Os meus dias já não são passados com uma ou duas crianças em casa. Entre as 8h00 (ou 8h45 se for eu a levá-los à escola, o que é raro) e as 16h00 não os vejo. E, espantem-se, os meus dias ainda não estão assim tão melhores. Continuo a não querer acordar de manhã; a olhar para mim ao espelho e a perguntar-me quem caralho é aquela pessoa; a roer as unhas e a arrancar peles dos lábios; a bater em castelo ódio e misturá-lo com amor, ou vice-versa; a vestir a mesma roupa quatro, ou cinco dias seguidos (calma, a roupa de dentro é sempre lavadinha), porque a roupa do dia anterior não tem aquela goma nojenta e desconfortável da roupa lavada, que me faz sentir num colete de forças; continuo a ver desfocado, mesmo com óculos, e um bocado embaciado; a querer cuspir em cima de pessoas e a depositar toda a esperança no jantar, que há muito deixou de ser um lugar pacífico, mas continua a ser o lugar de todas as esperanças e das garrafas de vinho.
No entanto, apesar de ainda não estarem assim tão melhores - os meus dias, as diferenças já se fazem sentir, assim como beijinhos de borboleta: sou mais paciente com os pequenos, vou ao supermercado com mais frequência; passo mais tempo fora de casa; cogito menos numa forma de escapar a esta vida e começo a sentir vontade de abraçar pessoas que não conheço.
abraçar pessoas que não conheces? ui!
ResponderEliminarBoas noites, Calita. Gosto do teu estaminé, desde há uns meses valentes: sim, escreves muito bem e, às vezes, parece que estiveste cá em casa (é estranho dizer isto a alguém que nunca vi nem mais gorda nem mais magra!).Creio que quem passa muito tempo em casa com as crias acaba por viver situações semelhantes e depois, quando as crias vão para a escola também. Há mais paciência, sim e mais disposição, mas abraçar pessoas desconhecidas, isso nunca tive vontade de fazer...
ResponderEliminarGabriela
Entendam aqui o abraço como um gesto fraterno. Quando olho para as pessoas que se cruzam comigo, quando olho mesmo, há algumas que parecem trazer tanto das minhas angústias, que me apetece abraçá-las. E às vezes trazem nos olhos o olhar de pessoas da minha vida.
ResponderEliminarVontade de abraçar desconhecidos é um claro sintoma de desdepressão. Vai depressa apanhar uma chuvada no toutiço ou ainda desatas para aí a sorrir e a escrever posts com fotografias de pequenos-almoços campestres e coiso.
ResponderEliminarAHAHAHAHAHAHAHAHA não te preocupes, Gralha, estou longe da desdepressão. Isso só com medicamentos, mesmo.
EliminarHum... outra vez a falar do vinho? daqui a nada temos é post das reuniões dos AA ;)
ResponderEliminarMuito bom.
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