Meu querido mês de Julho

12.7.16
A viagem a Portugal, com uma visita a Amesterdão, mais uma semana sem carregador do computador foram excelentes pretextos para me manter afastada daqui. Não tenho tido vontade de escrever no blog não sei ao certo porquê. Mas tenho de arranjar uma forma de o fazer, porque há coisas sobre as quais tenho mesmo vontade, ou necessidade, de escrever. Os olhos a lacrimejar na sinagoga portuguesa, em Amesterdão, e um encontro casual com uma amiga no sítio mais improvável da capital holandesa é uma delas. O facto de terem cortado o pescoço do meu cão, em Díli, enquanto a minha mãe me sugeria eutanasiar os meus gatos por causa do pêlo e do vomitado espalhados pela casa, e do tanto que isso diz sobre as duas realidades em que vivo, é outra.
Mas há mais. Haveria muito a dizer sobre os braços magros da minha avó e da pele tão transparente que deixa à mostra a vida a correr-lhe nas veias. Sobre  o reencontro com algumas das minhas amigas, ou o sabor do feijão verde que acompanha as batatas e a pescada cozida. Sobre a temperatura amena do meu país, nesta altura do ano, e a água gelada do mar da Costa Nova. Sobre a coach mental do Éder, a traça pousada no rosto do Ronaldo e as notícias que me chegam de Díli a respeito dos festejos da vitória de Portugal. Sobre o tratado filosófico que é uma viagem pelas estradas nacionais, ou o tão em voga mindfulness que consigo atingir enquanto subo as centenas de degraus do monte da minha aldeia. Sobre o quão mais fácil é viver no mesmo fuso horário que as nossas pessoas.
Talvez um dia destes eu consiga vir aqui escrever sobre isto tudo, ou talvez não escreva e pronto. Precisar de escrever é uma coisa e precisar de público é outra. E nem sempre é fácil distinguir as duas coisas. Acabamos viciados na escrita, na decomposição do nosso sentir, sem termos bem a noção de que o verdadeiro vício é o reconhecimento, mas esse é o drama de todos os exibicionistas, certo? (há quem lhes chame artistas, mas o meu pudor barra modéstia barra insegurança quase doentia não o permite).
Talvez esta fase da minha vida exija um outro tipo de registo, não sei. Vamos indo, vamos vendo. Enquanto isso obrigada a quem está desse lado.