Um amor de menino

29.6.12

Piquenique

29.6.12

Aconteceu-me, acho que pela segunda vez em quinze anos, pensar que sou que nem um penedo com esta mania de não querer/saber conduzir, mesmo tendo carta de condução, depois de decidir fazer um piquenique, em Lisboa, com o três atrás de mim, ou, neste caso, à minha frente.
Empurrar o carrinho com os dois mais novos e o saco da comida por aí fora, com mais calor do que estava à espera, é coisa para deixar até os mais what a wonderful world em modo this fire is out of control, I'm gonna burn this city e eu, minha nossa senhora, preciso de tanto pouco para me descontrolar...
Mesmo assim lá fomos. Fizemos um piquenique e no regresso a casa, um sem camisola, o outro todo castanho da terra e ela a cantar como se estivesse no palco, ocorreu-me que se calhar devíamos viver assim, ao ar livre e a recolher moedas depois das cantigas. Tínhamos era de andar por terras quentes, para nos podermos banhar em água fria, e com muitas árvores de frutos. Também seria boa ideia considerar ter uma vaca leiteira como animal de estimação, ou uma cabra. O leite de cabra bebe-se? quer dizer, por nós, os seres racionais?

Encarregada de educação

28.6.12
Serei a única mãe doméstica que não faz questão nenhuma de ser o/a encarregado/a de educação oficial dos filhos?

Fazedora-construtora

28.6.12
Como eu estava a dizer ali num comentário, e porque tenho notado que há mais pessoas a passar por aqui que talvez não estejam bem a ver que blogue é este, eu sou só uma doméstica a tentar não morrer de tédio. 
(Vou abrir um parêntesis para assumir também que sou uma jornalista frustrada e um bocado deprimida por não ter encontrado, ainda, uma forma de conciliar a maternidade com a profissão.)
Nessa tentativa, nem sempre conseguida, de evitar entediar-me costuro e faço malha sem qualquer pretensão de originalidade. Aliás, eu sempre defendi que não há ideias originais, há ideias de outras ideias que são de outras ideias e por aí fora. E depois há pessoas talentosas que sabem o que fazer com as ideias, o que não é o meu caso (acho que podemos dar quase como falhado o projecto da "troca" de quilts e eu digo quase, porque recebi uma proposta muito interessante que talvez conte um dia destes). Portanto, mais uma frustração.
E, sim, eu podia concentra-me no que consigo fazer bem, mas isso é precisamente aquilo de que ando à procura, acho eu, porque entretanto perdi-me e já não sei o que procurar ao certo.
Uma querida leitora deste blogue (que estranho que isto soa) disse-me que eu sou uma "fazedora-construtora (de filhos, casas, tecidos, panos, palavras, livros, gente)" e pareceu-me tão bonito que, no momento em que o li, apeteceu-me parar de procurar. Mas aí deixava de ser eu e no fundo, no fundo, eu sou espectacular, como sabemos. 

São camisas, senhor!

27.6.12

E depois dos porta-guardanapos finalmente as almofadas, mas ainda à procura de uma melhor solução para encaixar a gola, ou melhor, o colarinho (ou desistir dele).

Era uma semaninha de férias, faz favor*

26.6.12
É muito giro estarmos aqui em casa a levar com mangueiradas de água para refrescar, enquanto o Nicolau come terra dos vasos como se não houvesse amanhã (e com fotografias, então, é que isto ficava mesmo, mesmo giro, sobretudo porque não se ouve), mas o que me apetecia era estar numa esplanada a mamar finos e comer tremoços (não sou gaja de caracóis, não). 
Também não me importava de pagar para fazer a depilação, em vez de testar os meus dotes de contorcionista a fazê-la a mim própria, mas ser a stay at home mum é isto mesmo, giro que se farta. Oh, se se farta!

*o mesmo que "era uma semaninha sem filhos"

Sobre os detalhes que fazem a diferença (ou não)

24.6.12
Às vezes questiono-me se será mesmo preciso questionar tanto e, admitindo que sim, porquê certas questões e não outras. Eu posso ser muito aborrecida.

Para mim, aos nove anos*

23.6.12
Miúda, eu sei que não percebes o que sentes. Que não sabes como dizer às outras pessoas que não és daí, que parece que nasceste no sítio errado. Eu sei que não tens como dizer à tua professora que não queres segurar na mão da Guilhermina, para ela lhe dar reguadas e, acredita, a culpa não é tua, é dessa atrasada mental, com a idade da tua mãe, que devia saber que essas crianças já levam porrada suficiente fora da escola.
Não sei se te devia dizer isto, mas o irmão da Guilhermina vai espetar-lhe uma faca nas costas daqui a uns anos e ela vai sobreviver. Tu sabes que ela é uma sobrevivente e tem uma dignidade que a tua professora não tem. 
Também sei que gostavas de perceber muitas outras coisas, mas vais ter tempo para isso. A sério, não queiras compreender tudo, conhecer tudo, e, sobretudo, não desprezes o que tens. Eu sei que é pouco, comparativamente com o que toda a gente que conheces tem, mas as comparações, vais ver, são coisas ridículas de se fazer. 
E, não, não vais ser freira. Vais questionar a tua religião, um dia, vais abandoná-la, mas não vais conseguir deixar de ter fé, apesar de não saberes bem em quê. 
Acima de tudo, e isto é mesmo muito importante, abraça o teu pai. Abraça muitas, muitas vezes o teu pai. Diz-lhe que gostas muito dele e que é o melhor pai do mundo. Daqui a três anos e pouco ele vai a Fátima com algumas pessoas da família. Despede-te dele. 

Da tua sempre, 
Eu adulta

* copiadíssimo daqui

Evidências

22.6.12
Hoje parece-me tão evidente, mas tão evidente que não nasci para isto.

Esterótipos

21.6.12
Já assumi várias vezes que gosto de estereótipos, facilitam os discursos e assim, mas há um assunto em que nem eu consigo encontrar um estereótipo: o da maternidade (a não ser, talvez, o da insuportabilidade das grávidas). Todas as mulheres encaram a maternidade de forma diferente, não há mães iguais. Tal como diz o povo "mãe há só uma", coisa que honestamente nunca tinha percebido até agora, ou seja, há a mãe que cada um de nós tem e há as outras mães. Ou, a mãe que cada uma de nós é e as outras (uau, sou o máximo!).
Bom, isto para dizer que para algumas mães os cinco meses de licença de maternidade (mais o mês de férias que costumam colar à licença) são suficientes. Custa deixar o bebé nos primeiros dias, mas acaba por saber bem voltar ao trabalho. Para outras não, não são suficientes, mas têm de voltar na mesma e sofrem horrores com isso. Depois, há as felizardas que vivem à custa dos maridos e que podem ficar com eles o tempo que acharem melhor (ou até que aconteça uma coisa má).
Eu sou dessas felizardas e posso anunciar que chegou esse tempo. Estou pronta para deixar a cria mais nova entregue e ir...fazer coisas.

Indefinições

20.6.12
Quando a minha indefinida vida profissional se torna ainda mais indefinida eu começo a pensar, além de nas cadeiras, em queijo feta com pistáchios e mel, embrulhados em massa filó; e em rúcula com salmão fumado e pêssegos assados. E ocorre-me que talvez possa vir a ser uma doméstica feliz, mas depois lembro-me que a última vez que comi aqueles dois pratos, tinha um emprego, uma filha e, frequentemente, muitos amigos em casa.

Cadeiras

19.6.12

casa 1
casa 2
casa 3

Para a primeira casa forrámos sofás, comprámos molduras (para encher uma parede de fotografias), uma bungavília, móveis na IKEA, claro, e um sofá mais uma consola, na Area.
Na segunda pintámos e colamos papel nas paredes, fizemos muitos furos, limpámos canteiros e comprámos candeeiros.
Na terceira, a que estamos, fomos comprar cadeiras à REMAR e quase conseguimos trazer uma cristaleira da rua, mas alguém agarrou nela primeiro. Sempre achei que fazia mais sentido decorar uma casa assim, dando novo uso a coisas velhas, porque além de poder resultar muito bem é ecológico (ai, as  fraldas na gaveta...só as uso quando acabam as outras, sou tão feia!) 
Acontece que eu nunca fui daquelas pessoas que encontram coisas espectaculares nas feiras de velharias, nos ciganos, ou caixotes do lixo. A mim calham-me sempre os monos e os móveis com  caruncho. Por isso, as cadeiras vão para o lixo e tenho de comprar outras. E esse pormenor absolutamente prosaico, o de precisar de cadeiras, podia não ter importância nenhuma não fosse o facto de eu apreciar verdadeiramente cadeiras, de as achar a peça de mobiliário mais interessante. Deve ser das poucas coisas em que estamos os dois de acordo (o Jaime é um gajo do desaine, ele vê sempre utilidade em coisas que me ultrapassam), mas encontrar cadeiras que gostemos e não custem os olhos da cara tem sido difícil. 

Coisas que nunca vou perceber (nem que tenha 20 filhos*)

18.6.12
1- porque é que não dormem quando é evidente que têm sono;
2- porque reagem como se fossem vítimas de rapto alienígena quando lhes queremos lavar as orelhas;
3- porque se recusam a comer as coisas verdes quando estão no prato e as devoram nos jardins;
4- porque preferem SEMPRE os CDs, comandos da TV, o detergente da roupa, a comida dos gatos e os  tupperwares (já existe a palavra em português?) aos brinquedos a sério - aqueles que são comprados, ou oferecidos, para eles brincarem;
5-porque é que acordam quando acabei de adormecer;
6-como é que já estão aqui todos sentados à mesa e a conversar como gente grande (bom, o Nicolau ainda conversa como gente pequena, ou seja, ninguém sabe o que ele está a dizer) se ainda ontem os fui parir ao hospital;
7-porque é que eu sempre quis ser mãe.

*Não que esteja a pensar nisso

Prezado editor, vá-se foder!*

18.6.12
Prezado redator,
A tarefa 37288 foi recusada, pois apresenta:
texto com forte influência do português europeu.

*(perdão pelo meu português europeu)

Medidas drásticas

17.6.12
Quatro anos e dois filhos depois as coisas começam a parecer menos românticas, menos intensas, menos óbvias, menos superáveis, menos tudo. O normal, com tantas horas de sono roubadas, tantas atenções divididas, tantas frustrações profissionais, tantas merdas, pronto. Mas, já sabemos, é preciso dar a volta, contornar os obstáculos, bla bla bla bla.
Vai daí decidi fazer uma festa, chamar amigos para comer, beber e conversar. Quase que aconteceu, mas não passou disso: intenção.
Depois, se calhar, devíamos era jantar fora, pensei, afinal a última vez que o fizemos, só os dois, foi há 14 meses e 12 dias.
Vai de adormecer os pequenos, encomendar uma pizza para a pequena e deixá-la com os irmãos enquanto enchíamos o bandulho de chamuças e camarão com caju e galinha com babum e caril, num restaurante ao lado de casa. Conseguimos comer relativamente relaxados, com os telemóveis ao lado do prato, mas à sobremesa lá veio o telefonema: "O Nicolau acordou e o Isaac está a chamar pela mamã" (coisa rara, pois chama sempre pelo pai). Regressamos a correr, consolados com a comida, mas nem por isso reconciliados com a vida.
Portanto, parece-me que chegou a altura de tomar medidas drásticas. É uma pena, eu sei, mas é assim a vida, não há como evitá-lo. Vou inscrever-nos nas danças de salão, está decidido.

E se eu já não souber?

15.6.12
E se, afinal, eu já não souber levantar-me, tomar banho, escolher uma roupa (já sei, já sei, tenho de a escolher antes de me deitar), tomar o pequeno-almoço, vesti-los, dar-lhes o pequeno-almoço, preparar almoço para ela levar (já sei, já sei tem de ficar pronto antes), sair de casa e ficar, na melhor das hipóteses, cinco horas a trabalhar no mesmo sítio?
É que nos últimos meses, desde que o Isaac foi para creche, tenho tentado arranjar trabalho para poder ter uma ocupação remunerada em casa, a partir de Setembro, quando o Nicolau for com o irmão. Então, sento-me ao computador a escrever mais um texto num instante enquanto o bebé dorme, porque consigo estender e dobrar roupa com ele acordado, apesar de ter de perder o dobro do tempo, já que depois tenho de apanhar as molas espalhadas, varrer o detergente e a comida dos gatos. Entretanto, posso deixar a sopa ao lume, enquanto vou lá cima fazer um vestido para a Beatriz levar ao baile (não perguntem). Não, afinal não consigo fazer o vestido, ele quer colo. Com ele ao colo o que posso fazer? Espreitar o e-mail. É isso, vou ver se tenho algum e-mail da...pois, não estou à espera de nenhum e-mail. Pronto, vou passar a sopa.
Por um lado, as tais cinco horas, na melhor das hipóteses, parecem-me uma coisa idêntica ao éden, mas, por outro, paralisam-me de terror. E se eu já não souber? 

O sentido da vida

13.6.12
Segundo Eric Roth, em O Estranho Caso de Benjamin Buttun (baseado no conto de Scott Fitzgerald): "Há pessoas que nascem para se sentarem à beira de um rio. Outras são atingidas por raios. Algumas têm ouvido para a música. Outras são artistas. Algumas nadam. Outras percebem de botões. Algumas conhecem Shaka. Algumas são mães. E outras...dançam".

Segundo a minha irmã: "Eu preferia que a minha filha se sentasse a ler um livro, mas ela prefere estender a roupa. É assim, cada qual deve ocupar o seu lugar".

Segundo a minha mãe: "É ver se não se enganam e vão parar debaixo do braço, percebes? É que dantes as mulheres tinham muitos cabelos debaixo dos braços e os homens estavam quase sempre bêbados, por isso enganavam-se no sítio".

O maior erro

12.6.12
A domesticidade pode ter o seu quê de reconfortante quando saímos da praia às 10h00 de um sábado, paramos no mercadinho para comprar petinga e a seguir na frutaria para trazer tomates, alface e boroa de milho e, depois de cozinhar, os vemos consolados a comer.
Mas, como em tudo na vida, o que é demais é erro e ser doméstica todos os dias é o maior deles todos. 

Apatia

12.6.12
Tenho feito um esforço considerável para minimizar o sofrimento causado pelo tédio, mas a facilidade com que me entedio é desgastante. O pior é que logo a seguir (em simultâneo?) ao tédio vem a apatia, que é, creio, a forma mais triste de se estar na vida. Empurrar um carrinho com dois putos, por exemplo, para cima e para baixo, 15 minutos para lá, outros 15 para cá, em modo apático é um espectáculo triste de se ver. Umas vezes disfarço bem, outras sacudo a apatia derivado ao facto do mais velho desatar a correr à minha frente e eu ter de ir atrás dele a fazer rally com o outro, mas regra geral tenho aquele ar de dona de casa (ou das donas de casa do meu imaginário): lábios gretados, testa encurrilhada e tom de voz (ai o tom de voz!) de enxaqueca.

Entretanto, fiquei a saber que "o apático detesta o mundo. Detesta-o de tal maneira que se lhe tornou indiferente. A sua satisfação e a sua insatisfação uniram-se, anularam-se" e a solução consiste "em piorar enormemente o estado do queixoso"*. Como este me parece um remédio perigoso, vou antes continuar a olhar para o fundo dos olhos deles e, talvez, a comer mais qualquer coisa.
Quanto ao tédio é só esperar pela próxima tempestade.

*Luísa Costa Gomes, Olhos Verdes, Colecção Mil Folhas, 2002

Incongruências

11.6.12
Há qualquer coisa de incongruente em termos de cuidar dos nossos pais quando os nossos filhos ainda não sabem andar.

A votos

9.6.12
Então, se acharem por bem, ide  deitar o voto, mas depois não me peçam contas, que a minha instabilidade é  sobejamente conhecida. 
Agradecida.

O que eu me tinha rido se me tivessem dito isto há uns tempos

6.6.12
- Vais passar a jantar quase todos os dias às 19h30, muito antes de completares 70 anos
e

- Vais escrever textos a ganhar uma ninharia, que não pagam sequer uma migalha de um pão, com a palavra esporte. 

De castigo

4.6.12
Fui chamada à atenção por causa das capacidades da mais velha não estarem a ser usadas da melhor forma na escola. Tenho remoído no assunto dias a fio. É óbvio que ela tem de trabalhar, como já tinha dito aqui, está numa escola pública, numa turma com 13 alunos, com aulas individuais de instrumento, tudo pago por nós, os contribuintes. Portanto, se não se aplica, se não demonstrar interesse, dá lugar a outro. Justíssimo.
Mas por outro lado o "não se admite que uma aluna de cinco tire quatros" faz-me comichão. O educar para o sucesso é um bocado contra a minha natureza. É que, shiu, não digam a ninguém, eu só quero que ela seja feliz.
Mas, pronto, faço uso da minha autoridade e tudo fica bem: ela sente-se importante com a atenção redobrada (mesmo que seja para a obrigar a fazer coisas) e eu sinto-me de castigo por ter de usar meios anti-naturais na minha pessoa.

Facebook

2.6.12
Tal como a maior parte das pessoas com mais de 35 anos que têm um blogue, não sou grande fã do facebook, mas tal como essas mesmas pessoas, e todas as outras, não resisto ao facebook.
A rede social mais badalada é assim uma espécie de fornecedora de ilusões e eu adoro viver iludida. Se preferia passar horas no café a conversar com os meus amigos a sério? Preferia. Mas aí dificilmente me tornaria amiga do José Riço Direitinho.