Do que nos apetece

29.10.12
Sim, talvez fosse de bom tom a Beatriz estar educada para levantar e pôr a mesa sem ser preciso pedir-lhe, ou arrumar o quarto dela sem ameaças, ou apanhar coisas do chão em vez de as empurrar para o lado. Mas os bons tons, enfim, combinam mal comigo. É óbvio que é importante ela ter noção que precisa de colaborar, que as coisas não aparecem feitas por magia e, sobretudo, que a auto-suficiência é tão importante como uma licenciatura antes de Bolonha. Mas, confesso, não consigo ficar zangada quando ela se põe a fazer um filme com fotos de família no computador em vez de arrumar o quarto. Sinto, até, uma ponta de orgulho. E, muitas vezes, recrimino-me por disparatar com ela quando estou aflita, com um no banho e o outro a atacar a despensa, enquanto ela está sentada a ler um livro, porque nada deveria ser mais importante do que ler um livro, mas, enfim, nem sempre podemos fazer o que nos apetece e também é preciso aprender isso.

Mas (e talvez eu esteja apenas a rejeitar o modelo com que fui educada) não consigo evitar educá-los a acreditar que fazer o que nos apetece não tem de ser necessariamente mau. 
Se fosse mau, hoje não me teria cruzado com um parágrafo de Moby Dick, no livro "A Terra Vista da Terra" de Seth Stevenson e recordado o que levou Chatwin a torna-se um escritor de viagens, num dos prefácios do livro "Diário de uma Médica em Moçambique ". Isto porque passei duas horas na Fnac, só porque sim (todas as Fnac têm uma sala de leitura com música clássica, como a do Chiado?). E ainda fui à biblioteca Camões ler um bocadinho da entrevista ao Manoel de Oliveira no JL. Tenho de lá voltar para ler o resto. E depois, nem de propósito, ainda dou com este post da Dora.

2 comentários:

  1. Olha que devoro livros (quase todos de biblioteca!) desde que me conheço e até me considero relativamente culta (cof-cof-ahem) e só me lembro daquela tira da Mafalda em que a Susaninha diz que quer ter muitos vestidos, a Mafalda diz que quer ter muita cultura, a Susaninha pergunta: Podes sair à rua sem cultura, mas podes sair sem vestidos?-A Mafalda prega-lhe um estalo e pensa: é muito difícil bater em quem tem razão... pois, o Bruce Chatwin viveu noutro tempo e numa família que lhe proporcionou (de certa maneira) que fizesse o que quisesse da vida... Agora nem com uma licenciatura de pré-Bolonha (paga com o meu sangue, suor e lágrimas, não com o dinheiro dos papás) podemos fazer o que queremos na vida, só se for para morrer de fome...

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    1. :) ai a Mafalda, a maior filósofa de todos os tempos...

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