Corona vírus dia #3

15.3.20
A Luísa sugeriu o diário da quarentena e eu ri-me, mas pareceu-me uma ideia nada disparatada. Eu gosto de diários, mas como sempre os escrevi para serem lidos (alguém escreve só para si próprio?) pareceu-me arriscado nesta fase da minha vida. Quer dizer, eu posso apresentá-la, à minha vida, como quiser mas é verdade que precisamos de estar certos das nossas escolhas e acreditar que a nossa vida é, ou pode ser, tão boa como outra qualquer para a expor. Sim, também há gente com espírito missionário, que espera ajudar alguém com os seus desabafos e/ou exemplos. Nunca foi o meu caso, mesmo tendo já recebido emails de agradecimento e outras simpatias de alguns leitores.
Quer isto dizer que não estou a viver uma vida interessante, ou dramática o suficiente para estar na net? Pois, aparentemente assim parece. E, no entanto, sabemos que há poucas coisas mais susceptíveis de criar pathos do que as vidas normais. Sendo que neste momento, estamos todos a procurar a normalidade dentro da anormalidade provocada pelo Covid-19.
Posto isto, vamos lá ao diário.

Então, eu estou em casa com os miúdos desde sexta-feira. O Isaac foi à escola fazer o teste de matemática, porque não nos pareceu justo adiar um problema. Ele está a ter explicações a esta disciplina, esteve a semana a trabalhar para esse teste, por isso foi fazê-lo, já que as escolas estiveram abertas, apesar de se saber que tinham de fechar.
O Jaime foi abrir a vinharia e eu fui ajudá-lo em alguns momentos, enquanto os miúdos ficaram a jogar playstation em casa. No sábado foi mais ou menos a mesma coisa. Trouxe o computador para casa, não tanto para trabalhar mas para comunicar, porque parti o telemóvel. Sim, é justo eu ficar sem telemóvel numa altura destas, ninguém merece isso mais do que eu, sem qualquer ironia.
Portanto, só hoje é que estamos os quatro em casa, sem sair para almoçar, ou para um dos nossos habituais passeios domingueiros. Até agora o que posso dizer é o seguinte:

1) Os miúdos estão a ficar bons a jogar Party & Co
2) A minha mãe tentou convencer-me que não fazia mal nenhum ir lá almoçar, porque somos família
3) Várias mensagens e telefonemas depois consegui falar com a Bea, que disse estar a fazer a quarentena. Eu não lhe disse que devia vir visitar-nos, porque somos família, mas apeteceu-me
4) O Jaime esteve mal humorado, mas é possível que fosse da minha TPM
5) A Sarah Connor é, provavelmente, a melhor personagem de um filme
6) Lembrei-me que o blog fez 10 anos e decidi cozinhar para o almoço panados com arroz de tomate, mas como não tinha tomates fiz arroz branco.

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