Carimbo

28.2.25

Carimbo é uma daquelas palavras que se torna mais agradável no plural do que no singular. Carimbos remete-nos para brincadeiras, trabalhos manuais, objectos bonitos. Há toda uma estética à volta dos carimbos. Carimbo é uma coisa burocrática, é sempre preciso um carimbo em documentos supostamente importantes. No singular somos remetidos para a parte aborrecida da vida. Em qualquer dos casos trata-se de deixar uma marca, que é o que significa kirimbu, a origem de carimbo (estou muito curiosa para saber se alguém vai abordar a escravatura, apostaria na Maria João).

Eu nasci com uma marca, um sinal no lado esquerdo da testa. Tal como a fantástica Phoebe Waller-Bridge e a maravilhosa Greta Gerwig, de quem já tinha falado aqui. Portanto, não será descabido assumir que quem nasceu carimbado tem fortes probabilidades de ter sucesso na sétima arte (continuo infantil q.b, como se pode ver).

Tenho ido muito pouco ao cinema, infelizmente, mas decidi ir ver o filme da Bridget Jones (é o meu Guilty Pleasure, não me consumam). É claro que gostei e fartei-me de chorar. Vai-se lá perceber!

Também ia chorando quando percebi que tinha trocado o tema desta semana, mas decidi praguejar e acabei por ver vantagens em ter o próximo tema arrumado.

Para ver os restantes carimbos é só seguir os links, onde poderão confirmar que apostei mal:

A Gata Christie 

Gralha Dixit

A curva

Boa Intenções

O Blog Azul Turquesa

Teias de aranha

20.2.25





Tinha acabado de decidir recomeçar a escrever no blog quando fui convidada para me juntar ao grupo que todas as semanas escreve sobre um mesmo tema. Pareceu-me uma sincronicidade daquelas e aqui estou. Gostava de escrever mais, sem pensar em temas, mas escrever é escrever, não vamos complicar. Além disso, todos os assuntos cabem numa vida, ou a vida cabe em todos os assuntos.

Incluindo as teias de aranha, ou sobretudo as teias de aranha. A imagem que me surgiu, não sei se é só a mim que acontece ver o que estou a pensar, foi a de uma teia de aranha linda, que fotografei num dos passeios pelo Minho, e que desapareceu do meu instagram, mas depois fui alertada para a que tinha aparecido no tecto, por cima da lareira (outra sincronicidade?), aquela ali em cima.

Não sei como aconteceu. Não sei se foi crescendo, ou se apareceu de um dia para o outro, sei é que aquele emaranhado de fios enegrecidos pelo fumo da lareira (suponho) deixou-me de boca aberta. Durante uns dias, sim deixámos ficar ali a teia, assistíamos às andanças da aranha e à não vida dos mosquitos que ficavam presos, completamente fascinados. Num dos dias, quase consegui ver-me ali, como uma aranha (elas aparecem quando menos espero), num universo paralelo (e assim se traz à baila o Homem Aranha, porque não se pode falar de teias de aranha e esquecer o super-herói), 

Também me lembrei do Asle, da septologia de Jon Fosse, porque me parecia que se ficasse a olhar muito tempo para aquela teia emaranhada e enegrecida, como o Asle ficava a olhar para o ponto de referência no Lago Sygne, conseguia ver-me em tempos diferentes, no mesmo sítio.

Talvez as teias de aranha escondam uma mensagem secreta, um caminho para o que há de mais sagrado. Talvez estes antrópodes andem a aprimorar as teias há milhares de anos e nós continuemos sem saber o que querem dizer. Sempre à procura de respostas quando estão à nossa frente.

A Rita,  Maria João e a Carla já publicaram as teias de aranha lá de casa. A Mariana e a Joana, também.

Atraso de vida

14.2.25

Atraso de vida parece uma coisa negativa, não parece? Ser um atraso de vida é andar sempre a empatar a vida dos outros por raramente conseguir chegar a horas a algum sítio, ou cumprir prazos, mas desde que regressei à aldeia onde nasci (e de onde sempre quis sair) (e continuo a querer), apercebi-me que atrasar a vida é uma arte.

Não é preciso olhar para o relógio, a não ser que se tenha de apanhar um autocarro e o mais provável é que ele já tenha passado, porque aqui os transportes públicos passam à hora que lhes dá jeito. Dizia que não é preciso olhar para o relógio, porque os momentos que marcam o dia são o acordar, o almoço, ir buscar as criança à escola, quando é caso disso, e o jantar. Se for preciso gasta-se uma manhã no talho, ou na padaria, porque encontram-se quase sempre pessoas com quem deitar conversa fora. Deitar conversa fora é outra expressão que parece menorizar a conversa, mas toda a gente sabe que libertarmo-nos de assuntos é meio caminho andando para a saúde mental.

Aqui as pessoas têm jardins, ou canteiros, de onde colhem as flores para enfeitar as campas do cemitério. E demora-se o tempo que tiver de demorar. Eu já fiz isso com as orquídeas da minha mãe e as japoneiras da casa da vizinha, a mesma casa que teve galinhas criadas pelo Jaime. Na próxima folga vou procurar jarros, há muitos sítios onde crescem espontaneamente. 

Ninguém chega atrasado a lado nenhum. Ninguém falta as compromissos, porque não os têm, a não ser as consultas médicas. O resto dos afazeres fazem parte da vida e vão sendo feitos ao longo do dia. Enquanto não chega a noite vai-se atrasando a vida para durar mais. 

Nos últimos meses tenho tentado imitar este ritmo, apesar de ter um cartão que marca as horas a que entro e saio do emprego, e essas horas, muitas, demasiadas horas, não contam para a minha vida, servem para pagar as contas. As outras horas, sim, são minhas e não quero fazer nada com elas. Quero ser um atraso de vida. 

Há mais atrasos de vida na rede:

A curva

Boas Intenções

A Gata Christie

O Blog Azul Turquesa

Gralha Dixit

Espelho meu

7.2.25

Eu: Espelho meu, espelho meu …

Espelho: Sim, existe

Eu: Nem sequer sabes o que ia perguntar

Espelho: Quantas pessoas achas que há no mundo? Não vale ir ao google

Eu: Oito bilhões

Espelho: Eu sei que foste ao google. Desses oito bilhões não te parece provável que exista alguém que corresponde ao que ias perguntar?

Eu: Ia perguntar se ainda vou ver, no meu tempo de vida, pessoas sérias a governar o nosso país em vez de palhaços

Espelho: Ninguém vem perguntar ao espelho esse tipo de coisas. Já perguntaste ao ChatGpt?

Eu: Já, a resposta foi: "Compreendo a frustração que você pode estar sentindo, principalmente quando há uma sensação de que os líderes políticos não estão à altura das expectativas ou das necessidades da sociedade. A política pode parecer, em muitos momentos, um cenário de incertezas e desilusões.

Embora seja difícil prever como as coisas vão evoluir, sempre há a possibilidade de mudanças e de pessoas sérias assumirem a liderança, seja por meio de novos movimentos, partidos ou uma renovação na forma como a política é feita. O importante é continuar atento, engajado e, sempre que possível, participar ativamente do processo democrático. Às vezes, até as pequenas ações e escolhas individuais podem influenciar o futuro.

Você acredita que há esperança para isso acontecer no curto prazo ou acha que as mudanças podem demorar mais para surgir?" 

Espelho: Olha, o ChatGpt responde com perguntas, ao contrário de mim

Eu: Mas mencionou a importância de participar ativamente no processo democrático

Espelho: Sim, sim, mas continuo sem perceber por que estás a falar comigo sobre isso

Eu: Quando dizes comigo referes-te a quem?

Espelho: A ti

Eu: Não, nada disso. A pessoa no espelho é...não sei bem quem é

Espelho: Pois, compreendo, mas a pessoa no espelho é a pessoa que todos vêem

Eu: E eu posso ser a pessoa que quero que vejam?

Espelho: Pergunta ao ChatGpt

Não gosto de espelhos. Nem gosto que me 'mentem', como diz o artista gaiense, David Bruno. 


O sítio que vai albergar os textos das pessoas que se juntaram para escrever ainda não está pronto, por isso ficam aqui os links. De nada. 

Boas Intenções

A Gata Christie

O Blog Azul Turquesa