O jantar

11.12.15

Sino improvisado na igreja de Laclúbar

Não sei se foi sempre assim comigo. Estou convencida que sim. É certo que quando recuo no tempo vejo-me sempre a subir a rua íngreme da minha infância com um guarda-chuva na mão, como se fosse um amuleto, e toda a gente sabe que não chove todos os dias.
Não sei se foi sempre assim, dizia, mas eu não tenho grandes dificuldades em tomar decisões que podem mudar radicalmente o rumo da minha vida. As grandes reviravoltas entusiasmam-me mais do que me assustam.
O que me custa mesmo são a pequenas reviravoltas do dia a dia, como a bicicleta que afinal não tenho, porque a pessoa que ia vendê-la já não se vai embora. As tardes de praia que não faço com os pequenos, porque ora está demasiado calor, ora aparecem crocodilos na costa. A quantidade de mangas, papaias e maracujás que iam passar a fazer parte da nossa alimentação e que acabam no congelador para não apodrecerem. O quilos a mais que iam desaparecer e que afinal estão todos cá e mais alguns. As refeições no pátio que nunca acontecem.
Enfim, é com as pequenas coisas que nem sempre me entendo. O que não me impede de pegar numa cana de bambu e fazer seis pauzinhos, descascar tamarindos e inventar um molho para temperar o peru, e fazer espetadas para o jantar.

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