Momentos avassaladores

13.11.18

O sofá tem pouco mais de seis de meses e está cheio de manchas, por baixo dele há sempre uma colecção de bolas, carros, restos de bolachas, desenhos e objectos não identificados, o pó resiste, camada a camada, às correntes de ar provocadas pelas corridas deles pela casa, possivelmente haverá vomitados secos da gata em sítios pouco acessíveis à vista, a roupa anda a passear, dentro de sacos, entre casa e a lavandaria e o forno, enfim, precisa muito de umas valentes esfregadelas, mas eu estou aqui a sentir-me a Leeloo, ainda sob o efeito do fim-de-semana.
Eu sei que estou perante uma coisa avassaladora de bonita quando me apetece chorar e, como é fácil de perceber, é raro acontecer. Mas no domingo tive não um, mas dois desses raros momentos. O primeiro a caminho do Alentejo, sob um céu carregado de nuvens que começam a dissipar-se, deixando um pequeno túnel de luz no fim da estrada vazia de carros, no exacto momento em que começa a ouvir-se Rufus Wainwright na rádio (obrigada Inês Meneses). A sério, não consegui conter-me, coisa que, felizmente, consegui mais tarde a provar o primeiro vinho do XXVI Talhas, e a ouvir o produtor falar da adega do avô. Ok, já tinha provado alguns vinhos (sem usar a cuspideira que, aliás, tinha aprendido a usar no dia anterior, no Palácio da Bolsa), quase todos muito, muito bons, mas aquele momento, lá está, foi avassalador.
Há outras formas de resistência, esta é a que eu escolho. Procurar viver momentos assim.

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