Dia #7

19.3.20

Não há como estar nas redes sociais sem romantizar a vida, já se sabe. Mesmo as pessoas que, como eu, desvalorizam esse romantismo não conseguem evitar publicar fotos das suas viagens, pessoas, paisagens e animais de estimação.
Mas em relação à quarentena não me parece nada mau que se romantize, que se use e abuse de fotos bonitas e cheias de esperança. Sim, é um privilégio poder fazê-lo, mas não creio que evitá-lo sirva para alguma coisa.
Ontem à noite pedi cebolas à minha vizinha, pelo messenger, porque não gosto nada de fazer estrugido com alho e ela veio à varanda com um saco preso num pau e passou-me quatro cebolas. Comoveu-me este gesto, mesmo sabendo que faz parte das regras de boa vizinhança ceder um raminho de salsa, ou um bocadinho de sal quando somos apanhados desprevenidos.
Não faz mal querer acreditar na humanidade e que tudo se vai resolver e que mais vale tirar algum proveito deste recolhimento.
Se até o Mike Leigh conseguiu imaginar uma Poppy, nós também devemos poder ultrapassar isto com optimismo e sentido de humor.
Mas não hoje. Hoje, decidi fazer a aula de educação física que o professor do Nicolau enviou e quase morri. Das duas umas, ou as nossas crianças estão a ser torturadas na escola, ou sou oficialmente uma pessoa com muitos handicaps físicos.

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