No outro lado

26.2.19
Sempre que estou sozinha, adoro sorver a sopa, sobretudo se for canja como é o caso, agora.
Acho que é um tipo de alimento que convida a ser sorvido, que querem? Assim como a maior parte das sopas asiáticas, parecidas com alguns dos nossos caldos, se excluirmos os temperos.
Não sei exactamente qual a cena, mas nunca mais me esqueci de um homem a sorver a sopa num filme de Zangke Jia e na minha vida do outro lado do mundo adorava observar as pessoas a comer.
Ora bem, a minha avó sempre comeu sopa sorvendo-a e nunca viu filmes alternativos, nem comeu PhosTom Yums, ou Mi Gorengs, portanto isto pode ser só um reflexo da minhas origens ''jabardas'', lá está!
Em Timor havia  a água sal, uma sopa de peixe muito dada a sorvos ruidosos. Chama-se assim, porque é o que é: peixe e ervas em água e sal. E voltei a sentir-lhe o sabor quando ouvi o Luís Cardoso no Correntes d' Escritas. 
Este ano não consegui assistir a quase nada do que aconteceu no festival literário, por isso ter ido parar às apresentações da mesa 7 foi uma sorte. 
Não havia água sal no texto de Luís Cardoso, havia uma varanda onde estava alguém sentado à espera, havia outra pessoa que deveria chegar para plantar abóboras, havia uma neblina que parecia sumaúma (o ai-lele), um lugar distante que se chamava mar mutin (mar branco traduzido à letra) e o café dos liurais (chefes)Durante uns minutos fui completamente transportada para a ilha que ainda sinto um bocado minha e continuo por lá, agora, a sorver a canja com as aimanas (molho picante) feitas pela Domingas. 

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