E depois do incêndio

21.11.13
Ia para o campo. Tinha uma casa com alpendre, com móveis recuperados e improvisados. Os rapazes corriam livres e, aposto o que quiserem, nus todos os dias. Iam buscar ovos à capoeira e atiravam pedras às cabras, ou talvez atirassem os ovos, era para o que lhes desse. A rapariga dançava no alpendre e escrevia peças de teatro. Vinha uma camioneta buscá-la para a levar à escola, ou talvez fosse de burro. Nós os dois abraçados e felizes na rede pendurada no alpendre, ou a beber um copo de vinho à lareira, com os pequenos já aconchegados.
E depois eu haveria de dizer algures que aquilo não era vida. Que a casa estava sempre cheia de lama, que estava farta de pisar merda de galinha, que já não aguento cozinhar nem mais uma abóbora e que preciso da cidade para ser feliz.

10 comentários:

  1. "Que a casa estava sempre cheia de lama" - vou ali cortar os pulsos e já volto. Não, ainda não vou porque ainda não piso merda de galinha (forricas, para ser mais precisa) porque ainda não as tenho.
    Mas ás vezes faz-me falta um bocadinho de cidade, sim.

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  2. Ah, fossem todos os piromanos gente de visão como tu !

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  3. Será isto?

    Esta insatisfação, não consigo compreender, sempre esta sensação que estou a perder . Tenho pressa de sair, quero sentir ao chegar, vontade de partir pra outro lugar

    Vou continuar a procurar o meu mundo, o meu lugar porque até aqui eu só

    Estou bem aonde não estou porque eu só estou bem aonde eu não vou porque eu só estou bem aonde não estou porque eu só estou bem aonde não vou porque eu só estou bem aonde não estou...

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  4. É obvio! Alem disso, no campo as tascas mais atraentes para ti estao a meia duzia de km e nao ha eletricos para circular.... :)

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  5. Usando da minha experiência de vida diria que o único problema é não termos a possibilidade de nos movimentarmos entre campo e cidade de acordo com as necessidades do momento. A aparente inconstância que as pessoas (de si para consigo ou de outrém para com elas ou delas para com os outros em geral) sentem chama-se necessidade vital de mudança, que pode afinal significar 20/30Km, não mais.

    Eu dava tudo pelo cheiro do mar, neste momento, o que me parece muito natural e muito humano e muito legítimo. Depois, voltava às estevas e, se possível, iria snifar uns escapes dentro de 2 meses :)

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  6. Viverei eternamente o mesmo dilema. Na dúvida, vou cismando na cidade, que sempre tem jardins e muitas auto-estradas para o campo.

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  7. Acho que foi o Eça que disse que o ideal é uma casa no campo com uma porta de serviço para o Chiado.

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    1. Gostei da solução da Joana Jordão, e Calita, os eternos insatisfeitos, são aquela que procurar, questionam, confrontam-se... é "triste" mas é assim... acho q entedes o que quero dezer! :)
      bjos

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