Há perguntas que nunca devem ser feitas

17.8.11
Perguntei à minha mãe se haveria alguma razão para eu não ter qualquer memória das minhas festas de aniversário, ao que ela respondeu muito naturalmente: "Porque nunca as tiveste". E eu fiquei absolutamente desconcertada com a resposta, não porque me espante os meus pais não me terem feito uma única festa de aniversário, mas por ainda não ter pensado nisso.

Lembretes

16.8.11
1) Não voltar a comprar chupetas da mesma cor para os dois
2) Não perguntar ao mais velho se também quer leitinho da mamã

Cenas da vida familiar

14.8.11
Cena 4

Personagens: A família toda mais uns quantos figurantes.
Cenário: Restaurante.

A família dirige-se para um restaurante. O pai abre a porta, a mãe empurra o carrinho do bebé, mas não passa. O pai tenta abrir a outra porta e não consegue. Há mais pessoas a tentar entrar. A mãe entra com o outro filho, o pai tira a cadeirinha do carrinho e entra com ela. A filha fica com o carrinho cá fora. A mãe sai para desmontar o carrinho. Entra e encosta-o a um canto e senta-se na mesa mais próxima. Sentam-se todos a seguir. Há gente de pé a cumprimentar a senhora que serve às mesas e a pedir uma mesa para oito. A mesa ao lado da deles está ocupada com quatro pessoas.

Pai: Bea, vai ali buscar uma ementa para irmos escolhendo. Ela levanta-se e regressa com a ementa. O bebé reclama na cadeirinha, em cima da cadeira, ao lado da mãe. O outro, no colo do pai, chora que quer ir ao chão.
Filha (de trombas): Não há nada que eu goste aqui.
Mãe: come uma omolete.
Pai: e tu o que queres?
Mãe: pode ser o polvo.
Pai: pedimos sopa para o Isaac?
Mãe: É melhor.

Aproxima-se a senhora que serve às mesas e pergunta, mal disposta, se já escolheram.

Pai: É uma sopa de legumes, uma omolete e...tem o polvo em tomate?
Senhora que serve às mesas: não sei, vou perguntar.
Pai: Ok. Traga-me uma cerveja para beber agora e pode trazer também uma água, um Ice Tea e...que queres beber Calita?
Mãe: Pode ser vinho.

A senhora afasta-se e traz a carta dos vinhos. Entram mais seis pessoas para almoçar, que também cumprimentam a senhora efusivamente. A mãe levanta-se para embalar o bebé. O outro anda de um lado para o outro no restaurante. A mãe regressa à mesa e fica com o bebé ao colo.

Mãe: O Quitério diz que este restaurante tem uma lista de vinhos fenomenal, com 150 tintos.
Pai (enquanto tenta dar a sopa ao filho): Onde viste isso?
Mãe: Está ali na parede. Quem cozinha é o Sr. Correia, parece que veio de Sagres aqui para Vila do Bispo. A senhora deve ser mulher dele.
Pai: E o Quitério gostou disto?
Mãe: Acho que sim, mas a primeira metade do texto conta a história de Vila do Bispo, e o resto tive de ler à pressa. Acho que vou montar o carrinho a ver se o Nicolau adormece.

A mãe levanta-se monta o carrinho e empurra-o de um lado para o outro. Chega a comida. A filha entorna a bebida. O filho esperneia no colo do pai. A mãe bufa.

Pai: Achas que vale a pena ficar assim?
Mãe (a deitar fumo por todos os lados): Não gosto disto. Não gosto disto, percebes?

É assim a vida

13.8.11
"Ai, minha senhora, dão tanto trabalhinho a criar quando são assim pequeninos. Depois ficamos velhos e nem olham para nós". Eu disse que sim, que era verdade, mas que é mesmo assim a vida (quando quero consigo dizer coisas muito acertadas) e lá segui com o Nicolau no sling.
E fiquei a pensar que desde o princípio dos tempos os filhos são um empecilho para os pais, as razões é que vão variando.

Perguntas que não me saem da cabeça

12.8.11
Sou só eu que preciso de ajeitar os mamilos, depois de apertar o sutiã, para não ficarem um para cada lado?

A galope trálálá

5.8.11

cavalo, originally uploaded by panados e arroz de tomate.
Depois de fazer duas almofadas simples para os gatos se deitarem, numa tentativa que adivinho frustrada de fazer com que deixem as nossas em paz, aproveitei o desenho de um tecido para fazer este cavalinho.
Não há nada como fazer este tipo de experiências para valorizar, ainda mais, o trabalho das pessoas que se dedicam a isto. Um bem haja para a Matilde BeldroegaRosa Pomar e outras(os) que façam coisas tão bonitas e bem feitas como elas.

Coisas boas de Lisboa 7

5.8.11
Viver na mesma rua que o Agualusa.

E agora uma coisa completamente diferente

3.8.11
Deixemos, então, o formato campesino e voltemos à metrópole para falar de sociologia (adoro esta coisa de puxar pelo meu provincianismo e depois armar-me com o intelecto, o pouco que consegui cultivar, vá).
Então é assim: queria deixar um aviso às futuras Elisabeth Badinter (para quem não quer abrir o link esta é a senhora que escreveu a história do amor maternal do séc. XVIII ao séc. XX e, mais recentemente, o livro que diz que as mulheres estão a ser oprimidas pela tendência actual de amamentar os filhos até quando estes quiserem, de usar fraldas ecológicas, etc.) e explicar-lhes que sou feminista e mãe.
Assim como Elisabeth Badinter explica no seu O Amor Incerto que a tendência para as mães entregarem os seus bebés a amas de leite, no século XVIII, mostra o desinteresse das mães em relação aos seus filhos, não tenho dúvidas que daqui a 50 anos as seguidoras da filósofa francesa digam o mesmo das mães que "abandonavam" os seus  filhos em creches durante dez horas por dia.
É verdade que a prática do século XVIII provocou a morte a milhares de crianças (o livro revela os poucos dados que existem sobre o assunto e ainda assim são assustadores) e a prática dos finais do século XX ainda não revelou, até ver, malefícios de maior, mas de qualquer maneira o desinteresse, ou neste caso o interesse nas crianças pode ser questionado e com justa causa.
Sim, há pais que não podem fazer nada em relação a isso. Sim, a taxa de natalidade diminuiu brutalmente porque os pais não podem cuidar dos seus filhos. Sim, há muitas razões válidas para deixar um bebé de 4 meses (às vezes menos) num berçário dez horas por dia. Mas há também desinteresse. Falta de vontade em procurar alternativas. Aceitar as coisas como são, porque sim, porque é mais fácil.
Por isso, senhora filósofa do futuro, eu deixei de trabalhar para poder educar os meus filhos, mas não me sinto pressionada pelas tendências actuais (antes pelo contrário, aqui ainda se valoriza quem trabalha e não quem fica em casa). Simplesmente decidi que a ter filhos teria de ser mãe deles e não acho que isso me torne menos mulher, ou menos profissional. É claro que só eu e uma centena de pessoas pensa desta forma, mas mesmo assim fica aqui o registo para incluir no seu livro.
Obrigada.

P.S eu e mais algumas pessoas estamos a tentar fazer a diferença nesta matéria. Quem achar por bem fazer o mesmo é responder ali ao inquérito na coluna ao lado. Agradecida mais uma vez.

Foi um arejo que lhe deu

2.8.11
Visto isso ao Zé Mouco deu-lhe um arejo. Foi há 36 anos, em Maio, no  dia 13. Nesse dia o arejo atingiu o Zé Mouco e o Tino da ti' Zamira, ao mesmo tempo, mas em sítios diferentes da aldeia. O Tino morreu passados três dias e o Zé ficou surdo a partir desse momento. O arejo é uma coisa que passa e atinge as pessoas que estão no caminho. Foi assim que a Lina Vieira ficou manca, por exemplo.
E eu ouço estas coisas e acho normal. Apesar de me perguntar como é que um homem de vinte e poucos anos fica surdo de repente, deixo-me ficar com a explicação do arejo e pronto. Se calhar, afinal, sou um pouco daqui.

E assim se perde a vontade de conviver com a família

1.8.11
A boda foi bonita. O meu irmão mais novo e a sua noiva estavam muito felizes. A minha mãe estava como nunca a vi. A minha avó igual a si própria (a controlar quem come o quê) e toda a gente a bailar e a comer e a beber que é como deve ser um casamento. Mas eu não consigo deixar de pensar no que me disserem quase todos os meus tios: "Eh lá, quase não te conhecia, estás gorda!". Já não sabia o que era estar no meio de gente sincera, dessa boa gente com o coração na boca, da minha gente.