A vida ao contrário

30.12.12
Acho que já sei o quero para 2013: estrumar menos a minha existência (calma, a metáfora é melhor do que o que parece e, além disso, aqui no campo rodeada de vacas, não tenho como virar-lhe as costas). Não posso continuar nesta enxurrada de merdas. Um bocado de merda de quando em vez está muito bem, diz que nos torna pessoas mais intensas, mais interessantes, mas tanta merda não pode ser.
É que assim vejo tudo ao contrário:
os putos não comem e estão birrentos de sono. Estou no Avesso a beber um chá do outro mundo, numa esplanada maravilhosa, mas

não consigo apreciá-la convenientemente. Estou no Museu Serralves, a exposição do Julião Sarmento parece muito interessante, mas

e enquanto os rapazes estão a dormir no carro acho que não tenho assunto, quando acordam afinal tinha umas quantas coisas para discutir, mas não posso com eles ali sempre a interromper. Vou ao Maria Dentada, almoçar com umas amigas, um sítio muito simpático,

eu saio de lá com o rasto de destruição que eles lhe deixaram, na sala e no quarto da Carolina, na cabeça. Visito a quinta de uma amiga, que nos convidou para almoçar e que tem uma casa em pedra a nascer numa paisagem deslumbrante e

temos pressa, os pequenos têm sono e dores de garganta. Na casa recém-recuperada de uns amigos, a mais bonita onde alguma vez já estive e que vem substituir a outra, palco de tantas conversas, festas e momentos bem passados,

a discutir ideias e estratégias comigo ridiculamente apática. Percorremos quilómetros de estrada, em horas de sesta, à procura de parceiros e fornecedores para a Oporto Lobers

Vai-se a ver e toda eu sou optimismo 2

23.12.12
Pode parecer mentira, tendo em conta não só a apresentação do blog ali no canto esquerdo como a prosa que habitualmente venho aqui depositar, mas eu nunca me tinha apercebido que esta coisa de se ter um diário, a modos que intimo, pode ser efectivamente terapêutico.
E a prova disso mesmo é eu ter estado convencida que o segundo semestre do ano tinha tido muitos mais apontamentos negativos do que positivos e verificar que isso não só se revelou uma falsidade como parece que tive uns meses muito mais ricos em acontecimentos do que me lembrava.
Ora vejamos:

Coisas Boas
- Menção honrosa no Prémio Mãe Blogger
- Fazer este xaile para oferecer a uma amiga e ela comentar (sem saber que era para ela) que o adorava
- Livrar-me do chip anti gravidez
- Passeios pelo Minho
- Fim-de-semana em Peniche
- Aniversário do Isaac
- Manifestação do 15 de Setembro
- A estreia do Nicolau na creche
- Mudar de casa
- Fim-de-semana com amigas, dança, literatura e copos
- O nascimento do mais novo

Coisas menos Boas
- Prémio Novos Talentos FNAC Literatura
- Rachei a cabeça
- Reacção alérgica
- Viagem do Jaime a Timor
- Mudar de casa
- Audição da Beatriz.

P.S Um Feliz Natal para todos

Defeitos

19.12.12
Não sei se é por estar num momento particularmente difícil da minha vida, ou melhor, da minha vida não, que a minha vida é muito boa, estou, isso sim, num momento particularmente difícil da minha existência. E não sei se é por isso que dou por mim a pensar nos meus maiores defeitos.  É um exercício tramado, porque conseguimos sempre arranjar forma de ir arrumando defeitos que ao fim e ao cabo, pensamos nós, até nem temos. Quando não estão arrumados, ficam à vista de todos:

Mal agradecida
Preguiçosa
Cobarde 
Cobarde
Cobarde
Cobarde

Estou farta do Natal

18.12.12
Porque o Natal é como a humidade desta casa (acho que estou a criar fungos nos pulmões), tolhe o ambiente e faz-me perder a noção do tempo e do espaço. Este ano, por exemplo, tenho muitas vezes 12 ou 13 anos e estou a subir a rua com um guarda-chuva, a fazer o jogo de sempre: se o próximo carro for branco a minha mãe vai estar num dia bom.

O fim do mundo

16.12.12
A propósito do fim do mundo que se aproxima lembrei-me deste filme (por acaso lembro-me muitas vezes deste filme e do Willem Dafoe, sobretudo do Willem Dafoe) tão perturbador quanto sereno, porque o mundo vai acabar, pronto, e não há nada a fazer.
Na verdade o mundo acaba todos os dias para muitas pessoas. Na verdade o mundo tem os dias contados para todas as outras pessoas. E, na verdade, há também quem tenha data marcada para morrer. O que ainda não aconteceu, que se saiba, é morrermos todos ao mesmo tempo e sabermos que vamos morrer todos ao mesmo tempo.
No fim do mundo de Ferrara não há nenhuma pista sobre se alguém tenta sobreviver à catástrofe ambiental que destruirá o planeta Terra (do género, colocar uns quantos espécimes humanos numa nave espacial, ou assim, como fez Noé com a arca), mas eu duvido que uma coisa desse tipo não esteja prevista para uma eventualidade. Ora, nesse caso, e partindo do princípio que a Europa conte para alguma coisa, imaginemos que decidiriam salvar da catástrofe os dirigentes máximos de cada um dos países, afinal eles são os representantes do povo. Pois, já estão a tremer, certo?
Quando forem votar numas próxima eleições (que é uma coisa que também não deve demorar muito a desaparecer, porque a democracia, bom, tem este defeito de fazer acreditar que podemos ser todos ricos e tirar cursos superiores) pensem nisso, que portugueses gostariam que fossem salvos de uma catástrofe que vai destruir o planeta. Talvez assim, os nossos próximos dirigentes sejam seres humanos dignos desse nome.

Dentro do roupeiro

14.12.12
Lembram-se deste papel de parede, da segunda casa? Pois bem, o que sobrou serviu para forrar o roupeiro da quarta casa.
E o roupeiro está com as portas abertas no sítio novo da Divine Shape.

No dia-a-dia

14.12.12
O Nicolau sempre que vê uma foto do Jaime no computador começa a gritar "pai" e a acenar, como se estivéssemos no Skype.

O Isaac só diz certas palavras em "brasileiro", corrigindo-nos sempre que as dizemos em "português" e como tem estado doentxi, esta está a ser uma semana muito poliglota.

Saí para almoçar sozinha, num acesso libertário, depois de ter mandado sms ao pai dos rapazes a dizer que eles estavam à espera de ir almoçar com ele a algum sítio, uma vez que a mãe se tinha recusado a cozinhar, e verifiquei que menti à minha filha: As pessoas negam comida a quem pede. Eu sei que há a sopa dos pobres, mas a sério que há quem consiga não pagar uma sopa a um sem abrigo creditado (para vender a "Cais", acho que é preciso ter "carta" de sem abrigo)? Pelos vistos sim, e não é uma, nem são duas, ou meia dúzia de pessoas. E, sinceramente, ainda bem para elas, que não se comovem com o discurso da caridade, mas como é que se vira costas a alguém que quer uma sopa? (Eu sei, estou aqui, estou a substituir a Isabel Jonet)

O Jaime perguntou porque é que, afinal, tínhamos gatos e eu, sem saber muito bem o que dizer (até porque sou muito mais pessoa de cães) respondi que temos gatos pela mesma razão que temos filhos, ou seja, não há uma explicação.

Já agora

13.12.12
Outra coisa que dava jeito, na vida que eu quero, era poder beber como a malta das séries e, além de não engordar ou sofrer do fígado, ser capaz de fazer cirurgias com técnicas únicas que salvam vidas, ou gerir empresas familiares com um volume de negócios considerável.

Cair e levantar

11.12.12
Ela sentou-se, posicionou a pauta e eu soube que alguma coisa estava mal. Demorou mais tempo de que o costume a começar a tocar. Eu disse mentalmente "tu és capaz" e ela começou. A meio do Minueto enganou-se, parou, recomeçou, parou, silêncio...um silêncio de chumbo, recomeçou, parou...silêncio, silêncio, silêncio... vi o chão desaparecer debaixo dela, vi o horror que sentia. Disse mentalmente "tu és capaz". Não foi. Começou a chorar. Silêncio, silêncio, silêncio...um silêncio de chumbo. Não se levantou. Não sabia o que fazer. Eu disse mentalmente "não faz mal filha, não faz mal filha". O professor levantou-se e foi-lhe dizer para se ir sentar. A audição continuou com os alunos que ainda não tinham tocado.
No fim, os dois professores de órgão disseram-lhe para não ficar triste que uma audição correr mal acontece a todos os músicos e vários pais e colegas dela consolaram-na, mas foi só quando me olhou nos olhos e se aninhou nos meus braços que sossegou. E, pela primeira vez, desde que entrou no Conservatório, eu tive a certeza de que a Beatriz é uma artista.
E se eu a ensinei a levantar-se depois de uma queda, também hei-de ser capaz de fazer o mesmo. Quero que se foda a luz ao fundo do túnel. Vou mas é acender uma lâmpada.

No reino dos pais&filhos (e avós&netos)

10.12.12



Pois que lá fomos, a Óbidos, a ouvir The Kills no carro, e ai que pais tão cool que nós somos, até chegarmos à Vila Natal e começarmos a bufar passados cinco minutos. Ou é porque um queria fazer xixi e é preciso segurar no outro no momento em que estão a entregar as sopas; ou porque o outro caga mais uma vez e as toalhitas ficaram no carro; ou a outra que quer andar de patins, mas não sabe a que horas, porque também há as marionetas; ou porque temos de correr muito para o escorrega senão os gajos não se calam.
E depois, à minha volta só via pais felizes e calmos sem aquele ar normal de estás-aqui-estás-a-levar-no-focinho. Felizes ainda estou como o outro, mas calmos??? Bom, nós também tivemos os nossos momentos família feliz e relaxada, o que me faz pensar que provavelmente cruzei-me com todos esses momentos nos outros, mas, dizia, tivemos os nossos bons momentos e descobrir bombocas à venda foi um deles. Eu não vou dizer quantas comi, mas posso adiantar que foram mais do que três.

As coisas que a comida me lembra

8.12.12
Daqui a pouco vou comer uma francesinha, feita pelo Jaime, e lembrei-me da última que comi, foi na noite em que rachei a cabeça. E ontem a comida foi goesa, em boa companhia, como no último jantar goês, mas dessa vez acabei a noite num bar de lésbicas. Não, depois disso ainda fomos comer uma bifana ao mercado da Ribeira.
A comida, às vezes, tem um efeito estranho no meu organismo.

P.S Eu disse que tinha três presépios? Pois já só tenho dois.

Perguntas que eu gostava mesmo de saber a resposta

7.12.12
Será que o leite de soja alimenta/reconforta? Se sim, porque raio precisa o Nicolau de beber quase um litro dele durante a noite (em quatro ou cinco biberões)?

Então, o Natal

6.12.12



 O Isaac acha que é assim que devem estar os presépios* 

Estava aqui a comer uma fatia de pão torrado com manteiga e doce de framboesa a ouvir a Nostalgia e a chuva lá fora e a pensar que isto de se trabalhar em casa não é assim tão mau, não senhora. Houvesse trabalho não inventado e isto, então, é que era. Ainda por cima passou aquela canção de Natal, que me põe quase a acreditar no Natal (tanto como a dos Wham me põe a cantar com uma expressão ridícula e tudo) e apeteceu-me vir aqui num instante (decidi aplicar a mim própria uma ordem de restrição de aproximação ao computador) mostrar a nossa árvore e o presépio e tal, antes que volte a achar que é uma coisa assim para o pirosa e desnecessária.

*Sim, tenho três. Houve uma altura em que achava que ia coleccionar presépios de todo o mundo (enfim , podia ter-me dado para pior e, pensado bem, se calhar já deu), mas o único estrangeiro é o mexicano e foi comprado no Nortshoping.

Em abono da verdade

4.12.12
Devo dizer que a minha mãe é uma pessoa insuportável. É uma mulher fora de série, que é, mas é insuportável e, apesar de muita gente dizer que somos parecidas, eu quero ser uma mãe muito diferente do que ela foi para mim, o que não deverá ser difícil, visto eu ter meios que ela nunca teve. E no entanto, é incrível como as coisas se repetem...
Próximo passo: viver mais como uma pessoa (sim, é um post de Junho, mas a minha memória tem destas coisas). Não sei a partir de quando o deixei de fazer.

E depois

3.12.12
olho para esta foto (a minha mãe tinha 26 anos. Sete anos depois teve o quarto filho e passados dois anos ficou viúva) e sinto tanta vergonha de mim! 

Juízo

3.12.12
Normalmente sou a última a ir para cama (e também sou a última a sair de lá quando amanhece), mas em vez de aproveitar o tempo sozinha, ultimamente, estupidifico em frente à televisão, que nem sempre tem de estar ligada. Eu prefiro que esteja, porque quando não está tenho momentos de lucidez avassaladores e isso nem sempre é bom. Ontem à noite, ou aos primeiros minutos de hoje, por exemplo, caiu em cima de mim, literalmente (eu tive de me vergar e tudo, quando senti o peso), a certeza de que não tenho estofo para ser mãe de três filhos. Senti-o tão claramente, ainda que só durante uns milésimos de segundos, que precisei de uma boa meia hora, com muita lágrima e ranho à mistura, para recuperar.
Depois, as luzes da árvore de Natal começaram a piscar, ou mudaram de cor, não sei, e eu olhei à minha volta e pensei que tenho de ganhar juízo.

Drogas

1.12.12
Há coisas que não é preciso uma pessoa ser muito sensível (ou ter inteligência emocional, como é bonito dizer-se agora) para perceber que a partir de certa altura só se deve ir ao médico em caso de vida ou morte (ou, no caso das senhoras, se verificar alguma ALTERAÇÃO NA PALPAÇÃO DAS MAMAS, mas os senhores também devem estar atentos, porque o cancro da mama não é exclusivo das senhoras e, depois, há ainda os sinais e manchas estranhas e...é melhor ficar por aqui).
É que, a partir de certa idade, se vamos ao médico saber se está tudo bem, o mais certo é sair de lá com uma doença crónica. Foi o que me aconteceu ontem. Lá fui ao Dona Estefânia confirmar se era alérgica ao marisco e, apesar de os testes dizerem que não, confirmaram, sem margem para dúvidas, que sou alérgica aos ácaros do pó (ah, sim, claro, já agora posso ser alérgica à loiça por lavar e à roupa por secar e dobrar?). Até aqui tudo bem, não era assim grande novidade. A minha experiência já o tinha demonstrado, em mais do que uma ocasião, só que ainda não tinha tido "oportunidade" de pagar a um(a) alergologista para confirmar o óbvio. 
O que eu não estava à espera era de sair de lá com a notícia de que sofria de uma doença crónica e que tinha de snifar umas coisas mais não sei quê. A sério, isto deixa-me mesmo fodida, porque, supostamente, não posso beber mais do que xis copos de vinho por dia, que passo a ser alcoólica, mas posso snifar cortisona, e sei lá o que mais à vontade, que isso são medicamentos prescritos e tal e tal, e há estudos e ensaios e sabe-se que não faz mal. Sabe-se? 
É claro que não sou eu que vou questionar o conhecimento de anos de estudos, aplicados em cobaias de diferentes espécies, mas terão de me perdoar a arrogância de preferir continuar a espirrar e atacar o problema em SOS (sim, porque jamais me ouvirão reclamar contra químicos para controlar o sofrimento), do que passar a snifar cortisona, duas vezes por dia, até à próxima vaga no hospital (Junho). 
Se é para usar drogas, posso ser eu a escolhê-las?