Amigos imaginários

18.10.14
A minha avó - que até há pouco tempo conseguiu esconder que sofria de incontinência, para não ser obrigada a usar fraldas - gosta de salientar muitas vezes que sou devota de S. Felix. Eu não nego, porque sei que é a única forma de ela continuar a achar que não me afastei para sempre dos caminhos da fé.
E é verdade que em tempos S. Félix foi o meu amigo mais ou menos imaginário.
Eu vinha da escola, com o meu guarda chuva não sei de que cor, e pedia-lhe (ao santo, não ao guarda chuva) para fazer com que a minha mãe estivesse bem disposta quando eu entrasse em casa; Ou que me ajudasse a lidar com a caxineira da escola que me humilhava todos os dias e me punha a chorar no recreio da secundária, como se eu fosse um bebé de três anos. E ele, como bom amigo, ajudava-me.
Eu só lhe pedia ajuda em casos extremos e a única vez em que recorri a outra "amizade" foi quando o meu pai morreu. Nessa altura pedi à nossa senhora de Fátima, uma vez que ele morreu numa viagem ao santuário, que fizesse o enorme favor de não o deixar morrer, mas quando lhe fiz o pedido ele já estava morto, só que eu ainda não sabia.

(este intervalo, provavelmente só necessário para mim, é para passar aos dias de hoje)

Amanhã é sábado e os miúdos costumam ter natação aos sábados, às 9h da manhã. É o pai quem costuma ir com eles, mas não está cá e eu esqueci-me de depilar as pernas e de experimentar o fato de banho, que já não deve servir-me.
Assim de repente não me ocorre nada menos agradável do que começar o dia a acordar cedo, vestir um fato de banho que mostra todas as misérias e levar dois putos bem dispostos, muito, muito bem disposto, até à piscina.
Mas eis que o telefone toca - e eu atendo - para me dizerem que amanhã não há natação (será que ainda tenho amigos mais ou menos imaginários? Se assim for, preciso muito de ajuda para explicar que me servi da ficha de leitura do Isaac como base de copos).
A verdade é que muitas vezes sinto falta dessa comunhão. Dessa sensação de pertença, que revi no filme da Helena (tenho de falar deste grande momento cinematográfico num outro post), mas suponho que ainda terei de dar umas quantas voltas de carrossel até saber quando parar.

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