfabeta, mas, sim, com o Salazar não tínhamos dívidas.
- Pois, acho que os cofres estavam cheios de barras de ouro.
- Pois, é uma pena esses detalhes da ditadura e da miséria estragarem a História enquanto ainda estão na memória de tantas pessoas.

Acidentes

24.2.13
Não sei quais são as probabilidade de uma pessoa ir a um parque infantil com os filhos e sair de lá com as canelas esfareladas, mas hoje eu fui uma dessas pessoas.
Como é que tal coisa aconteceu é um mistério, porque quando dei por isso estava estendida no chão absolutamente surpreendida com o sucedido e, logo a seguir, a agonizar com as dores. É claro que me levantei como se nada fosse, disse que estava tudo bem e voltei a olhar para cima, que era onde estava o Isaac, mas pouco tempo depois estava sentada num muro afastado a chorar como uma menina. Sim, a chorar. E já tive três filhos e já me coseram a barriga e a pássara com a anestesia a fazer pouco efeito, mas chorei na mesma, porque as dores eram tantas, que eu cheguei a pensar que tinha partido umas das pernas.
Quando acalmei pus-me a pensar como é que poderia ter evitado aquele acidente e, sinceramente, não sei, porque não vi que aquele espaço por onde tentei passar a correr tinha uma barreira ao nível das canelas e é por isso que os acidentes são a maior estupidez que nos pode acontecer. Os acidentes evitam-se até certo ponto, porque a natureza dos acidentes é acontecerem.

Bolsas

23.2.13
Ando em experiências, a ver se saem umas bolsas giras para o Oporto Lobers. Eu sei que andamos a prometer novidades e que elas nunca mais chegam, mas há partos mais complicados do que outros.

Fim do mês

22.2.13
Três coisas em vou gastar o meu primeiro salário:
1- Pagar a prestação ao banco da casa do Porto, agora que não há inquilinas a pagar uma renda;
2- Comprar um óculos novos, porque os meus estão partidos e já não podem ser soldados outra vez;
3- Comprar um desenho.

Coisas boas do meu novo emprego

22.2.13
Ter a Maria do Céu Guerra a pedir-me para arquivar umas peças de Shakespeare e para encontrar o texto Retábulo das Maravilhas, de Cervantes.

Acordar cedo

21.2.13
Esperamos que a escola abra e eles entram, ensonados e bem dispostos. Deixo-os a brincar sozinhos e vou apanhar o metro.
Eu costumo vir trabalhar de autocarro mas, levando-os eu à escola, tenho de fazer um percurso diferente. Vou a passos rápidos, a evitar as poças de água, a contornar os carros no passeio e sei que é demasiado cedo. É demasiado cedo para estarem na escola. É demasiado cedo para andar na rua. É quase demasiado cedo para misturar o leite com o vinho de há umas horas atrás.
Depois entro no metro e encho-me de um enternecimento inexplicável por aquela gente toda. Por estar ali com aquela gente toda, qual deus feito homem (definitivamente estive demasiado tempo em casa).
Esta espécie de elevação espiritual nas catacumbas do metro, rodeada de pessoas antipáticas, pode parecer estranha, mas este cenário, muitas vezes dantesco, faz-me sentir parte de alguma coisa. Não sei explicar. É como se toda a condição do homem se condesasse naquele espaço, naquele momento.
Encho-me de enternecimento, dizia, e apetece-me começar a dizer a todas aquelas pessoas que não sofram, que muito daquele sofrimento é completamente inútil, mas imagino que vão pensar que sou maluca e fico calada.
Depois as portas abrem-se e saímos todos da caverna, sem nunca sair da caverna.

Criar os filhos, ou a ciência da educação

20.2.13
Recebi um e-mail, muito bem escrito, a falar-me deste livro e, apesar da palavra sucesso me arrepiar, sobretudo associada a crianças, houve duas ou três coisas (um dos livros do ano do The New York Times; resultado de um conjunto de estudos inovadores em várias áreas; o factor decisivo para o futuro das crianças é a formação do seu caráter e não as competências cognitivas) que me fizeram querer saber mais sobre ele.
Depois de ler o texto da revista do Expresso fiquei a saber que o autor é jornalista, que tem um filho de quatro anos e que nunca vou deixar de ficar espantada com as conclusões dos estudos que se fazem nesta área.
Diz o autor que quando as crianças são pequenas é sempre melhor dar-lhes mais atenção em períodos de stress, ou em crises de choro (será que alguém ainda duvida disto? pergunto eu), mas a partir dos 2 ou 3 anos é preciso fazer exactamente o contrário, porque aqui as crianças precisam de desafios e de independência, não de excesso de zelo parental. Devem aprender experimentando e errando, a cair e a levantarem-se sozinhos (o que também não será grande novidade, digo eu).
Mas, pronto, a escreverem-se coisas sobre as quais já sabemos (ou achamos que sabemos) pelo menos que sejam assim, que nos mostrem a importância de formar o carácter de alguém (pelos vistos pode mesmo ser formado) em vez de insistirmos na parvoíce do QI. 

P.S O título do livro também me chamou a atenção, sobretudo depois de saber que Portugal é um dos países em que os riscos de pobreza ou exclusão das crianças mais aumentaram nos últimos quatro anos.

A [catalogar] recensear o Dióspiro

20.2.13
"O nosso amor parecia uma história de fadas
o encanto girava que nem em quatro rodas
depois as rodas deram umas guinadas
e descambou tudo num conto de fodas"

Daniel Maia-Pinto Rodrigues, Dióspiro, Poesia Reunida 1977-2007, selecção e organização de Luís Miguel Queirós e José Carlos Tinoco, Quasi Edições, 2007.

(Versão actualizada depois de ter sido chamada a atenção para o facto de que catalogar livros sem código não é catalogar)

Das pessoas normais

19.2.13
Se calhar vou dizer uma coisa tão verdade "de la palisse" que até mete nojo, mas esta coisa das pessoas normais é um logro, porque parece-me cada vez mais evidente que as pessoas andam todas a fazer de conta que são normais. Ou quase todas, pronto.

Este blog

17.2.13
Estava aqui a pensar no que este blog já fez por mim. Além de, possivelmente, me ter ajudado a lidar com as coisinhas de todos os dias, ao servir de fossa séptica para as merdas que sinto vontade de deitar cá para fora, este blog fez duas coisas extraordinárias: trouxe pessoas novas para a minha vida e arranjou-me um emprego. Portanto, acho que não será exagero dizer que este blog é espectacular.
E só não é para lá de espectacular porque falta-lhe fazer mais uma coisinha por mim (visto que proporcionar-me um rendimento para pagar as contas é uma coisa que este blog não sabe fazer), que é pôr-me num dos episódios do Odisseia. Até tenho uma ideia de como poderia ser a cena e tudo: Começava comigo a passar por eles a correr feita louca, a segurar o Nicolau debaixo dos braços (assim como as pessoas que não sabem pegar em bebés) com um lama atrás de mim. Eles ficavam a olhar para nós, depois olhavam um para o outro, encolhiam os ombros e continuavam a andar e a conversar sobre qualquer coisa. Mais à frente a cena repetia-se e a seguir apareciam os três (o Gonçalo, o Bruno e o Tiago) a discutir, na narrativa paralela. Pelo vistos nenhum deles tinha escrito aquilo.
Voltam à cena em que estou a fugir de um lama com o Nicolau nos braços e decidem perguntar porque é que é que eu estou a correr. E eu digo que estou a fugir do lama, sempre sem parar de correr. Depois passo perto deles, peço-lhes para segurarem no Nicolau e continuo a correr com o lama atrás de mim. Entretanto aparece o Jaime e diz: "Ah, estás aí Nicolau. A mamã?". O Bruno reponde-lhe que eu andava a fugir de um lama e o Jaime olha para ele com cara de "pois, estou a ver" e pergunta se o Nuno Lopes vai aparecer. Eles respondem que não sabem. Entretanto, aproximam-se a Bea e o Isaac, que diz que quer fazer cocó. O Jaime despede-se deles, diz que gosta muito do programa e pede-lhes para me avisarem que seguiu para casa com os miúdos.
A seguir o Gonçalo e o Bruno arrancam na autocaravana e um bocado mais à frente vêem-me a fugir do lama. O Bruno põe a cabeça de fora e grita que o Jaime pediu para avisar que já foi para casa com os miúdos.
Não sei, mas acho que isto um bocadinho mais trabalhado era capaz de resultar.

Perguntas que eu gostava mesmo de saber a resposta

15.2.13
Sou só eu que deixo cair umas lagrimitas a ver o "So You Think You Can Dance"?

Coisas boas do meu novo emprego

14.2.13
Ultrapassada a angústia de escolher entre os livros que ficam e os que saem, decidir ficar com este por achar que todas as bibliotecas, por mais pequenas que sejam, têm de ter um livro de semiótica.

O que vestir

13.2.13
Logo a seguir à terrível ansiedade de separação que o Nicolau começou a manifestar todos os segundos que partilha comigo, ao ponto de ter ido fazer análises, porque estava sofrer sabe-se lá do quê, a questão que mais me atormenta ultimamente é o que vestir. Todos os dias acordo e começa o desespero do que vestir, ou todos os dias antes de deitar desespero com o que vestir no dia seguinte (é mais a primeira hipótese, porque eu sei lá o que me vai apetecer vestir amanhã, não vou estar agora a pensar nisso).
Foram quatro anos a vestir de andar por casa e agora é um drama ter de andar vestida normalmente, isto é, com roupa que me aperta a barriga, ou os braços, ou as mamas. É claro que, quatro anos depois, eu podia dramatizar o facto de ter de conversar com pessoas durante quase oito horas por dia (no final do primeiro dia de trabalho doía-me a cabeça de tanto falar e ouvir falar); ou o estar a fazer uma coisa que nunca fiz antes; ou o facto de serem horas de ir dormir quando acabo de tratar da loiça e da roupa, mas não, o maior drama para mim é ter de andar "vestida", logo a seguir à ansiedade do Nicolau, que não há-de ser muito maior do que minha por passar apenas duas - DUAS - horas por dia com os meus rapazes pequenos (por isso, se eles quiserem dormir comigo, pois que durmam. Que durmam em cima de mim, se for preciso).
A  sério, as pessoas com empregos não deveriam ter direito a fardas confortáveis? Faz todo o sentido, lembro-me de ter adorado a ideia quando fui assistente de estomatologia, por exemplo.
O problema é que, ao contrário das evidências, o uso de farda é muito pouco, ou nada, popular entre aqueles que têm um emprego, visto o mesmo servir precisamente para comprar roupa, sapatos e botas de tacão, e pintar o cabelo para estar apresentável todos os dias, precisamente, no dito emprego.

A curva da felicidade

11.2.13
Não há explicações para o facto de o ponto mais baixo da felicidade surgir a meio da vida (ver aqui), mas eu estou em crer que, no meu caso, a toalha de mesa que estreamos hoje tem alguma coisa a ver com isso. É uma toalha de plástico.

Os amigos

10.2.13
No fim-de-semana passado fiquei a saber que a minha personagem dos filmes Walt Disney é a Alice no País das Maravilhas. Soube-o pouco antes das quatro da manhã de domingo, depois de ter passado um sábado a comer, beber, ver filmes, ouvir fado, ver teatro, conhecer novos sítios em Lisboa e por aí fora, com os meus amigos. Com alguns dos meus amigos.
Os amigos são uma coisa fantástica e complicada de se ter, porque servem, tal como os amantes, para nos alimentar o ego e quando isso não acontece achamos que ninguém quer saber de nós.
A amizade sempre foi uma coisa de difícil gestão para mim. Parece-me mais fácil compreender o que esperam de mim numa relação amorosa, do que numa relação de amizade. Ou talvez eu misture tudo, não deve ser à toa que tenho filhos de homens que antes de serem amantes eram meus amigos. Adiante.
Estava a dizer que sou a Alice, segundo o quiz que fiz de madrugada com os meus amigos (na verdade revelou que eu sou o bambi, mas como a diferença entre um resultado e outro era muito pequena ficou decidido, por unanimidade, e pelo avançado da hora, que eu era a Alice), por isso não tive como evitar imaginar a Alice com três filhos e cheguei à conclusão que podia muito bem ser eu, sim senhora, desde que fumasse a mesma cena que a lagarta e bebesse whisky (ou vinho, de preferência), em vez de chá, com o chapeleiro, a lebre e o outro. Mas percebi, também, que se posso ser a Alice no País das Maravilhas com três filhos, é porque tenho este grupo de amigos.

O ópio do povo é o trabalho

8.2.13
E ao quarto dia o Nicolau ficou doente. Sobre isso tenho duas coisas a dizer: Primeiro (e a menos importante), parece-me que estamos aqui a iniciar uma tradição que consiste em preparar com todo o zelo as fatiotas carnavalescas para ficarem dobradas em cima da cómoda. Segundo, sair de casa para trabalhar, com o mais novo doente, é muito estranho, mas ao mesmo tempo ainda bem que é o pai que está lá em casa com eles e não eu.
Eu tenho de vir trabalhar (o pai também, aliás, se o pai não trabalhar não temos onde viver, ou o que comer, mas terá de o fazer no fim-de-semana), porque me comprometi a estar aqui todos os dias das 9.00h às 17.30h, com uma hora de almoço e, mesmo não tendo nada de muito importante para fazer, pretendo cumprir a minha parte do acordo. O meu salário não chega para pagar o infantário deles e a babysitter que os vai buscar alguns dias por semana, mas eu posso sair de casa porque tenho de trabalhar (e posso escrever posts no emprego)
O trabalho é mesmo o ópio do povo.

Coincidências

7.2.13
Desde que estou em Lisboa já ouvi algumas pessoas dizerem que detestam o Porto e todas elas o afirmaram, em sítios e contextos diferentes, com verdadeira convicção e quase a chispar ódio. Ora, nada disso me parece estranho uma vez que já ouvi o inverso - pessoas dizerem que querem Lisboa a arder e coisas piores - muitíssimas mais vezes. O que eu estranhei foi a coincidência de essas pessoas que odeiam o Porto serem todas transmontanas.

Perguntas que eu gostava mesmo de saber a resposta

6.2.13
Se estou farta de saber que não posso deixar a confecção das fardas de Carnaval para a última da hora, porque os imponderáveis (como arranjar um emprego de um dia para o outro, por exemplo) acontecem, porque raio continuo a fazê-lo ano após ano?

Em que momento da vida ter-me-ei tornado senhora?

6.2.13
Eu acho que até sou capaz de viver com a inflexibilidade de horário, com o pouquíssimo tempo que passo com os meninos e a ansiedade nas paragens de autocarro, mas agora estar o dia todo a ouvir chamarem-me senhora é que não sei.

Vais-te embora mamã, não me deixes aqui

5.2.13
O Isaac acha mal que eu tenha de trabalhar. E não só o afirmou categoricamente, como se despediu de mim, hoje de manhã, tal e qual o Marco.

Stress

3.2.13
Li num revista estrangeira (já não me lembro qual) que uma tal de Atila C (do nome lembro-me, não sei porquê), estava tão nervosa com as novas rotinas que teria de impor aos filhos, por causa de um novo trabalho, que de um dia para o outro viu-se com mais cabelos brancos e dores nos dentes todos.

Boas e más notícias

1.2.13
Pois parece que o call center do BPI terá de esperar por mim algum tempo, uma vez que acabei, hoje mesmo, de arranjar um emprego. Durante cinco meses aqui a vossa amiga (ou inimiga, dependendo dos casos) será escriturária, 3.ª escriturária, para ser mais específica. Durante cinco meses serei "normal", portanto, e os meus filhos ficarão na escola das 8.00h às 18.30h, porque eu tenho de ir trabalhar, e viveremos "felizes" até Junho.
A má notícia é que não vou relatar esta parte da minha vida, uma vez que a minha chefe lê o meu blog.