Deixemos, então, o formato campesino e voltemos à metrópole para falar de sociologia (adoro esta coisa de puxar pelo meu provincianismo e depois armar-me com o intelecto, o pouco que consegui cultivar, vá).
Então é assim: queria deixar um aviso às futuras Elisabeth Badinter (para quem não quer abrir o link esta é a senhora que escreveu a história do amor maternal do séc. XVIII ao séc. XX e, mais recentemente, o livro que diz que as mulheres estão a ser oprimidas pela tendência actual de amamentar os filhos até quando estes quiserem, de usar fraldas ecológicas, etc.) e explicar-lhes que sou feminista e mãe.
Assim como Elisabeth Badinter explica no seu O Amor Incerto que a tendência para as mães entregarem os seus bebés a amas de leite, no século XVIII, mostra o desinteresse das mães em relação aos seus filhos, não tenho dúvidas que daqui a 50 anos as seguidoras da filósofa francesa digam o mesmo das mães que "abandonavam" os seus filhos em creches durante dez horas por dia.
É verdade que a prática do século XVIII provocou a morte a milhares de crianças (o livro revela os poucos dados que existem sobre o assunto e ainda assim são assustadores) e a prática dos finais do século XX ainda não revelou, até ver, malefícios de maior, mas de qualquer maneira o desinteresse, ou neste caso o interesse nas crianças pode ser questionado e com justa causa.
Sim, há pais que não podem fazer nada em relação a isso. Sim, a taxa de natalidade diminuiu brutalmente porque os pais não podem cuidar dos seus filhos. Sim, há muitas razões válidas para deixar um bebé de 4 meses (às vezes menos) num berçário dez horas por dia. Mas há também desinteresse. Falta de vontade em procurar alternativas. Aceitar as coisas como são, porque sim, porque é mais fácil.
Por isso, senhora filósofa do futuro, eu deixei de trabalhar para poder educar os meus filhos, mas não me sinto pressionada pelas tendências actuais (antes pelo contrário, aqui ainda se valoriza quem trabalha e não quem fica em casa). Simplesmente decidi que a ter filhos teria de ser mãe deles e não acho que isso me torne menos mulher, ou menos profissional. É claro que só eu e uma centena de pessoas pensa desta forma, mas mesmo assim fica aqui o registo para incluir no seu livro.
Obrigada.
P.S eu e mais algumas pessoas estamos a tentar fazer a diferença nesta matéria. Quem achar por bem fazer o mesmo é responder ali ao inquérito na coluna ao lado. Agradecida mais uma vez.
Eu também pertenço a essa centena. E olha, vou ser sincera, acho que só não o faz quem não quer. Quantas mulheres andam a ganhar um ordenado para depois o dar quase todo a uma creche? Demasiadas. E no fim do mês: nem dinheiro, nem acompanhamento dos filhos. Eu chego ao fim do mês sem ordenado, mas riquíssima de muitas outras maneiras. :)
ResponderEliminarEu vivo num sítio onde pago 120€ por mês à creche da miúda (2 anos) e 180€ à escola do miúdo (8 anos). Ganho 1000€ e ainda pago 200€ ao banco pela casa. Só vivo do meu rendimento. Em regime monoparental. Estive nestes últimos 2 anos em redução de horário laboral por estar a amamentar. Portanto, às 15h30 podia estar em casa se quisesse (porque vivo 2min do trabalho) mas não queria, porque a praia e os parques também ficam todos muito perto, de pé ou de carro.
ResponderEliminarAssim sendo, vivo no intermédio do ideal. Há lugares em que isto é possivel...
p
Isso, p, é exactamente o que quero dizer. Podes ser mãe (que é diferente de ter filhos), ter um emprego e, se te apetecer, namorado. Os meus Parabéns, é o que te digo (podia dizer que tens sorte e mais não sei, mas a sorte favorece os audazes, não é uma coisa que cai do céu).
ResponderEliminarNeste país, não dá para negociar coisas com as empresas. Não dá porque as empresas não querem saber das mães, porque os outros trabalhadores não querem saber das mães, porque as mães são diferentes e nem todas querem estar mais tempo em casa e não há uníssono, porque se valoriza mais a aparência do que a produtividade e é bem visto quem está no trabalho mais tempo, mesmo que esteja a coçá-los. Eu sou a favor de tudo, tudo, tudo o que melhore a vida das famílias e torne os pais e as mães mais felizes no trabalho. Mas não dá, a não ser talvez em raríssimas excepções, para ter horário parcial ou flexível. A não ser que se trabalhe por conta própria. O meu objectivo neste momento é conseguir fazer isso, dê lá por onde der.
ResponderEliminarPensei muitas vezes em deixar de trabalhar, fizemos as contas e não dá. Por isso, adaptei o objectivo.
Dora