Karaoke

29.12.13
Não sei o que foi. Sei que no exacto momento em que salto o varandim do palco para o corredor, atrás das minhas amigas, todas elas gazelas disfarçadas de gente, pelo vistos, tropeço e quase parto os dentinhos todos contra uma porta. Estive cinco minutos a rir à gargalhada e parei naquele exacto momento em que ia começar a chorar à gargalhada.
Pensei: "tenho de reler O Livro do Riso e do Esquecimento" e fui dançar mais um bocado.

Vidas

27.12.13
Foi muito bom o Natal. Não me lembro da última vez que disse isto, que foi muito bom o Natal, mas a verdade é que foi. Se isso se deve ao estabilizador de humor, ou ao facto de ter sido um Natal diferente de todos os outros, é difícil de saber, mas neste momento não me interessa nada levantar esse tipo de questões.
Por isso, em vez de olhar para todas as contradições desta quadra, para uma certa nostalgia que se entranha involuntariamente, pus-me a ver as coisas a acontecerem.
Vi pedintes e a infelicidade das pessoas que trabalham em lojas no dia 23 de Dezembro, claro, pensei nos sem abrigo naquele temporal, mas também vi os meus filhos felizes. Tão felizes! Vi o meu irmão mais novo e a família dele no computador. Vi a minha mãe chocada por não haver televisão, primeiro, e depois divertir-se com o dominó, o bingo e o jogo dos nomes. Vi toda a gente comer com prazer, apesar de o bacalhau estar insonso (três dias de molho, a mudar três vezes a água) e nem faltou a discussão da praxe sobre o nascimento do filho de Deus feito homem.
Ri-me com o facto de o argumento "é festa, que se lixe" servir para os adultos enfardarem como loucos e as crianças alimentarem-se de chocolates.
Enfim, comi, bebi, dei graças por estarmos todos juntos com saúde e acordei com uma dor de cabeça insuportável.
Agora, o ano está a acabar e eu quero começar outro de forma diferente. Tenho muitas coisas maravilhosas na minha vida, mas não tenho a vida que quero. E a minha vida é para ser vivida por mim.

Mudar a água do bacalhau

22.12.13
Olhem, eu estou bastante sem saber o que dizer. É que tivemos aqui em casa (portanto, no Porto) uma venda de Natal da Oporto Lobers e só sobre isso podia escrever meia dúzia de posts, mas é fácil resumi-los: Viva o Porto! Viva esta maravilhosa gente!
Depois, pela primeira vez na minha vida não vou passar o Natal aqui ou acolá. Este Natal é em minha casa. E no meio de tantas coisas para tratar o que me preocupa é o bacalhau, ou seja, como demolhar o bacalhau. Por causa disso levantei-me hoje às cinco da manhã para pôr as postas do bicho na banheira. Acordei sobressaltada com os conselhos do dia anterior: "se o bacalhau for alto é preciso cinco dias a demolhar". " Eu deixo quatro dias de molho". "Três dias é mais do que suficiente". 
Eu sei que um bom bacalhau faz a diferença, mas, a sério, escusava de andar histérica com o assunto e stressada com o facto de ter de mudar a água do bacalhau. Mas eu tenho um balde preto, enorme, cheio de postas de bacalhau na banheira, quer dizer, não posso fazer de conta que é só mais um jantar, certo?

Aprender

17.12.13
Saí para comprar batatas, cebolas, leite, pão e massa cotovelos na mercearia do Sr. Rui, que tinha, invariavelmente, a televisão ligada na RTP1, onde a Tânia Ribas falava com outras duas moças sobre brinquedos para os mais pequenos.
Enquanto enchia sacos de cebola saloia e batatas de olho de perdiz ouvia conselhos sobre brinquedos didácticos e a importância dos mesmos para o desenvolvimento das crianças.
Felizmente, e porque a apresentadora é mãe de uma criança pequena, não se escusaram a explicar que os tupperweres (taparueres?) e outros utensílios da casa são, a maior parte das vezes, os brinquedos preferidos dos bebés.
Sorri ao lembrar-me que já soube de cor as diferentes etapas de desenvolvimento das crianças e que tipos de estímulos deveriam ter. Como se os estímulos não estivesses para os nossos filhos, como a farinha maisena esteve para nós.
Agora, estou no outro extremo. Quase não leio livros aos meus filhos e a parte mais interessante do fim-de-semana deles é a ida às compras com o pai.
Mas não é por isso que o meu filho de quatro anos deixa de conhecer quase todos os nossos órgãos internos. Sabe onde é o tubo digestivo, o estômago, os intestinos, a bexiga, o coração, os pulmões, etc. Porquê? porque lhe passei para a mão um livro muito bem ilustrado, sobre o corpo humano, que mostra o percurso de uma pêra desde a boca até ao...ânus. Pois, nada como usar uma coisa que lhe interessa (a fase do cocó nunca mais acaba?) para aprender.

A minha mãe

17.12.13
(Na Suiça, com o neto)

A minha mãe ligou-me há uns dias muito feliz a dizer que ia "botar" uns dentes novos.
A minha mãe vive sozinha com a minha avó. Comem, pagam as contas, os medicamentos e juntam dinheiro para o caixão da minha avó com a reforma de ambas (550€). Para botar os tais dentes novos, a minha mãe faz todo o tipo de biscates que lhe aparecem.
Como não tem de cuidar da minha avó durante o tempo em que ela está comigo, pode trabalhar todo o dia, mais de 10 horas por dia. Basicamente a minha mãe está feliz por poder trabalhar, por não ter a "aduna" de cuidar de alguém 24 horas por dia (não que a minha avó precise de tantos cuidados, é mais a minha mãe que não consegue descansar) e por poder viajar até à Suiça para visitar o meu irmão mais novo.
Mas a minha mãe fica feliz por pouco tempo. Há-de continuar fixada no objectivo dos dentes até achar que não faz sentido e decidir trabalhar para montar uma cozinha no andar de cima, ou abrir uma padaria.

A minha avó

15.12.13
diz coisas que não lembram ao diabo (por exemplo: " a escola dos teus meninos tem muitos pretinhos, tadinhos!"), mas também diz coisas que me deixam derretida, como: "vós tendes uma vida mesmo bonita!".

Isto com imagens ficava mais bonito

13.12.13
11% de mim quer fazer o mesmo que estes gajos.
13% quer viver assim.
14% quer ser vagabunda.
13% ter uma vida social e/ou profissional intensa.
49% quer fazer isso tudo ao mesmo tempo.

(baseado neste documentário)

Haverá?

12.12.13
Haverá coisa mais pirosa, mais cheia de gente que perde a noção do que é estar em público, mais complexa, com mais flashes e sorrisos dementes do que uma festa de Natal no pré-escolar? Eu, sinceramente, duvido.


Carta ao Pai Natal

12.12.13
Querido Pai Natal,

Acho que esta é a primeira vez que te escrevo uma carta, por isso, e tendo em conta que te poupei muito trabalho nos últimos anos, espero que possas atender o meu pedido.
Eu quero paz e amor, claro, mas já vi que isso deve ser dos presentes complicados. Traz-me antes uma Porta. Simples, certo?
Prefiro que seja uma porta de madeira pintada de verde, ou num rosa velho, mas vê lá o que podes arranjar, depois eu pinto-a, se for caso disso. O importante é que a porta abra para onde quisermos estar naquele momento. Olha, é uma porta igual à do Castelo Andante. É isso.
Eu portei-me bem este ano, e na grande maioria dos anos da minha vida, portanto fico à espera da porta.

Muito obrigada, desde já, e espero que não seja este ano que tenhas um enfarte, porque com essa barriga está-se mesmo a ver...

Calita

Frase do dia

11.12.13
"Carago, tens louça até no cu do diabo, foda-se!", avó Zira

Grandp. blogs

10.12.13
Digam lá se o mundo não seria muito melhor se tivéssemos tantos blogs destes como baby blogs?

Se calhar é do frio

10.12.13
Estava a ler sobre uma pessoa "silicea" (a sério, não perguntem) e descobri que há uma patologia que faz com que as pessoas tenham a sensação de cabelo na parte anterior da língua. Ora, eu estou bastante familiarizada com a sensação, mas não fazia ideia que era uma coisa comum. A internet é, não só por isso mas também, uma coisa fantástica. 
No entanto, apetece-me culpar a internet por eu já quase não ser capaz de sair de casa. Só a ideia de me vestir convenientemente para ir à rua é semelhante a enfrentar um monstro de sete cabeças. Um dia destes a Bea pediu-me para irmos ao cinema, um programa nosso habitual, e eu inventei qualquer coisa, porque me pareceu tremendamente desconfortável entrar num shopping e ficar duas horas numa sala com pessoas desconhecidas.
Desconfio até que a minha decisão de trazer para aqui a minha avó tenha sido uma forma rebuscada e exigente de me manter em casa. 
Bom, resta-me o consolo de, ao contrário da pessoa silicea, suportar bastante bem bebidas alcoólicas.

Comentários

7.12.13
Este blog não tem só comentários de mau gosto. Aliás, tem mais comentários de muito bom gosto do que o contrário. Os dois que se seguem não me saem da cabeça:

"'Nada é natureza, e, no entanto, tudo é já naturalmente como é.'(Elfriede Jelinek)", Verão80

"Acho que foi o Eça que disse que o ideal é uma casa no campo com uma porta de serviço para o Chiado", Joana Jordão.

Natal, pois claro

7.12.13
E agora é só desenhar presentes e temos o Natal mais económico de todos os tempos.
Agora a sério: Estou farta da crise e não é porque me apeteça comprar coisas, é porque a crise está na moda e estar na moda pode ser muito, muito aborrecido. Seja como for, esta é capaz de ser a nossa árvore mais gira, desde que tenho blog. As anteriores: 20102011 e 2012.
Mas talvez esteja a pôr o carro à  frente dos bois, ou do burro e da vaca, que é mais alegórico, porque este ano teremos não uma, mas duas árvores de Natal, portanto aguardemos.

Luto

6.12.13
Deixei de o ouvir tossir, de ouvir os passos dele a subir as escadas. Eu sabia sempre quando era ele que vinha a subir.
Também já não ouço a motorizada a dar a curva. Mas a motorizada foi a primeira coisa que deixei de ouvir. Demorei muito tempo a convencer-me que já não era ele que a conduzia, depois de ter sido vendida, mas finalmente comecei a ouvir outra motorizada.
Os passos e a tosse continuei a ouvir durante muitos anos. Quando não ouvia bastava lembrar-me e o som aparecia. Agora não. Passaram 27 anos, mas o meu pai acabou de morrer.

Somos o que somos

3.12.13
Este blog podia irradiar glamour, a sério, eu tenho a matéria prima, e alguma imaginação, vá, para isso. Eu podia vir para aqui mostrar-vos como se pode ser CEO de uma empresa em crescimento, mãe de três filhos e fazer voluntariado.
Diria que nem sempre é fácil, mas enfatizaria as conquistas e deixaria implícita a minha tremenda capacidade de trabalho, aliada a um talento nato. Depois, mostrava fotos bem tiradas, com os meninos vestidos de camisa (eles vestiram uma vez e ficavam bem giros com aquilo). E seria tudo, ou quase tudo, mentira.
Sim, eu sou sócia gerente de uma empresa, tenho três filhos e estou a cuidar da minha avó durante um mês, por livre e espontânea vontade, mas tenho muitas dificuldades para sair da cama de manhã, passo mais tempo na cozinha e a tratar da roupa, do que em reuniões, ou a dar entrevistas e estou aqui em frente ao computador com ar de sem abrigo.
Eu sou como a minha avó na igreja de S. Roque, no domingo passado, a meio de um concerto de música clássica. Enquanto a orquestra tocava a Cantata nº 73, Herr, wie du willt, so schick's mit mir, de Bach, a minha avó surda vira-se para mim: "Achas que falta muito? Eu tenho de ir mijar".

Perguntas que eu gostava mesmo de saber a resposta

2.12.13
Dizem-me muitas vezes que tenho um gajo espectacular. Amigos e familiares, a minha mãe incluída, gabam-me a sorte por o ter como companheiro. Completamente de acordo, mas não percebo porque é que o contrário nunca acontece. O mais parecido com um elogio de que tenho conhecimento foi terem dito ao Jaime que eu devia ser uma pessoa muito saudável para ter tido dois filhos depois dos 35 anos, sem complicações de qualquer espécie.
Portanto, das três hipóteses seguintes qual é que estará certa?
a) ele é mesmo espectacular e eu não;
b) eu sou igualmente espectacular, mas isso já toda a gente sabe, logo não há necessidade de se estar a falar do óbvio;
c) elogiar o macho é uma forma de elogiar a fêmea que coabita com ele;
d) outros motivos.