Brindemos

14.9.14
Vamos fazer de conta que eu sou uma pessoa que telefona aos amigos quando precisa de conversar. Que pede um abraço. Que diz o que a desassossega com facilidade. 
Pegava no telefone, ou sentava-me numa mesa de café e dizia o quê? que tenho uma bolha atrás da orelha que me dói muito; que me fui pesar e efectivamente engordei - três quilogramas num mês, disse a balança -; que tenho um bocado de dente, que ficou perdido na última extracção, a sair e a ferir-me indecentemente a gengiva; que tenho de me convencer, de uma vez por todas, que não fiz nada para merecer a penitência que é aturar a minha mãe; que cheiro muito mal dos sovacos, um fedor que não reconheço como meu; que fui ao hospital e que a médica me disse que achava que estava tudo bem, mas era melhor fazer uma ecografia "lá fora", porque com o aparelho que tinha não conseguia encontrar o DIU; que me cansam os filhos; que o amor não assiste; que me doem as mamas e a unha do dedo mindinho; que já não sei se sei sonhar; que tenho medo; que quero rir-me muito e muitas vezes?
São merdices que não contam para nada no somatório de todas as coisas. São merdices que merecem pouco mais que um brinde. Talvez uns três, ou quatro. Ou cinco, pronto.

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