Respirar

8.5.13
Todas as noites, antes de adormecer, penso nas coisas terríveis que não aconteceram aos meus filhos. Todas as noites inspiro profundamente, retenho o ar, expiro profundamente retenho a ausência de ar, volto ao início e repito a mesma coisa meia dúzia de vezes para afastar as imagens terríveis que vêm invariavelmente ter comigo. Acontecem a tanta gente, essas coisas terríveis, é óbvio que também podem acontecer comigo. É doentio, mas não consigo afastar-me desses pensamentos. Por isso, ontem, quando o Nicolau acordou a gritar com dores nas pernas, incapaz de se segurar em pé, eu pensei: pronto, chegou o dia em que vou enfrentar a pior coisa da minha vida.
Deixei de saber respirar. E não respirei mais, acho, até ouvir o "não é nada de grave".

7 comentários:

  1. Eu também sou assim, é uma espécie de medo de relaxar e de ser esse o momento em que algo mau vai acontecer. Porque é como dizes, acontece a tanta gente, porque não a mim?

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  2. oh calita tiraste me um peso de cima! Eu às vezes tou deitada e ponho-me a pensar que se calhar às vezes sou leviana com ela (a leonor de 3 anos), e deixo-a à vontade demais, e se um ela tivesse sido atropelada quando a deixei tão à vontade... e o filme vai mais longe, até que percebo que tenho que parar! e tu? consegues parar?

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  3. É, não é? São tantos filmes, Óscar de melhor realizador para mim. E às vezes é sobre coisas estúpidas, uma queda mal dada... porque também acontecem acidentes coisas pequenas... O meu maior pânico / paranoia são as janelas...
    Depois há aquele lado que nos diz que temos que os deixar correr, saltar, arranhar joelhos...
    Não sei se melhora, ou nos habituamos a andar com o coração nas mãos.
    A minha é tão saudável que até tenho medo...

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  4. olá. pela primeira vez não pude evitar de comentar. Até ler este post pensava que devia ter algum problema...tantas coisas más acontencem a pessoas que não as merecem...que desde que fui mãe vivo como se estivesse à beira do abismo.Vai ver, afinal, não passa de preocupação normal de mãe! De qualquer forma foi bom descobrir que há quem partilhe as minhas preocupações e que não são só "paranoía". Felícidades.

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  5. Sou igual. Igualzinha. :(
    Espero que não seja nada. Não é de certeza.

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  6. Foi reconfortante saber que não estou sozinha. às vezes acho que sou eu que estou a pirar, mas qualquer coisa eu faço um filme, porque infelizmente não acontece só aos outros.
    Que tudo corra bem com o Nicolau (serão dores de crescimento?)

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  7. Finalmente alguém que passa pelo mesmo que eu! Às vezes recriminava-me por me acontecer exactamente o que descreve, achando que era um disparate e que devia ser única a ter esses pensamentos, qual extraterrestre perdido. A verdade é que acompanho histórias muito tristes através das redes sociais que me fazem sentir uma previligiada porque tenho saúde e a minha cria também, mas ao mesmo tempo super vulnerável: e se me acontecer a mim?! E de repente entre imagens e filmes imaginários fico numa angústia terrível e começo a pedir ao universo, anjos da guarda, almas e afins que nada disso se materialize porque não sei se conseguiria aguentar.
    Obrigada por partilhar. :)

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